... "Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, reflete sobre seus interesses enquanto filósofo e sociólogo: os limites do conhecimento e da razão, bem como a relação entre a poesia e a racionalidade... Ainda, questiona a possibilidade da mudança de pensamento em um mundo globalizado e acelerado. É possível sairmos de uma visão fechada em formas particulares para o pensamento complexo, capaz de ver os problemas em sua integralidade? Conferencista do Fronteiras do Pensamento nos anos de 2008 e 2011"...
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
É preciso educar os educadores...
... "Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo"... assim disse Edgar Morin...
O Globo: Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?
Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado.
É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.
O Globo: Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?
Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.
O Globo: O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento?
Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar.
Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo.
O Globo: O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento?
Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O meu livro “O homem e a morte” é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.
O Globo: Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional?
Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente.
O Globo: A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê?
Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário.
O Globo: Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino?
Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência dessa missão.
Nacionalismo no Mundo: A teoria do dissenso...
... "No seu livro “Hispano-América contra o Ocidente”, o senhor afirma que um dos fatores que explica porque a civilização e o homem ibero-americanos são diferentes dos ocidentais e da sua atual civilização, é que os europeus que chegaram a América eram ainda medievais e, por tanto, anteriores à “Revolução Mundial”. Em que consistiu esta “Revolução Mundial” e quais as suas consequências até os dias atuais?
Falo de Revolução Mundial no mesmo sentido em que o fizeram Christopher Dawson, Hilaire Belloc, Eric Voegelin, Julio Meinvielle, Walter Schubart – no Brasil quem o fez foi Tristão de Athayde (1893-1983) – e tantos outros pensadores não conformistas. A Revolução Mundial começa com a Reforma e a instauração do primado da consciência, continua com a Revolução Francesa e a substituição da filosofia pela ideologia, segue com a Revolução Bolchevique e seus cem milhões de mortos em setenta anos e termina hoje com o Totalitarismo Democrático e a sua ideia de globalização, onde todas as culturas são intercambiáveis para a construção de um monstruoso one world.
Em sua obra o senhor afirma que o homem Ibero-americano é uma síntese entre o europeu católico e medieval e o indígena telúrico. Entretanto, este processo não é uma simples mistura, de maneira que o resultante desta síntese (o homem ibero-americano) é mais do que a simples soma de seus componentes (europeu e indígena). Poderia nos contar um pouco mais a respeito desta síntese? Quais são as principais características desse homem surgido no continente americano?
Bolívar dizia que não era “nem tão espanhol e nem tão índio” e o mesmo podemos dizer de nós mesmos “nem tão espanhóis ou portugueses e nem tão índios”. É por isso que nós constituímos o verdadeiro e genuíno povo originário da América. Essa originalidade e característica tão própria se expressa nos nossos arquétipos nacionais: o “cholo” na Bolívia e Peru, o “montubio” no Equador, o “huaso” no Chile, o “gaucho” na Argentina, o “llanero” na Colômbia e Venezuela, o “charro” para o México, o “ladino” na Guatemala, o “borinqueño” para Porto Rico e São Domingos, etc. No caso do Brasil, que é um continente, possui vários arquétipos, no sul o gaúcho, no nordeste o sertanejo, no sudeste o caboclo, e vários outros.
Nós somos uma cultura de síntese porque convergem em nós várias culturas. Os antropólogos norte-americanos falam em multiculturalismo para referir-se aos povos ibero-americanos, o que é um erro, porque nós somos, verdadeiramente, um interculturalismo.
O senhor escreveu a respeito da importância dos grandes espaços existentes na América na formação do caráter do homem ibero-americano, distinto do europeu que tem relativamente pouco espaço disponível para a sua civilização. Como a grandiosidade da paisagem americana nos ajudou a ser o que somos hoje?
O imenso, o ilimitado, aquilo que o filósofo pré-socrático Anaximandro denominou “to ápeiron”, marcou para sempre o caráter do homem sul- americano, sobretudo no Brasil e na Argentina. “O pampa, disse Drieu la Rochelle viajando com Jorge Luís Borges, é uma vertigem horizontal” e o sertão “sempre uma impressionante lonjura”.
O fato de não ver os limites fez dele um homem naturaliter livre. A solidão da imensidão fez dele um individualista, não da maneira liberal, mas um individualista fraternal, que sempre se conduziu no trato com o outro tendo como referência a ideia de hospitalidade.
Enquanto os espanhóis e portugueses fizeram a opção por uma colonização integrando os povos nativos da América, os ingleses optaram por exterminar os indígenas do novo continente e substituí-la por uma população branca, anglo-saxã e protestante. Como estas diferentes maneiras de colonizar influenciaram o caráter dos povos das duas Américas? É isso que provoca a eterna vontade dos americanos do norte de submeter todo o mundo ao “american way of life”?
Se fosse verdade que o mundo conhecido, desde o surgimento da escrita, passou por quatro éons, que são os grandes períodos de tempo em que podemos dividir as principais linhas da história, podemos dizer que o homem americano do norte encarna o éon prometeico e o ibero-americano o éon gótico-barroco. O primeiro dirige o seu olhar para a dominação da terra e o segundo o seu olhar para as alturas, que tampouco possuem limites. O homem prometeico é o arrogante titã que se rebelou contra os deuses, o astuto usufrutuário da natureza, por meio do uso do fogo. O homem gótico-barroco nas vastas planícies, sem obstáculos, percebe sua pequenez e impotência. Olha o sublime em silêncio e o atrai. Não vai contra o divino, mas se coloca a seu serviço"...
Para uma leitura completa, aqui...
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Nem esquerda, nem direita...
Por falta de quaisquer que sejam as condições argumentativas sobre política partidária, esta postagem é apenas uma sugestão de leitura, pois no meu caso estou ainda em busca duma política que esteja para além da direita ou da esquerda, que esteja comprometida com o Brasil ou o Mundo e sua gente sofrida...
... "O lúcido pensador italiano Marcello Veneziani começa um belo artigo sobre o antiglobalismo com a seguinte observação: "Se olharmos bem para eles, os anti-G8 são a esquerda em movimento: anarquistas, marxistas, radicais, católicos rebeldes ou progressistas, pacifistas, verdes, revolucionários. Centros sociais, bandeiras vermelhas. Com o complemento iconográfico de Marcos e do Che Guevara. Imediatamente darás conta de que nenhum deles põe em causa o Dogma Global, a interdependência dos povos e das culturas, o melting pot e a sociedade multirracial, o fim das pátrias. São internacionalistas, humanitários, ecumenistas, globalistas. E a acrescentar a isso: quanto mais extremistas e violentos são, mais internacionalistas e anti-tradicionais se tornam".[1]
Posto isto, a oposição da esquerda à globalização é só uma postura que se esgota numa manifestação. Seattle, Gênova, Nova Iorque, Porto Alegre, e acabou, "o mundo continua" como dizia Discepolin. É que a política do "progressismo", como bem observou o filósofo, também italiano, Massimo Cacciari, ordena os problemas mas não os resolve.[2]
Do mesmo se queixa o sociólogo marxista mais importante da América Latina, Heinz Dieterich Steffan, que num recente artigo refere: "Se a tarefa actual de todo o indivíduo anticapitalista é absolutamente clara: Porque é que a "esquerda" e os seus intelectuais não a assumem? Porque repetem, fórum após fórum, a mesma lengalenga sobre a maldade do neo-liberalismo e se contentam com as suas ritualizadas propostas terapêuticas inspiradas em Keynes, Tobin y Stiglitz? Porque não convertem a realidade capitalista em objeto de transformação anti-sistema, em vez de a manterem como muro de lamentações?".[3]
O fracasso rotundo da esquerda, hoje rebatizada de "progressismo", é que, além de não ter compreendido – deglutido será o termo exato – a derrota do "socialismo real" com a implosão soviética e com a queda do Muro, não reelaborou as suas categorias de leitura, e permanece enclausurada no mundo categorial de Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo e eventualmente Trotsky, fazendo arqueologia política.
O mais significativo do século XX, a escola neo-marxista de Frankfurt, através dos esforços de Adorno, Apel, Cohen e Marcuse, termina com o publicitado Habermas e a sua teoria do consenso (sem se aperceber que o consenso sempre foi o dos poderosos entre si), e os seus discípulos James Bohman e Leo Avritzer com a sua teoria da democracia deliberativa, que como um novo nominalismo pretende resolver as injustiças políticas, econômicas e sociais com palavras. Conversando numa espécie de assembleísmo permanente.
Se a esquerda está liquidada, o que dizer da direita? Pode-se esperar algo dela?
Da direita clássica, tanto do nacionalismo orgânico ou integral ao estilo de Charles Maurras, como do fascista de Mussolini ou do católico de Oliveira Salazar pouco permanece. Só trabalhos de investigação históricos e pequenos grupos políticos sem peso nas suas sociedades respectivas.
Resta então como direita o neoconservadorismo norte-americano e dos governos que lhe são afins. E desta direita liberal, a única que existe com peso político, só se pode esperar que as coisas piorem para a saúde e bem-estar dos povos.
Se isto é assim, denunciamos uma vez mais, de entre as centenas de vezes que o tentamos demonstrar, que a dicotomia esquerda/direita é estreita, para não dizer falsa, assumindo uma leitura adequada da realidade.
Hoje situar-se à esquerda ou à direita é não situar-se, é colocar-se num não-lugar, sobretudo para o pensador (recuso terminantemente o termo intelectual) que pretende elaborar um pensamento crítico. E o único método que hoje pode criar pensamento crítico é a divergência. Divergência não só com o pensamento único e politicamente correto mas também e sobretudo, com a ordem constituída, com o status quo vigente.
A divergência é estruturalmente uma categoria do pensamento popular, tal como o consenso, que como vimos, é uma apropriação da esquerda progressista para alcançar a democracia deliberativa que tem muito de ilustrada, e também, ainda que noutro sentido, propriedade do liberalismo como acordo dos que decidem, dos poderosos (G8, Davos, FMI, Comissão Trilateral, Bilderberg, etc.).
A divergência que se manifesta como negação tem distinto sentido no pensamento popular e no pensamento culto. Neste último, regido pela lógica da afirmação, a negação nega a existência de algo ou alguém, enquanto que no pensamento popular o que se nega não é a existência de algo ou alguém, mas antes a sua vigência. A vigência pode ser entendida como validez, como sentido. A discordância nega o monopólio da produtividade por parte dos grupos ou lobbys, para reservá-la ao povo no seu conjunto, mais além da partidocracia política.
A alternativa hoje é situar-se para além da esquerda e da direita. Consiste em pensar a partir de uma raiz, do nosso genius loci nas palavras de Virgílio. E não uma raiz qualquer, senão a das identidades nacionais, que conformam os conjuntos culturais ou regionais que constituem hoje o mundo. Com isto vamos para além inclusive da idéia de estado-nação, em vias de esgotamento, para submergirmos na idéia política de grande espaço etnocultural.
É a partir destas grandes regiões que é lícito e eficaz posicionar o combate à globalização, ou americanização do mundo. Fazê-lo como pretende o progressismo: a partir do humanismo internacional dos direitos humanos, ou desde o ecumenismo religioso como ingenuamente pretendem alguns cristãos, é fazê-lo a partir de mais um universalismo. Com a agravante que o seu conteúdo encerra um aspecto inverossímil e não eficaz na hora do confronto político.
Todavia este confronto está a dar-se de igual modo, apesar da dificuldade dos pensadores em não poderem entendê-lo ainda, através do surgimento dos diferentes populismos, que não obstante os reparos que apresentam a qualquer espírito crítico, estão modificando, como observa Robert de Herte[4] as categorias de leitura. Assim, a oposição entre burgueses e proletários da esquerda clássica vai sendo substituída pela de povo vs. oligarquias, sobretudo financeiras, sejam de esquerda ou direita, pela de justiça e segurança.
Ora, do ponto de vista da esquerda progressista a crítica à globalização limita-se à não extensão dos benefícios econômicos desta à humanidade, mas apenas a uns poucos, pois a esquerda, pelo seu caráter internacionalista não pode denunciar o efeito destruidor sobre as culturas tradicionais e sobre as identidades dos povos. A sua denúncia transforma-se assim numa reclamação formal para que a globalização esteja unida aos direitos humanos.
Em sentido contrário, é a partir dos movimentos populares que se realiza a oposição real às oligarquias transnacionais.[5] É a partir das tradições nacionais dos povos que melhor se demonstra a oposição à sociedade global sem raízes, a esse imperialismo desterritorializado de que falam Hardt e Negri. É com base na atitude não conformista que se rechaça a imposição de um pensamento único e de uma sociedade uniforme, e se denúncia a globalização como um mal em si mesmo.
O pensamento popular, quando é de fato, parte das suas próprias raízes, não tem um saber livresco ou ilustrado. Pensa a partir de uma tradição, que é a única forma de pensar genuinamente segundo Alasdair MacIntyre[6], dado que "uma tradição viva é uma discussão historicamente desenvolvida e socialmente encarnada". Pelo que se torna impossível aos povos e aos homens que os encarnam situarem-se fora da sua tradição. Quando o fazem desnaturalizam-se, deixam de ser o que são. São já outra coisa.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
A complexidade do Eu...
EDGAR MORIN: “... Recebemos a linguagem, recebemos a cultura, que se colocam no interior de nós mesmos, o que quer dizer que não somente os indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade está no interior deles."
Em vídeo inédito e exclusivo, Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, esclarece como a noção de identidade se define de uma forma dupla. Um eu singular e insubstituível e um eu comunitário, composto por uma família, pátria ou comunidade. Para compreender a identidade, Morin defende a necessidade do pensamento complexo, capaz de relacionar estes processos"...
domingo, 20 de julho de 2014
Uma História da Razão...
... "Pode-se falar em uma invenção da razão. Isso é o que diz François Châtelet. Essa forma de pensamento surgiu na Grécia Clássica, e teve sucesso esplêndido. A razão certamente é muitomais desenvolvida pelos filósofos, mas, segundo Karl Marx, esses agentes nada fazem paratransformar o mundo. Bobagem, na concepção de Châtelet. Para ele, esses estudiosostransformaram o mundo. As idéias acabaram se concretizando e, para visualizar melhor isso, basta lembrarmos a democracia ateniense. µ¶Na democracia, a palavra vai impor-se, e quemdominar a palavra dominará a cidade¶¶ (p. 16), somente isso já mostra o poder dos filósofos.É, portanto, preciso saber argumentar, e aí entram em cena os mestres, que ensinam essadestreza (sofistas que, etimologicamente, quer dizer µ¶intelectual que sabe falar¶¶).O pensamento sofístico poderia ser chamado de progressista, embora na concepção grega nãohaja a idéia de evolução; a sociedade repete sempre o mesmo ciclo. Nisso, enquadra-seSócrates que, a seu modo, é um sofista. Seu trabalho é falar com seus concidadãos, e para issonada cobra. Châtelet levanta uma questão muito interessante acerca dos debates socráticos.Para o antigo filósofo é preciso saber para quê determinado fato serve, o que se quer e o quese pretende, necessita-se saber o µ¶conceito¶¶. Somente depois se pode responder determinada pergunta. Certamente, todo esse tecnicismo de Sócrates o levou à ruína. Passou a ser odiado pelos cidadãos de Atenas, o que acabou o levando à morte. Surge, então, a filosofia platônica.Platão, assim como Sócrates, procurava realizar as perguntas, mas queria também fornecer respostas. E, seguindo os sofistas, valorizava a palavra. A filosofia platônica é, sem dúvida,uma filosofia que tenta explicar as pequenas e grandes coisas, que parte de perguntas simples.
Esse diálogo, de que se ocupa essa ciência, é a dialética. É certo que isso produzirá os tãovalorizados conceitos (tal como o da universalidade). Os discursos são construídos dentro dascomunidades e, segundo François Châtelet, é tão meticuloso que acaba convencendo a todos.E isso é um problema, uma vez que µ¶perguntas que são feitas nunca são inocentes¶¶. Percebe-se, então, que as palavras são de grande importância para os filósofos e aí entra a grandequestão da filosofia: o que fazer quando o discurso não interessa a alguém? Châtelet explicaque nesse momento o agente enunciador deve retrucar e argumentar com o ouvinte, levando-oa acreditar na veracidade do fato.Émile Noël agora toma um rumo diferente em suas perguntas. Levanta a questão dascivilizações que precederam a Grécia antiga, tais como o Egito que influenciou em demasiaaquela civilização. Châtelet explica, então, que se deve evitar um ocidentalismo excessivo. Écerto que a sabedoria desses povos é de grande importância, mas foram os gregos que deramorigem ao logos (a razão), e essa nova forma que foi determinante no desenvolvimento dasciências, bem como a concepção do
ser.
Os filósofos estão sempre em busca da verdade, e isso só cabe a eles, uma vez que a opiniãoda maioria e o discurso de autoridade não são fontes dela. É por isso que tentam desenvolver um discurso universal, capaz de julgar todos os outros discursos, por mais responsabilidadeessa tarefa exija. Châtelet diz que por mais totalitário que pareça, não o é. Razão e liberdadedevem estar sempre juntas, embora em alguns casos a filosofia possa servir de uminstrumento totalitário nas mãos de alguns políticos.É válido lembrar que µ¶os grandes pensadores apenas formalizam o que os povos inventam¶¶(p. 33).
A idéia de que o discurso traz à tona a verdade e a transparência, fundamentada no logos é, portanto, formalizada por Platão.Após a formalização de grande parte da teoria filosófica por esse grande filósofo, Aristótelestoma as rédeas para com o desenvolvimento dessas idéias. Por vários séculos seguintes, é elequem ira guiar o conhecimento. Mas antes de Aristóteles, Platão desenvolveu uma teoriamuito importante para desmistificar a universalidade: a teoria das idéias. Tal teoria serviu paradesenvolver um conhecimento mais exato e sucinto sobre determinado objeto.A hipótese das idéias consiste no extrato da realidade. µ¶Platão acreditava numa realidadeautônoma por trás do mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo dasidéias. Nele estão as imagens padrões, as imagens primordiais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza¶¶ (GAARDER; O Mundo de Sofia). Para compreender esse mundo,necessita-se realizar exercícios mentais. Châtelet explica que as opiniões múltiplas sempre sereferem a supostos fatos que, na maioria das vezes, são produtos das paixões, dos desejos edas circunstâncias. Todos enxergam a realidade como lhes convêm, ao contrário do mundodas idéias, que a apresenta sempre imutável. Isso Platão chamou de doxa.
Châtelet diz quenão se pode afirmar ser toda filosofia platônica, mas certamente sua teoria é o ponto de partida para o pensamento de muitas outras.Para atingir o a essência o homem utiliza a µ¶psykhê¶¶ (alma). Assim como é capaz de perceber o mundo das aparências, também o é de compreender as Ideias através do discurso.Por isso a filosofia também é pedagógica, uma vez que conduz-nos da ignorância aoconhecimento. Pensando nisso, Platão cria um protótipo da cidade ideal e a educação que seuscidadãos deveriam receber. Trata-se de muitos anos de estudo, em que terminariam após cercade 30 anos. Esses intelectuais conseguirão enxergar as essências imutáveis e suas articulações.Esses pensamentos serão mais tarde contestados por Aristóteles.Aristóteles exerceu grande influência após Platão, mesmo havendo rompido com este. Fundouo Liceu, escola para filósofos e desenvolveu outros métodos. Fazia uma crítica ao pensamento platônico uma vez que esse limitava o entender da filosofia. Aristóteles buscava um saber que pudesse ser compreendido por mais pessoas, é preciso adaptá-lo às exigências deste mundo. Ofilósofo procurou fazer para entender, bem como eliminar o discurso dúbio herdado de seusancestrais. Mais do que isso, µ¶introduz uma constante circulação entre a essência e a aparência¶¶ (p. 45). No entanto, salienta que se deve tomar cuidado para não confundir essência e aparência. Deve-se sempre verificar a validade dos discursos filosóficos e éexatamente isso que diferencia o pensamento aristotélico do platônico. O trabalho deAristóteles será construir um texto inteligível que torna o ser transparente e que permiteconstruir saberes e realizar ações as mais sensatas possíveis.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Capital Cultural...
.... "Este artigo tem por objetivo realizar uma análise retrospectiva acerca da gênese do conceito “capital cultural” em Pierre Bourdieu, formalizado inicialmente em colaboração com Jean-Claude Passeron na obra Les héritiers, publicada em 1964. Nossa proposição inicial é que a trajetória intelectual pregressa de Bourdieu pode ter condicionado as observações acerca das atitudes em relação à escola e à cultura de estudantes oriundos de diferentes classes sociais, como analisado na obra supracitada. Ao realizar uma revisão desta obra em especial, tentaremos, assim, investigar as contribuições advindas dos primeiros registros etnográficos de Bourdieu, presentes em trabalhos seminais como Sociologie de l´Algérie e Travail et travailleurs en Algérie. Este trabalho toma como pressuposto inicial que não se pode levar adiante uma refl exão fechada dos usos do capital cultural: buscar-se-á, desta forma, investigar como os trabalhos etnográfi cos de Bourdieu repercutiram na formalização deste conceito" Link 1, aqui... Segundo este sociólogo francês, pioneiro na sistematização do conceito, a segunda mais importante expressão do capital, à qual precede apenas o capital econômico portado pelos agentes sociais. Engloba prioritariamente, a variável educacional, embora não se limite apenas a ela.
Para o autor, a educação/’capital cultural’ consiste num princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução. Isto porque, o sistema escolar realiza a operação de seleção mantendo a ordem social preexistente, isto é, separando alunos dotados de quantidades desiguais – ou tipos distintos – de ‘capital cultural’. Mediante tais operações de seleção, o sistema escolar separa, por exemplo, os detentores de ‘capital cultural’ herdado daqueles que são dele desprovidos. Ademais, ao instaurar uma cesura entre alunos de grandes escolas e alunos das faculdades, a instituição escolar, geradora do ‘capital cultural’, institui fronteiras sociais análogas às que separam o que Bourdieu denomina “nobreza” e “simples plebeus”: Link 2, aqui...
Desenvolvido por Pierre Bourdieu, este conceito refere-se ao conjunto de recursos, competências eapetências disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura dominante ou legítima. Pode existir em doisestados: incorporado, quando faz parte das disposições, do habitus, dos agentes; e objetivado, quando écertificado através de provas, atributos ou títulos, designadamente escolares. Como qualquer capital, ocapital cultural confere poderes que propiciam diversas probabilidades de lucro (económico, cultural, socialou simbólico) nos campos e mercados em que é eficiente. Todo o capital, seja qual for a sua espécie,subentende uma relação de dominação, de apropriação/desapropriação. Se, a priori, todos dispomos decompetências e de saberes, o certo é que estes são valorizados de forma desigual. Um determinado saber,para ascender ao estatuto de capital cultural, carece ser reconhecido e legitimado como tal. Consoante oseu enraizamento social (por exemplo, popular ou burguês), assim as diferentes formas de saber se tornamdignas ou não de crédito, conferem ou não dividendos na bolsa dos valores sociais.
O capital não é, portanto, uma coisa, uma substância, mas uma relação (de poder) correspondente a umdeterminado estado de forças na luta de classes. Mudando este, altera-se também o valor daspropriedades e dos atributos ditos culturais. A dita cultura dominante é um arbítrio cultural que,desconhecido na sua relatividade, passa por uma realidade absoluta. A família e a escola destacam-secomo as principais instituições de transmissão e inculcação do capital cultural. No ambiente familiaradquirem-se competência linguística, esquemas de pensamento e eventual familiarização com os conteúdose, sobretudo, as formas da cultura legítima. Consoante a distância ou a sintonia entre as culturas de classe(das famílias) e a cultura legítima, assim tenderá a ser mais ou menos bem sucedida a trajetória escolar esocioprofissional dos agentes. O funcionamento da escola e a sua articulação com a sociedade globalconfluem para que estes percursos não sejam percebidos como produtos dos efeitos conjugados decondições sociais discriminantes, mas como destinos pessoais ou fatalidades de índole diversa. Nestalógica, a escola não se limita a inculcar um determinado saber, promove também uma visão do mundo: Link 3, aqui...
Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social.
Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado - que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.
Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita: link 4, aqui...
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segunda-feira, 26 de maio de 2014
Uma História para Meditar...
... "Havia na Índia um sábio que desvendava os mistérios da vida das pessoas, e que era assiduamente procurado. Certa vez, um jovem desconfiado e ousado, quis testar a sabedoria do velho sábio. Pegou um passarinho vivo, escondeu-o atrás do corpo, e se apresentou diante do homem de cabelos e barbas já brancos.
- O senhor é sábio mesmo?
- Dizem que eu sou.
- Então me responda: o que eu tenho em minhas mãos?
- Deve ser um pássaro; jovem como você, gostam muito de caçar os pássaros….
- É verdade, o senhor acertou, parece que é sábio mesmo. Mas me diga, o pássaro está vivo ou está morto?
O sábio agora estava numa situação difícil; se ele dissesse que o passarinho estava morto, o jovem o soltaria a voar; se dissesse que estava vivo, o jovem o mataria em suas mãos sem que o sábio o notasse… Uma cilada de mestre….
- Então, senhor sábio, o passarinho está vivo ou está morto, me responda, o senhor não é sábio?
O velho abaixou a cabeça e pensou um pouco.
Depois respondeu ao jovem:
- Depende de você!
Pensativo e cabisbaixo o jovem foi se afastando… e, ao longe, olhando para velho, soltou o passarinho e começou a chorar…
Você jovem, tem um passarinho dentro de você; matá-lo ou deixá-lo viver, depende exclusivamente de você, e de ninguém mais, pois você recebeu o dom mais precioso deste mundo que é a Liberdade. Este pássaro de ouro que é sua vida, criada à imagem e semelhança de Deus, está em tuas mãos. Eu te pergunto: o que você vai fazer dela?
Depende de você! A vida é sua e de mais ninguém. É o único dom que de fato é inteiramente seu. O resto é seu, mas está fora de você. Não culpe ninguém pela vida que você está levando"...
quarta-feira, 23 de abril de 2014
A Oportunidade de Aprender com o Erro...
... "Educadora critica hipocrisia da escola que, no discurso, valoriza o erro e, na prática pedagógica do dia a dia, o recrimina e lhe atribui valor negativo, em vez de usá-lo como estratégia educativa:
São várias as mensagens em nossa cultura que visam amenizar o erro. Diante de situações que o envolvem, seja de nossa parte ou de outro, é comum ouvir-se, por exemplo, que “errar é humano” ou, ainda, que “ninguém nasce sabendo”. Mas será que de fato somos tolerantes ao erro? Com 'tolerantes' quero dizer se, ao buscarmos lidar com uma situação que envolve o erro, estaríamos realmente reconhecendo o seu valor intrínseco ou praticando apenas uma convenção social.
Essa questão-chave tem perturbado meu sono há algum tempo, pois tenho ouvido com frequência entre colegas professores a afirmação de que é preciso “valorizar os erros dos alunos”. Na prática, no entanto, o que observo é totalmente diferente: o que predomina, ainda, é a punição ou, usando uma expressão mais amena, a atribuição de valor ao que o aluno produz com base em uma escala que envolve apenas os conceitos de certo ou errado (e, em alguns casos mais raros, o ‘meio certo’)"...
quarta-feira, 26 de março de 2014
Uma educação do indivíduo inteiro para um mundo unificado...
Há anos que, também, estou em busca desse novo paradigma de que tanto fala os doutos, como possibilidade de mudanças das sociedades, vejamos o que este texto nos proporciona:
“Quase toda educação tem uma motivação política: propõe-se a fortalecer algum grupo, nacional, religioso ou social na competição com outros grupos. É esta motivação o que principalmente determina que matérias são ensinadas, que conhecimento é oferecido e que conhecimento é ocultado e que determina ademais que hábitos mentais se espera que os pupilos cultivem. Praticamente nada se faz em função do desenvolvimento interior da mente e do espírito; com efeito, aqueles que receberam mais educação sofreram com freqüência uma atrofia mental e espiritual.”
Fala-se muito hoje em dia de uma “mudança de paradigma” na ciência e, mais
geralmente, no modo de compreender o mundo e o ser humano. Qual é esse novo paradigma, que invocam tanto a nova física como a psicologia contemporânea, e como, de um modo mais ou menos implícito, está afetando praticamente todos os campos do saber e do fazer?
Podemos chamá-lo “holismo” ou “integralismo”: um enfoque centrado no todo. Esta é a perspectiva que subjaz a inspirações tão diversas como a teoria geral de sistemas, o enfoque sistêmico da ciência da administração e a gestão de empresas, o estruturalismo, e a psicologia da forma. A característica mais chamativa de nossa época é uma nova maneira de conceber as estruturas, a organização, a inter-relação das partes em um todo. A vida e o universo se nos apresentam hoje em dia como meta-estruturas evolutivas.
Há uns dois mil e quinhentos anos, o Buda contava a história de alguns cegos que faziam uma idéia do que era um elefante tocando-o. Assim, um o comparava a uma palmeira, outro a uma corda, outro a um leque, etc., segundo suas mãos exploravam uma pata, o rabo, uma orelha, ou outras partes do animal. Esta história, adotada mais tarde pelos sufís, tornou-se particularmente popular hoje em dia e com razão, pois, expressa o florescimento no espírito de nosso tempo de uma compreensão cada vez mais generalizada de que o todo é, efetivamente, algo além da soma de suas diversas partes."
Uma educação para a evolução pessoal e social...
“Respostas corretas”, especialização, estandardização, competência estreita, aquisição ávida, agressão, desapego. Sem elas, nos pareceu que a máquina social não poderia funcionar. Não devemos culpar as escolas de crueldade quando só cumpriram o que a sociedade lhes pediu. Porém a razão pela qual necessitamos de uma reforma radical da educação é que as demandas da sociedade estão mudando radicalmente. Não cabe dúvida de que as características humanas que hoje em dia se inculcam deixarão de ser funcionais. Já se tornaram inapropriadas e destrutivas. Se a educação continua sendo como é, a humanidade acabará se destruindo cedo ou tarde.”
O tema já foi anunciado e é praticamente uma tese: já é hora de termos uma educação para o desenvolvimento humano. Acarreta também a convicção implícita de que sem uma educação para o desenvolvimento humano, dificilmente chegaremos a ter uma sociedade melhor. Até aqui, temos vivido uma longa história de nobres propostas e revoluções encarniçadas pela mudança social que descuidavam da mudança individual e parece que já é hora que entendamos que, se queremos uma sociedade diferente, necessitamos de seres humanos mais completos: não se pode construir algo desta natureza sem os elementos apropriados.
Eis aí o link para uma plena leitura: Claudio Naranjo...
Mudar a Educação para Mudar o Mundo...
Eu denunciei a educação tradicional formal (i.e. patriarcal) como sendo um desperdicio dos mais destrutivos em um tempo quando não há nada que seja mais necessario do que uma cultura verdadeira, compreensão e um coração bondoso. Eu creio que a educação é a nossa maior esperança, parcialmente porque ela já desenvolveu a base institucional sobre a qual pretendia realizar sua função, e que talvez um dia possa realmente tornarse realidade: promover o desenvolvimento pessoal.
Já que nosso problema básico mais grave e constante é o subdesenvolvimento da consciencia, e já que a viagem de cura contra o fluxo de deterioramento é dificil, necessitamos enfatizar a prevenção - e temos o veículo para isso através da educação compulsoria, sempre que possamos compreender quão destrutivo tem sido tentar educar aos jovens na imagem e semelhança do que somos, e como estamos sendo arrogantes e cegos em não perceber o fato de que estamos passando adiante nossos valores impregnados da transmissão de nossas enfermidades.
Se a grande esperança em mudar a educação será satisfeita - e melhor que seja logo do que nunca - esta terá que acontecer na cura e transformação dos professores, pois seria ridículo imaginar que isso poderia ser feito apenas através de reformas curriculares. Então surge a pergunta: temos um método eficiente e factivel através do qual possamos educar professores com experiências e treinamentos que nunca foram dados pelo mundo acadêmico, e que na verdade são indispensáveis tendo em vista uma educação voltada para a evolução pessoal e social?
Eu acredito que criei tal método, e comprovei satisfatòriamente sua eficiencia na minha percepção e na dos meus colegas e alunos. O leitor interessado pode encontrar informação relevante nas seções sobre o SAT e sobre SAT-na-educação, assim como no meu livro Changing Education to Change the World (Mudar a Educação para Mudar o Mundo), originalmente escrito em espanhol e também publicado em português e italiano. (Estou incluindo o índice, a breve introdução e um capítulo de amostra, descrevendo o trabalho experiencial com grupos que desenvolvi, e creio que é o que a educação necessita precisamente para sua transformação). Mais importante ainda talvez seja o fato de que procuro convencer pessoas de que é na educação que reside nossa maior esperança de superar nossa presente crise proveniente de uma civilização e sociedade patriarcal.
MAS NÃO CONSIGO CORRIGIR-ME!...
Introdução...
É muito comum dizermos para nós mesmos que estamos cansados de errar, sofrer para depois repetir os mesmos erros, sem conseguir mudar esta situação. Discutem-se a seguir sobre as causas do erro, a sua correção e os fatores que contribuem para a sua continuidade; além disso, são dadas dicas sobre como podemos ser bem sucedidos para sair desta situação.
Causas e continuidade dos nossos erros...
Muitas vezes nós erramos, mas não conseguimos nos corrigir, porque estamos programados mentalmente para fazer, consciente e inconscientemente, muitas coisas erradas. É claro que depois de errar, sofreremos as devidas consequências dos erros cometidos. Com o tempo, poderemos nos arrepender das coisas erradas que fizemos, mas mesmo assim, ainda podemos ter uma enorme dificuldade para não recair no mesmo erro.
Muitas vezes nós agimos como se fossemos robôs, comandados por rotinas mentais pré-estabelecidas, estando nós conscientes disto ou não. Estas rotinas mentais podem se transformar em vontades, atitudes e hábitos. Estes hábitos podem se transformar em vícios ou virtudes, dependendo das intenções específicas embutidas nestas rotinas mentais. Deste modo, estamos programados psiquicamente para fazer coisas tais como raciocinar, perceber as coisas, pensar, dirigir o carro, andar de bicicleta, nadar, falar diferentes idiomas, nos comportar desta ou daquela maneira, reagir desta ou daquela forma, tomar decisões, etc.
Em nosso mundo psíquico (consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo) estão armazenados: o instinto de conservação, tendências, memórias de personalidades passadas e presente, soma e interação de agregados psíquicos, complexos psíquicos, preferências, idealizações, condicionamentos, negatividades, máscaras e imagens mentais diversas. Na prática, porém, nós tomamos consciência dos universos externo e interno através do ego (centro da consciência; nosso raciocínio, percepção e pensamentos). O grau de acerto de nossas ações e reações resultantes destas tomadas de consciência depende do quanto nosso ego está livre de negatividades e máscaras, de modo que possamos compreender a realidade em lugar de compreender somente as aparências.
Quando julgamos a nós mesmos e os nossos semelhantes, estamos, em realidade, julgando a projeção de aspectos imperfeitos do próprio ego, sem enxergar a perfeição que existe na natureza. Aquilo que vemos de imperfeito, impuro ou sombra nos seres e nas coisas, representa aquilo de imperfeito, impuro ou sombra que existe em nosso ego. Podemos ter uma boa ideia do grau evolutivo de nossa consciência, analisando nossas ações e reações físicas, emocionais e mentais, ao tomarmos consciência das situações, coisas e seres existentes nos universos externo e interno. Assim, recomenda-se fazer uma cuidadosa análise destas ações e reações para reconhecimento de regiões impuras de nossa consciência que nos impedem de conhecer a Verdade.
Como podemos sair desta situação com sucesso...
A primeira coisa que devemos fazer é manter uma atitude de calma e despreocupação, porém, sempre estando firmemente comprometidos perante nossa consciência superior, de nos esforçarmos para corrigir definitivamente os nossos erros. Para isso, é necessário confiar em si mesmo e na ajuda espiritual sempre presente, para não desanimar em face de novos fracassos.
Depois, devemos, sinceramente, reconhecer os prejuízos e as consequências danosas causadas pelos erros cometidos. Se tivermos dúvidas sobre o que está certo ou errado, podemos usar as peneiras da bondade, verdade e utilidade. Tudo que não passar nas três peneiras pode ser fonte de mal, ignorância, estagnação espiritual e, consequentemente, de dores e sofrimento. Lembremo-nos de que o bem que deixamos de fazer também é um mal. Se for necessário, peçamos ajuda especializada ou busquemos informações que nos auxiliem para avaliar corretamente as ações ou reações que resultaram no erro de modo que possamos compreender adequadamente e integralmente a situação;
Em seguida, devemos reconhecer que existem negatividades e máscaras em nosso ego as quais impedem o nosso avanço evolutivo, para depois tentar modificá-las, evitando assim a repetição dos mesmos erros. Assim, devemos reconhecer a existência de tendências, predisposições e inclinações negativas em nosso ego, sem, entretanto, nos identificarmos com tais negatividades. As máscaras e negatividades que existem em nosso ego são temporárias e totalmente sujeitas a transformações usando a força do amor, da vontade e da persistência para mudar.
Psicologicamente, a essência Divina que somos nos convida para colocarmos a mente a serviço do Eu Real, do Self, Centro do Psiquismo Total. O ego, por sua vez, luta para não perder o seu poder, entrando em disputas externas, desequilibrando nosso mundo interior. O equilíbrio necessário entre o ego e o Eu Real é restabelecido pelo amor. A harmonia e paz interior dependem do equilíbrio entre o ego e o Self, isto é, dependem de que o Eu Real tenha o ego a seu serviço e dirija a função psíquica central da consciência para propósitos alinhados com o Espírito (Novaes, 2001).
A mensagem cristã serve para o mundo psíquico sempre que percebemos que a exclusividade do ego é fator de desequilíbrio. Perceber os propósitos do Self é garantia de seguir no rumo certo. O ego e o Self devem estar sintonizados a serviço do Espírito, verdadeiro piloto da mente. Quando o Espírito toma a decisão de se orientar pela onda da paz e do amor, o Self estabelece princípios de organização e direção voltados para o Bem, restando ao ego acostumar-se à nova ordem interna vigente. Inicialmente haverá o conflito entre os desejos do ego e as orientações do Self, mas à medida que os embates das experiências externas reduzirem o poder do ego, os objetivos essenciais começarão a ser alcançados (Novaes, 2001).
Nós somos seres espirituais, imortais e o nosso ego é apenas uma estrutura temporária em nossa mente. Assim, torna-se extremamente importante conhecer como funcionam as programações psíquicas, conscientes e principalmente as inconscientes, para podermos transformá-las, utilizando a energia do amor. Quanto mais sucesso nós tivermos na transformação do material psíquico inconsciente em material consciente, e consequentemente, em reorientar os reflexos defeituosos do material inconsciente, mais próximo nós chegamos à realidade do Princípio de Vida Universal dentro de nós. Este Princípio fica então mais livre para revelar-se, nos libertando dos medos, da vergonha e dos preconceitos.
Não é possível eliminar os sentimentos egóicos simplesmente usando as forças de vontade e mental. A transformação da polaridade dos complexos egóicos, de negativa para positiva, é realizada utilizando-se sentimentos derivados do amor, energia mais sublime e mais poderosa do universo, originada no Eu Real. Assim, o autoconhecimento, a autoaceitação e o autoperdão da realidade temporária do ego têm o poder de nos libertar das amarras energéticas dos sentimentos que interferem negativamente em nossa vida. Porém, é sempre importante lembrar que:
- Nós não somos o ego, mas temos um ego. Não podemos confundir o ser que somos com o ter, estar, gostar, ficar, fazer, etc., os quais são transitórios, assim como a nossa autoimagem idealizada e o próprio ego;
- O ego não tem existência real porque ele representa apenas um estado evolutivo do espírito em que as negatividades e máscaras são, na realidade, ausências de valores, da mesma forma que o frio é ausência de calor e a escuridão é ausência de luz;
- A consciência das negatividades e máscaras do ego permite iniciarmos o processo de transformação do ego, através da desidentificação do Eu Real com o ego, pela vivência de valores contrários aos do ego;
- É necessário se esforçar constantemente para vivenciar bons pensamentos, sentimentos, atitudes e hábitos;
- A meditação frequente permite alcançarmos níveis superiores de consciência de modo que sempre estejamos sintonizados a vibrações de sabedoria, força moral, serenidade e esperança;
- Todos os espíritos, encarnados ou desencarnados, com os quais nos sintonizamos vibratoriamente, poderão interferir positivamente em nosso processo de autocorreção somente se estas vibrações vierem de fontes tais como sabedoria, amor e caridade. Nós somos influenciados, e ao mesmo tempo, influenciamos outros espíritos, através dos pensamentos, emoções e atitudes com os quais, consciente ou inconscientemente, nos identificamos vibratoriamente.
Para auxiliar no processo de autocorreção, pode-se praticar oMétodo dos 12 passos para ser bem sucedido na vida, sugerido por Oliveira (1998), conforme seguem:
1 – Definição do nosso foco de interesse;
2 – Desejo de atingir o foco;
3 – Manifestação da vontade;
4 – Mudança de pensamento;
5 – Novas crenças;
6 – Novas expectativas;
7 – Novas atitudes;
8 – Persistência nas novas atitudes;
9 – Novos hábitos;
10 – Novos comportamentos;
11 – Novos desempenhos;
12 – SUCESSO (atingir o foco).
De acordo com Oliveira (1998), precisamos seguir apenas os quatro passos escritos em negrito (passos 1, 3, 7 e 8), porque os demais se realizarão automaticamente. Definindo o FOCO de interesse, o DESEJO naturalmente se manifestará, mas a vontade de satisfazer nosso desejo dependerá exclusivamente de nós. Permitindo que a VONTADE se manifeste, naturalmente nossos PENSAMENTOS mudarão. Mudando nossos pensamentos, naturalmente passaremos a ter NOVAS CRENÇAS. Adquirindo novas crenças, naturalmente teremos NOVAS EXPECTATIVAS. Ter novas expectativas, no entanto, não significa que naturalmente nós passaremos a ter novas atitudes. Eis que chegamos a um ponto crítico: nós teremos de ter novas atitudes e persistir nestas novas atitudes, pois, se simplesmente tivermos novas atitudes sem persistência, nós não atingiremos o próximo passo. Tendo NOVAS ATITUDES e PERSISTINDO nelas, nós vamos naturalmente adquirir novos hábitos. Adquirindo NOVOS HÁBITOS, naturalmente passaremos a ter novos comportamentos. Adquirindo NOVOS COMPORTAMENTOS, naturalmente teremos novos desempenhos. Tendo NOVOS DESEMPENHOS, naturalmente alcançaremos o SUCESSO. Não nos esqueçamos, portanto, da importância de definir o FOCO da manifestação, da VONTADE, das NOVAS ATITUDES e da PERSISTÊNCIA porque assim agindo, tudo o mais virá por acréscimo. E mais importante que tudo, devemos sempre colocar, em todos os passos do processo de autocorreção, sentimentos profundos de AMOR, direcionados para si mesmo, para todos e para tudo.
Bibliografia
OLIVEIRA, A.Viver bem é simples, nós é que complicamos, Editora Didier: Votuporanga, 1998, 112p.
NOVAES, A.M.F. Psicologia do evangelho. Fundação Lar Harmonia: Salvador, 2001, 176p.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Educação sem Modelo de Transformação: Qual Ideologia é Menos Piegas?...
Todas as aclamações feitas à educação como instrumento de transformação, advindas dos ‘Salvadores da Pátria’, são por demais repetitivas: eis aqui um motivo para eu evitar qualquer discussão propositiva sobre educação, pois eu, também, ainda não consegui sistematizar uma teoria comprovando que minhas práticas de ensino sirvam de modelo para a educação brasileira ou acriana...
E agir como um ‘papagaio’ para dizer que só a ‘educação pode mudar’ é, infinitamente, exaustivo... Pergunto-me: qual modelo de educação é mais adequada para as transformações do Brasil e do Acre?: a educação que levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ser o 11º pensador global mais importante em 2009?... Ou a Educação que levou o ex- presidente Luís Inácio da Silva a ser merecedor de vários prêmios de honrarias e Medalhas de Grande Mérito sem ter concluído o primário?...
Bem sei que tornar nossas vidas mais simples, através do ensino, seria um caminho seguro, porém simplificar a complexidade da educação por interesse próprio ou partidário é delicadamente perigoso, mesmo que as intenções sejam a favor dos aspectos institucionais da sociedade para favorecer: as funções, as estruturas e organizações que visem a superação dos erros históricos por meio da transmissão dessa História... Porém se for apenas para legitimar essa História é correr o risco de perpetuar e cristalizar a pieguice das ideologias: criando ilusões nos inocentes e dizimando os verdadeiros guardiões da Sabedoria de viver... Esse risco tento evitar...
As repetições das aclamações educativas não variam nem mesmo quanto à ótica ideológica, no entanto tendem a representatividade ora do funcionalismo, ora do sistemismo apenas para fundamentar a relevância da transformação social, sem nenhuma preocupação para com a mudança das personas... É por isso que guardo minhas ideias educativas no silêncio dos meus sonhos e deixo-vos alguns links para refletir sobre a História da Educação...
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Seja Educomunicador...
Comunicação + Educação – essa parece ser uma receita que pode trazer muitas coisas boas para uma sociedade que deseja ser cidadã. A ideia é, por exemplo, fazer com que crianças, jovens e adultos observem como os meios de comunicação agem para que as pessoas possam conviver com eles de forma positiva, sem se deixarem manipular. Ou seja, significa criar e facilitar a comunicação na escola, entre a direção, professores e estudantes, fazer a ponte entre a escola e a comunidade, construindo sempre ambientes abertos e democráticos.
A educomunicação pode ajudar as pessoas a se desenvolverem e ajudar outras a exercerem sua cidadania. Assim, toda a nossa comunidade pode se desenvolver e se beneficiar, se organizar para fazer valer seus direitos e aprender enquanto se comunica. Porque comunicar é aprender com o outro e ensinar aquilo que a gente sabe. Assim todo mundo sai ganhando!...
Quando a gente se comunica, troca informações. Podemos mostrar ao outro o que sabemos, mas também aprender com o outro aquilo que não sabemos. Então, a comunicação é também um processo educativo. Quando nos comunicamos com essa consciência e com essa intenção, tornamos o processo de aprendizagem mais forte, mais importante. Isso é educomunicação.
Comunicar para aprender. Ensinar o que aprendemos. Usar os meios de comunicação para falar com mais pessoas ao mesmo tempo e mostrar a elas como fazemos para participar de maneira mais efetiva do cotidiano da nossa cidade, do nosso país, do nosso planeta...
• organizar e expressar melhor nossas ideias;
• trabalhar em grupo, porque o produto é resultado de um trabalho coletivo;
• perguntar e ouvir as pessoas;
• pesquisar sobre diversos assuntos, pois precisamos divulgar boas informações para nossos leitores, ouvintes ou espectadores;
• lidar com o poder, porque temos condições de influenciar outras pessoas;
• criticar, porque descobrimos como outras pessoas podem usar a comunicação para nos influenciar;
• trabalhar com tecnologias, o que nos ajuda na vida e na profissão que escolhemos"... Para uma completa leitura, aqui...
sábado, 4 de janeiro de 2014
Superando o Racismo na Escola...
Racismo e ignorância caminham sempre de mãos dadas. Os estereótipos e as idéias pré-concebidas vicejam se está ausente a informação, se falta o diálogo aberto, arejado, transparente.
Não há preconceito racial que resista à luz do conhecimento e do estudo objetivo. Neste, como em tantos outros assuntos, o saber é o melhor remédio. Não era por acaso que o nazi-facismo queimava livros. Mas não é só por isso que o tema do racismo e da discriminação racial é importante para quem se preocupa coma a educação. É fundamental, também, que a elaboração dos currículos e materiais de ensino tenha em conta a diversidade de culturas e de memórias coletivas dos vários grupos étnicos que integram nossa sociedade.
É obrigação do Estado a proteção das manifestações culturais das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, bem como dos demais grupos participantes de nosso processo civilizatório. Essa obrigação deve refletir-se também na educação...
A educação é um direito de todos, e o Brasil de hoje, graças aos esforços realizados nos últimos anos, já está muito próximo de ter todas as suas crianças na escola. Isso é essencial para a construção de um Brasil mais justo. Mas não é suficiente. É preciso, ainda, que a educação tenha qualidade, que sirva para abrir os espíritos, não para fechá-los, que respeite e promova o respeito às diferenças culturais, que ajude a fortalecer nos corações e mentes de todos os brasileiros o ideal da igualdade de oportunidades.
A linguagem é uma das manifestações mais próprias de uma cultura. Longe de ser apenas um veículo de comunicação objetiva, ela dá testemunho das experiências acumuladas por um povo, de sua memória coletiva, seus valores. A linguagem não é só denotação, é também conotação. Nos meandros das palavras, das formas usuais de expressão, até mesmo nas figuras de linguagem, reqüentemente alojam-se, insidiosos, o preconceito e a atitude discriminatória. Há palavras que fazem sofrer, porque se transformaram em códigos do ódio e da intolerância.
A atenção a esse tipo de problema é necessariamente parte do programa de educação de qualquer povo que tenha, para si próprio, um projeto de justiça e de desenvolvimento social... A sociedade brasileira tem razões de sobra para se preocupar com essas questões. Nossa formação nacional tem, como característica peculiar, a convivência e a mescla de diversas etnias e diferenças culturais. Temos, em nossa história, a ignomínia da escravidão de africanos, que tantas marcas deixou em nossa memória e cuja herança é visível, ainda hoje, em uma situação na qual não somente se manifestam profundas desigualdades, mas o fazem, em larga medida, segundo linhas raciais – e eu próprio, como sociólogo, dediquei-me a estudar aspectos dessa herança social do regime escravocrata. Temos, ainda, em nosso passado, episódios graves de violações dos direitos das comunidades indígenas.
É indispensável que os currículos e livros escolares estejam isentos de qualquer conteúdo racista ou de intolerância. Mais do que isso. É indispensável que reflitam, em sua plenitude, as contribuições dos diversos grupos étnicos para a formação da nação e da cultura brasileiras. Ignorar essas contribuições – ou não lhes dar o devido reconhecimento – é também uma forma de discriminação racial.
A superação do racismo ainda presente em nossa sociedade é um imperativo. É uma necessidade moral e uma tarefa política de primeira grandeza. E a educação é um dos terrenos decisivos para que sejamos vitoriosos nesse esforço...
A formação cultural do Brasil se caracteriza pela fusão de etnias e culturas, pela contínua ocupação de diferentes regiões geográficas, pela diversidade de fisionomias e paisagens e também pela multiplicidade de visões sobre a miscigenação em sentido amplo, algumas ainda presas à desinformação e ao preconceito. Esse caldo de cultura muitas vezes gera atritos e conflitos em casa, na rua, no trabalho e na escola. Para preencher o vazio da desinformação e corrigir a distorção de valores que encerra, o Ministro da Educação publica este Superando o Racismo na Escola (...)
Através dos Parâmetros, os alunos são levados a compreender a cidadania enquanto participação social e política; a posicionar-se de modo crítico e construtivo; a conhecer características sociais, materiais e culturais do país; a identificar e valorizar a pluralidade cultural; a posicionar-se contra a discriminação cultural, social, religiosa, de gênero, de etnia, dentre outras.
Os PCN permitem também ao estudante se perceber integrante e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e interações possíveis, contribuindo para melhorá-lo. Possibilitam ao aluno desenvolver a percepção de si, a confiança nas próprias capacidades e o sentido de preservação física e mental; a utilizar diferentes linguagens; a consultar diversas fontes de informação e a questionar a realidade, formulando problemas e soluções.
Os temas transversais não são uma preocupação inédita do Brasil. A questão vinha sendo pensada e incorporada progressivamente ao ensino das ciências. Sua adoção era anunciada e se justifica plenamente porque, além dos benefícios evidentes à formação integral dos estudantes, dá flexibilidade ao currículo, algo vital na relação ensino-aprendizagem (...).
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Política mundial de drogas ilícitas: uma reflexão histórica...
O consumo de substâncias psicoativas sempre possuiu caráter gregário. Isto provocou, desde as primeiras civilizações, o aparecimento de normas e convenções sociais para regular a produção, a distribuição e o modo do consumo (Escohotado, 1995). O Código de Hamurabi punia com pena de morte os donos de tabernas que adulterassem o vinho. Entre os incas, o consumo de folhas de coca era um privilégio dos nobres, ficando o uso pelos servos e soldados condicionado à autorização real. Boa parte dos alucinógenos, como a psilocibina, a mescalina e a dimetiltriptamina (DMT), era consumida dentro de rituais sagrados, regulados pelos líderes religiosos de cada comunidade (Escohotado, 1995; Cashman, 1980).
A partir das Grandes Navegações (século XVI), os europeus entraram em contato com um grande número de substâncias psicoativas e as introduziram progressivamente em suas sociedades, com finalidades médicas ou recreativas (Escohotado, 1995). Durante o século XIX, a Europa e os Estados Unidos conviviam com uma grande variedade de novas drogas, com as quais tinham pouca ou nenhuma identificação cultural (Musto, 1987). A descoberta da destilação do álcool levou ao surgimento de bebidas mais concentradas, que somada à industrialização e a crescente exclusão social urbana, desencadeou uma série de complicações clínicas, psiquiátricas e sociais sem precedentes na história (Edwards, 2003). O tabaco, planta originária das Américas, também passou por processo semelhante (Gately, 2002).
Paulatinamente, da Expansão Européia à Revolução Industrial, as substâncias psicoativas deixaram de ser consideradas elementos divinatórios e lustrais, reguladas por rituais religiosos, para se converterem em produtos comerciais. O marco deste processo foram as Guerras do Ópio (1839 – 1841), a partir das quais os ingleses garantiram o monopólio internacional, consolidaram o domínio britânico no Extremo Oriente e implementaram a prática comercial de substâncias psicoativas em larga escala (Passetti; 1991).
A partir do século XIX, dentro do contexto sócio-cultural de cada nação, a popularização do consumo desses ‘novos produtos’ (desprovidos de qualquer ‘lastro cultural’ que funcionasse como mecanismo de controle informal de seu consumo) acarretou uma série desdobramentos e impactos sociais, tais como relatos de overdose, complicações crônicas à saúde e o desmantelamento de hábitos sociais locais tradicionalmente instituídos (Musto, 1987; Escohotado; 1995).
Essa novidade culminou na elaboração de políticas públicas, com o intuito de solucionar os prejuízos causados pela massificação do consumo de substâncias psicoativas. Dois fatores contribuíram para o seu surgimento. Em primeiro, já havia uma crescente conscientização por parte das nações industrializadas acerca da importância do saneamento, da vacinação e da universalização do atendimento médico como mecanismos efetivos para a prevenção de doenças e melhoria do estado de saúde da população. Nascia, assim, o conceito de Saúde Pública (século XIX), tendo nas políticas públicas os instrumentos mais adequados para efetivá-la (Gordon; 1995). Em segundo, observações clínicas passaram a relacionar cada vez mais as drogas ao surgimento de doenças e hábitos alterados de consumo (abusos). No início do século XX, Emil Kraepelin (1856-1926), destacava o tratamento do alcoolismo e do abuso da morfina e da cocaína, como “os mais proveitosos pontos de ação médica no combate à insanidade” (Millon, 1979), tendo em vista a existência de um agente causal. Desse modo, o consumo de drogas passou a ser considerado como causa de morbidade, merecendo ações de saúde como qualquer outra doença.
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