terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Arte da Capoeira - Camille Ardono

O que é a Capoeira


Os negros usavam a Capoeira
para defender sua liberdade.

Mestre Pastinha

Dança negra. Com muitos rituais. Brincadeira de movimentos com malícia. Na dança negra de pés no chão a agilidade da esquiva e a esperteza da fuga. E de repente, ante os olhos surpresos do adversário, o gesto rápido. O ataque fulminante. Então, prostrado, o inimigo se dá conta de que foi vítima da mandinga. Isto, se ainda tiver vida...



“No tempo em que o negro chegava

fechado em gaiola

Nasceu no Brasil

Quilombo e Quilombola

E todo dia

Negro fugia

juntando a curriola

De estalo de açoite, de ponta de faca

e zunido de bala

negro voltava p’ra argola

No meio da senzala

E ao som do tambor primitivo

berimbau, maraca e viola

Negro gritava: - abre ala!

Vai ter jogo de Angola”

(Mauro Duarte/Paulo Cesar Pinheiro, Jogo de Angola)

Capoeira: a arte negra

A dança - enquanto forma de expressão corporal - possui uma linguagem onde cada gesto significa e representa idéias e sentimentos. Emoções. Sensações.

O jogo da Capoeira é a síntese da dança. A sua essência, disfarçada em brinquedo. Vadiação. Distração de quem busca extravasar cada função interior nos gestos exteriores.

É na dança que se manifesta a tradição milenar da cultura negra de reverenciar as origens. Isto ocorre cada vez que se repetem gestos ancestrais. Renovados. Conduzindo ao reconhecimento da necessidade de manter viva a ligação com os antepassados, que praticaram os mesmos atos. Nisto reside a grandeza da dança negra. Ritual. E no respeito aos que geraram a vida, a beleza maior.

O balanço dos braços, o arremesso dos pés, o meneio do tronco e dos quadris, a harmonia de todo o corpo em gestos que não perdem a continuidade. Como se fora um ininterrupto perambular pelo círculo, em estreita ligação com o solo.

A Capoeira consiste numa dança onde o emprego dos movimentos arriscados - dado à circunstância de camuflar possível contenda - envolve os participantes e contagia quem assiste. Como não se deixar empolgar pela combinação de bela plástica humana nos movimentos despojados, com o evidente fascínio da dança e a alegria de uma festa?

É ainda muito mais a dança da Capoeira. O contato com o chão, intenso como o vínculo dos filhos com a mãe. Que envolve e protege, criando a vida e assistindo a todos, silenciosa. Acolhendo a dança, que é também em seu louvor.

A postura reverente dos capoeiras uns com os outros, para com o jogo, a terra, o berimbau, o atabaque, se explica no propósito maior da dança: unir. Ligar estreitamente, como as mãos que se apertam ao final de cada jogo, na saudação dos camarás.

Luta negra. Com a força dos ritos. Preservando mitos. Participando ativamente da resistência comum às variadas formas de dominação: cultural, física... Bastião erguido em defesa da nossa identidade coletiva, a Capoeira não foi somente um fermento revolucionário - ela é realmente um instrumento de transformações, apesar do grande cerco que sofreu e sofre ainda hoje. Dos que tentam levá-la à padronização esportiva ou reduzi-la a mera forma de defesa pessoal, sugerindo sua definição como arte marcial.



“Dança guerreira

Corpo do negro é de mola

Na Capoeira

Negro embola e desembola

E a dança que era uma festa pro povo da terra

Virou a principal defesa do negro na guerra

Pelo que se chamou libertação

E por toda força, coragem e rebeldia

Louvado será todo dia

Que esse povo cantar e lembrar o jogo

de Angola

Da escravidão no Brasil”



(Mauro Duarte/Paulo Cesar Pinheiro)



A luta da Capoeira não acontece com objetivo de competição entre os camaradas. Quando o jogo degenera em luta explícita, já não ocorre a Capoeira. O objetivo da luta é tornar o capoeira senhor de si mesmo e integrado ao grupo. É no recesso da comunidade que ocorre o aprendizado e a prática do jogo, de forma coletiva e fraterna. Se às vezes isto não acontece, não se pode falar em Capoeira na plenitude; quando muito em adestramento nos movimentos básicos, de forma desvinculada dos objetivos e fundamentos da arte.

O ponto alto da luta sempre foi resistir. Contra o preconceito, a discriminação disfarçada. Contra oportunistas e aproveitadores astuciosos que se apropriam dos valores da nossa cultura e tentam adulterá-la, fazendo isto de tal forma que ao negro é mesmo vedado o acesso à manifestação. Assim, o que era coisa de negro pode acabar se tornando de alguns indivíduos. Que detêm o poder, confiscam o que lhes interessa e depois de adaptar às suas conveniências, comercializam como bem entendem.

A luta da Capoeira implica também na reação a este estado de coisas. Não é legítimo transformar a arte negra em esporte ou folclore, conforme os conceitos de algumas pessoas. Não podemos admitir a inovação das cores e graduações tiradas de qualquer coisa que não a própria arte. Ou a cópia de conceitos de hierarquia segundo manuais militares e culturas exóticas. Menos legítimo ainda é o estabelecimento de regras para o jogo da Capoeira aplicando conceitos extraídos de lutas alienígenas - geralmente chegadas até nós deturpadas pelos objetivos de exploração das academias e descaracterizadas pela indústria do cinema hollywoodiano. Contra tudo isso a Capoeira é luta. Mais que nunca reafirmando os valores culturais do povo que a criou.



“Capoeira vai lutar

já cantou e já dançou

não pode mais esperar...

Não há mais o que falar

cada um dá o que tem

capoeira vai lutar...

Vem de longe, não tem pressa

mas tem hora p’ra chegar

já deixou de lado sonhos

dança, canto e berimbau

abram alas, batam palmas

poeira vai levantar

quem sabe da vida espera

dia certo p’ra chegar

capoeira não tem pressa

mas na hora vai lutar

por você... Por você...”



(Geraldo Vandré, Hora de Lutar)



Luta negra. Presente no cotidiano dos morros, terreiros, favelas, praças e ruas. Companheira do trabalho e diversão das feiras e festas, acompanhando o negro em qualquer ambiente social.



Itinerários



“Fomos ao rio de Meca,

Pelejamos e roubamos

E muito risco passamos

e vela.

E árvore seca.

(...)

A renda que apanhais

O melhor que vós podeis,

Nas igrejas não gastais

Aos pobres pouco dais.

E não sei o que lhe fazeis.”





Gil Vicente,

Exortação da Guerra





Portugal, África e Brasil:

os relatos históricos





Para a melhor compreensão do período histórico onde se situa o descobrimento do Brasil e a conseqüente formação da nossa cultura, é indispensável reportarmo-nos aos relatos e narrativas deixadas por escritores portugueses da época.

A literatura lusa - constituída ainda no período medieval - alcançou o apogeu com Gil Vicente, Camões e Fernão Mendes Pinto, justamente na fase em que é completada a expansão do povo português no mundo. O Brasil, portanto, é contemporâneo dessa expansão, nela se inserindo tanto o fato primordial da sua descoberta e colonização, quanto o dos belos trabalhos produzidos pela talentosa literatura portuguesa terem por motivo inspirador os fatos decorrentes da sua descoberta - além da conquista na África.

A língua portuguesa, instrumento dessa literatura e que com ela se aprimorou, deriva do latim popular, que teria chegado à Península Ibérica no século III antes de Cristo.

Na história literária - assim como na história geral - encontramos divisões em épocas ou períodos, compreendendo fases de tempo em evolução cronológica e englobando conjuntos de obras literárias com características comuns. Nesse trabalho, os historiadores da literatura consideram se as obras obedecem aproximadamente à mesma ordem de valores estáticos, ao reuni-las com vistas à exposição histórica.

Segundo o Prof. Fidelino Figueiredo, dividindo a literatura portuguesa em eras, temos as seguintes: medieval (do século XII até 1502), clássica (1502 a 1825) e romântica (de 1825 aos dias atuais).

O período medieval da literatura portuguesa se caracteriza pela poesia, reunida em repositários coletivos (os Cancioneiros), que são os seguintes: o Cancioneiro Português da Biblioteca Vaticana, o Cancioneiro Português Colocci-Brancuti e o Cancioneiro Português da Ajuda.

Esta fase medieval é geralmente considerada como finda no começo do século XVI - quando é representada a primeira obra teatral de Gil Vicente, o Monólogo do Vaqueiro, em 1502. Começa então o período clássico (já contemporâneo do Brasil), onde a literatura produz obras importantes para a compreensão da gente que realizaria a colonização, evidenciando o seu caráter e a perspectiva em que encaravam a nossa terra.

Na fase clássica encontramos os trabalhos literários que mais diretamente se relacionam à nossa história, abordando as conquistas na África, os costumes de Portugal, as viagens de descobrimento na América e análises e observações importantes acerca da sociedade da época.

Salientamos a importância da consulta às obras de Gil Vicente (1460-1536), fundador do teatro português, autor das farsas Juiz da Beira, Clérigo da Beira, Inês Pereira e Quem tem Farelos; dos autos da Barca da Glória, da Barca do Inferno e da Barca do Purgatório. Gil Vicente distinguiu-se ainda como poeta e cronista de costumes ao retratar a vida portuguesa do seu tempo.

Outro vulto de destaque para a compreensão do que era a gente portuguesa é Luís de Camões (1524-1580), não somente o grande poeta lírico do período clássico mas o mais importante poeta da língua portuguesa, como épico em Os Lusíadas, ou lírico, com as Rimas. Dramaturgo, distinguiu-se com as comédias El-Rei Seleuco, Anfitriões e Filodemo.

Muitos foram os poetas e romancistas deste período, cujo talento não se ofusca ante o infausto brilho das conquistas na África e no Brasil. Destacam-se: Bernardim Ribeiro (1475-1553), poeta e romancista, autor famoso de Menina e Moça; Francisco de Sá Miranda (1495-1558), poeta e teatrólogo: Antônio Ferreira (1528-1559), também poeta e teatrólogo; João de Barros (1496-1570), autor das Décadas da Ásia, prosador e historiador; Damião de Góis (1502-1574), autor da Crônica do Príncipe D. João; Fernão Mendes Pinto (1509-1580) viajante e prosador, autor do relato Peregrinação, de suas viagens ao Oriente; e Diogo do Couto (1542-1616), continuador das Décadas da Ásia, companheiro de Camões em Moçambique, autor do Soldado Prático.

À época, destacaram-se como historiadores mais especificamente do descobrimento e início da colonização do Brasil: Pero de Magalhães Gandavo ( ? - 1576), autor da História da Província de Santa Cruz e do Tratado da Terra do Brasil; Gabriel Soares de Sousa (1540-1592), autor do Tratado Descritivo do Brasil; e Frei Luís de Sousa (1555-1632), autor da Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires.

Dentre os escritores brasileiros, um dos primeiros historiadores foi o Frei Vicente do Salvador (1564-1639), nascido na Bahia, o primeiro a fazer uso da prosa literária em sua História do Brasil, que somente seria publicada em 1889. Segundo o crítico José Veríssimo, ao fazermos a lista dos nossos clássicos, com certeza Frei Vicente do Salvador seria o primeiro.

Estes são alguns dos principais autores e trabalhos que nos permitem uma introdução à história do Brasil e seus problemas, com vistas a formarmos a nossa própria crítica do processo de surgimento da civilização brasileira.

Aos amantes da leitura, fica a sugestão para pesquisa e estudo.



As origens

São dois pra bater no negro

de pau, chicote e facão

p’ra se safar tem o negro

só dois pés e duas mãos

é a mão pelo pé

é o pé pela mão

bate na cara

derruba no chão



Sérgio Ricardo, Brincadeira de Angola



África: onde tudo começou...



As origens do jogo da Capoeira se encontram no princípio da nação brasileira, e seu desenvolvimento acompanhou o relacionamento de negros, brancos e índios no continente americano.

A terra descoberta aos olhos do colonizador seria o berço de uma nova cultura - fruto das peculiaridades do ambiente e da forma em que se processavam as relações entre os conquistadores europeus; os ameríndios - primeiros senhores do continente; e os africanos - trazidos à força para realizar todo o trabalho.

No entender do descobridor o novo mundo deveria ser explorado em todos os aspectos, como fonte supridora da necessidade de riquezas fáceis sentida na Europa. E nada mais natural que o emprego do trabalho escravo. De nativos e africanos. Afinal, a nobreza que governava o mundo ocidental gozava do privilégio de ser ociosa. Para as agruras de todos os serviços, somente seres inferiores, aí incluídos todos que não tivessem a pele branca.

A presença dos portugueses na África tem registro desde meados de 1430. Lá, o europeu incentivava astuciosamente as diferenças tribais, fomentando rivalidades entre grupos. Depois, adquiria os prisioneiros feitos por ocasião dos conflitos, negociando com exploradores de toda espécie a aquisição de seres humanos para o trabalho forçado.

A chegada dos portugueses significava destruição completa para os nativos da África - o provável berço da humanidade, segundo recentes estudos. Os africanos apresados eram obrigados a trabalhar nas plantações canavieiras das ilhas do Atlântico. À época da descoberta do Brasil, Portugal já vivia da exploração de colônias na África, Ásia e no Atlântico. Seu caráter já amolecera na aventura da escravidão. Luís de Camões, que via muito bem com seu único olho, se lamentava de ver sua pátria mergulhada “no gosto da cobiça e na rudeza/de uma austera, apagada e vil tristeza”.

Em 1441, Antão Gonçalves levou a D. Henrique dez negros que trocara por dez mouros colhidos na costa da África. Segundo Azorara, que além de chefe de expedições portuguesas que praticaram massacres nas terras africanas revelou pendores literários, manifestos em crônicas aduladoras, D. Henrique mostrou-se “ledo” ao ver os africanos. Não pelo número, acentuou o cronista, “mas pella sperança dos outros que podya aver”.

No ano de 1444 fundou-se a Companhia de Lagos, cuja finalidade era intensificar o tráfico de escravos. No fim do século, Portugal recebia em média 12.000 escravos por ano, provenientes a princípio de Guiné, São Tomé, Príncipe e mais tarde, de Angola, Moçambique e demais regiões africanas. A escravidão tornara-se a mais próspera indústria do país. E o empreendimento desumano cresceu de tal forma que cerca de um século após iniciado, o flamengo Nicolaus Cleynaerts, humanista que se encontrava na corte portuguesa como preceptor dos filhos de D. João III, fez as seguintes observações a respeito do reino ibérico:

“Tudo ali pulula de escravos, todos os trabalhos são executados por negros e cativos, dos quais Portugal está tão cheio que, segundo creio, existem em Lisboa mais escravos e escravas dessa espécie do que portugueses livres.”

Foi aí que entramos na história. Os interesses econômicos e ideológicos dos portugueses - “a dilatação da Fé e do Império” - segundo Camões -, não estavam voltados exclusivamente para o Oriente fértil das ricas especiarias, sedas, objetos de valor como tapetes, perfumes, produtos medicinais. Vasco da Gama retornara da Índia com um carregamento de pimenta que permitiu lucros de até 6.000%, quando vendido na Europa. Mas no seu Diário de Viagem ele contava ter percebido sinais seguros da existência de terras a oeste de sua rota. A Espanha já tinha descoberto novos mundos na sua tentativa de chegar ao oriente navegando sempre para ocidente. E Portugal já tinha assegurado para si uma parte desse território, com a Capitulação da Partição do Mar Oceano, mais conhecida como Tratado de Tordesilhas, assinado entre as duas potências de então, em 1494.

Não é absurdo supor que Cabral recebera orientação no sentido de afastar-se ao máximo da costa africana, podendo confirmar a existência dessas terras e delas tomar posse. Essa seria outra tarefa de sua expedição. O descobrimento do Brasil é apenas um episódio da expansão marítima européia, no momento da transição do feudalismo para o capitalismo. As práticas mercantilistas e a predominância dos interesses econômicos sobre os aspectos religiosos e ideológicos se refletem até no nome definitivo que a terra ganha, provocando protestos do cronista João de Barros: “Por artes diabólicas se mudava o nome de Santa Cruz, tão pio e devoto, para o de um pau de tingir panos”.

O início da colonização das terras brasileiras se deu sob o reinado de D. João III, conhecido como O Colonizador em razão das expedições que organizou. Em 1530 uma nova esquadra veio para o Brasil sob o comando de Martim Afonso de Sousa, com instruções similares àquelas emitidas aos navegadores que o antecederam: as suas cinco embarcações explorariam o litoral compreendido entre o Maranhão e o Rio da Prata, capturando os contrabandistas encontrados ao longo da Costa do Pau-Brasil. Entretanto, eram mais amplos os objetivos específicos do Capitão: fundamentar a efetiva invasão da terra, implantando núcleos de povoamento dos portugueses. Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso, relata como isso aconteceu, em seu ‘Diário’:

“A todos nos pareceu tão bem esta terra que o capitão determinou de a povoar, e deu a todos os homens terras para fazerem fazendas: e fez uma vila na ilha de São Vicente e outra nove léguas a dentro pelo sertão, à borda de um rio que se chama Piratininga; e repartiu a gente nestas duas vilas e fez nelas oficinas, e fez tudo em boa obra de justiça.”

Em meados de 1532 foi introduzido no Brasil o cultivo da cana-de-açúcar e no seu desenvolvimento os colonos fixaram-se à terra, adquirindo glebas e se instalando com plantações e engenhos. Surgiram as duas primeiras vilas brasileiras no mesmo ano: São Vicente e Piratininga. Desobedecendo às ordens reais as povoações não se localizavam na chamada ‘Costa do Pau-Brasil’: revelava-se a prioridade dos portugueses - que era a busca dos metais preciosos. A escolha do local para a fundação das vilas facilitava a procura das minas do Peru e do Paraguai, à época em conquista - a ferro e fogo! - pelos espanhóis chefiados por Francisco Pizarro, que destruiriam o Império Inca.

A sede da riqueza dos metais levou os lusitanos a explorarem o estuário platino, organizando entradas com destino ao interior, saindo de Cananéia e Guanabara. A entrada que partiu de Cananéia foi dizimada pelas populações indígenas da região do atual Paraná, mostrando que a dominação das novas terras não seria uma tarefa fácil.

Quem era a gente portuguesa que se propunha a empreender uma tarefa que não se apresentava como das mais fáceis? Àquela altura, segundo Fernando Palha, Portugal importava tudo, desde o pão que comia até a lã que fiava. Nenhum português queria fazer nada.

“A prática bissecular da pilhagem no seu próprio país (os impostos escorchantes), a aventura oceânica e o tráfico negreiro, tudo isso minou a resistência moral do povo, dando-lhe até repugnância pelo trabalho.”

Como o Brasil só era habitado por silvícolas, ninguém queria vir para cá - além dos que seriam proprietários das terras. Francisco de Sá Miranda, grande poeta português, mas inegavelmente dominado pela ambição, refere-se ao fascínio das especiarias da Ásia e da África - que o Brasil não tinha - com estas palavras: “Ao cheiro desta canela/o reino nos despovoa.”

Antônio Ferreira, poeta renascentista, retrata bem o espírito da época em Portugal, a ambição do reino pelos metais preciosos: “Tudo obedece a este só Tirano/Esta é a idade que chamaram de ouro/Tanto valho, Senhor, quanto entesouro.”

Sobre o caráter da nobreza e do povo português ao tempo da descoberta e exploração, fala melhor o holandês Cleynaerts. Diz ele: “Se há povo algum dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele exista (...)”

E prossegue Cleynaerts ainda mais direto em suas considerações: “Em Portugal somos todos nobres, e tem-se como uma grande desonra exercer uma profissão qualquer.”

Diogo do Couto também se queixou: “(É) muito antiga esta miséria portuguesa de não saber dar lugar às virtudes nem engrandecer honrosos pensamentos.”

Quanto à moral da nobreza - a começar pela família real, que tinha origem bastarda - era a pior possível. Frei Luís de Sousa disse que nela “o vício era posto a cavalo”.

Revela Fernão Lopes que D. Pedro I (de Portugal) confessara um dia a Nuno Freire que alguém lhe dissera ter ele um filho de nome João que subiria muito alto, mas ele próprio não sabia qual fosse, pois tinha vários filhos com o mesmo nome, inclusive um deles com a bela Inês de Castro...

Apesar da ausência de ouro e prata, São Vicente adquire contornos definitivos: a primeira unidade produtora de açúcar - o Engenho do Senhor Governador - foi instalada em 1533. Passado um ano chegam as primeiras cabeças de gado provenientes de Cabo Verde.

Logo ficou evidente a insuficiência dos núcleos isolados de povoamento para assegurar o domínio português. A maior extensão do litoral brasileiro continuava à mercê de incursões estrangeiras.

É hora de D. João III mais uma vez justificar o cognome de Colonizador: seguindo conselhos de um descendente de colonos das ilhas do Atlântico, Cristóvão Jacques, do reitor da Universidade de Bordéus e de outros destaques da corte, resolve implementar a colonização. A tantos bons conselhos se acrescentou a cobiça, objetivamente: manter o monopólio oriental era muito dispendioso e a notícia da descoberta de ouro e prata na América Espanhola valorizou ainda mais o novo mundo.

CONFIGURAÇÃO GERAL DA CULTURA ASHENINKA


INTRODUÇÃO



O presente trabalho tem por finalidade estudar os diferentes aspectos que constituem a cultura Aseninka, procurando reunir e discutir os dados pertinentes a cada componente sócio-cultural. Neste sentido procurou-se levantar e analisar dados referentes à localização, demografia, classificação lingüística,
denominação, organização econômica, organização social, sistema de parentesco, mitologia e xamanismo. O conjunto destes itens constituirão a especificidade cultural Asheninka.

1. Localização

Tradicionalmente os Asheninka vem habitando territórios compreendidos pelos paralelos 9 a 13 de latitude sul e de 72 a 75 de longitude (west of Greenwich). Estes territórios são constituídos pela selva central peruana e pelas colinas e montanhas próximas a cordilheiras andina. A área partilhada pelos Asheninka varia de 110 a 150 mil km de extensão, incluindo as ocupações em território brasileiro. Na selva central peruana habitam as margens e afluentes dos rios Apurimac, Tambo, Ene, Chanchamayo, Pichis, Pachitea, Baixo Urubamba, Alto Ucayali e afluentes. Habitam também as zonas do Gran Pajonal e de Sátipo. Seus territórios na República Peruana estão situados nos Departamentos de Loreto, Cuzco e Madre de Dios. Em território brasileiro localizam na Bacia do Juruá, junto aos afluentes Moa e Breu, e no alto Rio Envira e seu tributário Riosinho, nos municípios de Cruzeiro do Sul e Feijó, Estado do Acre. O território Asheninka limita-se ao sul e ocidente pela Cordilheira dos Andes com elevações superiores a 1500 metros de altitude; ao oriente e ao norte com a selva da Amazônia meridional e ocidental, habitada por grupos das línguas pano e aruak, como os Machiguenaga, Piro, Cunibo, Cushibo, Kulina, Kaxeinawá e outros. Os Asheninka brasileiros limitam seus territórios com os Kaxinawá, Kulina e tribos arredias que habitam os altos rios Jordão e Envira.

2. Demografia

Não há segurança em relação aos dados sobre a população Asheninka, devido a imprecisão dos métodos de levantamento utilizados, a inacessibilidade ao seu território, a amplitude de objeto dos trabalhos realizados e a confusão feita pelos estudiosos entre os Asheninka e os povos limítrofes e vizinhos. A inexatidão e insegurança dos dados demográficos aumenta em relação as fontes históricas.

Os dados disponíveis são contraditórios, parciais e estimativos. OSMBELA estimulou existirem em 1986 aproximadamente 20.000 indivíduos. A sua estimativa, entretanto, certamente considerou membros de outros grupos (1). CIPRIANI dava aos Asheninka apenas 2.000 pessoas ao máximo. Sua estimativa dava conta apenas dos Asheninka do Chanchamayo e do Gran Pajonal (2). EBERHARDT, VON HASSEL E NORDENSKJOLD elaboram estimativas que variavam de 10.000 a 15.000 indivíduos (3). GRUBB E FAST acreditavam em cerca de 30.000 à 40.000 pessoas (4). Um censo de 1940 considera um total de 350.000 índios na selva peruana, mas não especifica a população de cada grupo lingüístico. Segundo o antropólogo ROWE os censo são cálculos aproximativos e de pouco valor (5).

De acordo com VARESE é difícil aderir a quaisquer desses cálculos, mas, coloca como número que pode ser o mais aproximado da realidade a ordem de 20.000, considerando os machiguenga excluídos por constituir grupo lingüístico distinto (6). Em território brasileiro existem cerca de 370 indivíduos distribuídos em aproximadamente 13 aldeias, constituindo as do Rio Amônea a maior concentração populacional.

3. Classificação lingüística

Os Asheninka sempre foram considerados como pertencentes à família Aruak.

Foram considerados por Brinton, em 1891, como integrantes do “stock” lingüístico “Arahuaco”, que colocava com hipótese de que a zona do Gran Payonal e os rios adjacentes podiam constituir o centro de dispersão do “stock” inteiro (7). RIVET E TASTEVIN, consideraram os Asheninka como um dos grupos “Aruak pré-andinos”. Classificaram os grupos que habitam os pés dos Andes como sendo “Aruak pré-andinos”: 1. Os Pero ou Chontakiro do Ucayali, os Kuniba do Juruá e os Kanamaria . 2. Os Kampa ou Anti, ou Cachiganga ou Katongo. 3. Os Ipuriná e os Marawan. 4. Os Mareteneri, os Inapari e o dialeto Pajaguara (8). LOUKOTKA também utilizou a denominação pré-andina a sua classificação das línguas da América do Sul. Segundo o lingüística o Campa é um dos 14 idiomas classificados como “Aruak pré-andinos”. Confunde os Machiguenga com Kampa (9). Na classificação de MASON, 1950, há uma separação clara entre os Campa, os Machiguenga e os Piro (10). De acordo com STEWARD E FARON, baseados na classificação esquemática de J. GREENBERG, incluem os campa dentro da subfamília aruak e, esta, dentro da família andino-equatorial (11). SHELL, em 1958, congrega na família arawak pré-andina os Piro, os Machiguenga, os Campa, os Masco (Mashco), os Amuesha e os Nomatsigengua (também tidos como um subgrupo Campa) (12).

É consenso entre os Lingüistas de que os Asheninka pertencem à família Lingüística arawak, do Lingüístico Aruak.

A língua Asheninka conforme as regiões de origem dos seus falantes, possue variações. É possível detectar-se diferenças léxicas e fonológicas. De uma foram geral podemos afirmar que a língua Asheninka constitui-se dos seguintes fonemas: a, e, i, o, h, k, m, n, p, q, r, s, t, v, y, s (=sh), c (=ts), c (=tsh). Como todas as línguas ameríndias é polissintética. Alguns aspectos gramaticais observados dão ao Asheninka apenas dois tempos verbais: o da ação realizada e da ação não realizada; dois gêneros; masculino-animado e feminino-inanimado; a pluralidade não é indicada; os numerais são pouco desenvolvidos e são representadas por alguns termos bem definidos. As operações matemáticas não fazem parte do universo lingüístico tradicional dos Asheninka. Seu uso é recente e decorre das relações com os Brancos, cuja complexidade exige conhecimentos novos e instrução em língua espanhola e portuguesa. A escrita também não faz parte do contexto Lingüístico tradicional dos Asheninka.

4. Denominação

O termo Asheninka constitui-se autodenominação e significa literalmente “nossos camaradas”, e, ainda, povo, gente, compatriota, os atziri (seres humanos) (13). Este termo é utilizado pela maioria dos indivíduos para identificar a sociedade a que pertencem, uma entidade detentora de uma tradição comum, de um território, de uma cultura e organização própria, de língua particular, etc...
Historicamente os Asheninka receberam de parte da sociedade colonial espanhola do Vice-Reinado Espanhol do Peru e da sociedade nacional da República do Peru uma série de denominações. Nos séculos XVI e XVII eram conhecidos genericamente pelos designativos “Chuncho” e “Anti”, termos que serviram equivocadamente para denominar tanto os grupos tribais da selva como os da montaña. Outro termo utilizados pelos conquistadores e andinos para designar os grupos da selva foi “Pilcozones”. O termo “Campa” não constitui palavra da língua Asheninka e aparece em documentos missionários da segunda metade do século XVII. Sua origem é incerta (14). Parece possuir conotação depreciativa. É utilizado pelos Brancos, mas não pelos Asheninka para designar a si mesmos; apenas como uma palavra estrangeira reconhecida.
Atualmente permanece o termo Campa como denominação mais usada para identificar os Asheninka (15). Entretanto, para o grupo, o único termo utilizado continua a ser o da autodenominação Asheninka.
A confusão e ambivalência das denominações atribuídas aos Asheninka denotam o descaso e o etnocentrismo a que foram historicamente relegados . A manutenção da autodenominação Asheninka ao longo de mais de quatro séculos de conflito com as sociedades espanhola, peruana e brasileira refletem o grau de resistência oferecido por esta sociedade contra os mais diversos processos de denominação, inclusive o Lingüístico.

5. Organização Econômica

Como a maioria dos grupos da selva amazônica e da América do Sul praticam a agricultura de corte e queimada (coivara). Esta prática também é conhecida por cultura de roça. Estudos de etnologia, geografia humana e econômica agrária demostram que existe uma profunda vinculação entre as sociedades indígenas e a agricultura de roçado e coivara.
Este tipo de agricultura praticado tradicionalmente na Amazônia também é conhecida como agricultura itinerante (16). Esta modalidade implica em cultivar-se de duas a cinco vezes uma mesma área e, em seguida, abandonadá-la à vegetação rasteira de rápido crescimento. Enquanto isto são desenvolvidos novos roçados e novos cultivos em terras virgens, relativamente próximos. Esta prática permite a regeneração natural da estrutura de solos, sobretudo da camada de humus das áreas esgotadas. Quando a nova estiver exaurida, ou seja, após aproximadamente cinco anos de cultivos, os agricultores tornam à área antiga para recomeçar o ciclo. A mudança de roçado e habitações nem sempre ocorre concomitantimente. Às vezes o novo roçado dista apenas 300 a 500 metros do antigo.
Nem sempre o esgotamento do solo é razão de mobilidade habitacional. Existem outras razões de ordem social e religiosa responsáveis pelos deslocamentos. A interação entre uma e outra causa ainda foi suficientemente investigada (17).
O principal item da agricultura Asheninka e da sua dieta alimentar e o kawiri (macaxeira, yuca, aipim, mandioca). Os Asheninka distinguem e cultivam até trinta variedades de mandioca, sendo a Manihot sclenta a mais aparecida. Compõe a base alimentar quotidiana. Consome-se cozida, assada ou como bebida fermentada (piarentsi ou massato).
Outras plantas completam as necessidades de subsistência das aldeias Asheninka. Entre elas o feijão peruano ou feijão de praia (matshaki. Os Asheninka conhecem sete variedades), o mamão (mapotsha), bananas (parenti),
Milho (tshinki),amendoin (inki), batata doce (koriti), cana de açúcar (tshanko), abacaxi (tivana), melancia (santira) limão (irimaki), laranja (naranka),ingá (intsipa),etc.
Além das plantas de uso alimentar os Asheninka cultivam plantas para o vestuário, o algodão (ampéhi), e o genipapo (ana); plantas para tinturaria, oyepári, iyórita, oyétshari; plantas de uso ritual: coca (koka), tabaco (potsharo), cipó Banistereopsis caapi (kamárampi, hananerótsa), chacrona (hayapa); ervas madicinais , o Cyperus piripiri (ivenki), o pinistsi, etc; ervas venenosas utilizadas nas pescarias e caçadas, kómo, pitishi e o vakashi (18).
As atividades de caça e pesca complementam a subsistência, fornecendo as proteínas necessárias para completar a dieta alimentar do grupo (19). Entre os peixes mais apreciados estão o mandi, o jundiá, a traíra, o surubim, o tambaqui, etc. A proteína animal é obtida de répteis, mamíferos e aves silvestres, tais como o jacaré, o lagarto, a paca, a capivara, a anta, o queixada, o veado, o macaco, o jacamim, o nhambú, o jabuti, o tracajá, etc.
A coleta constitui tarefa de jovens, crianças e adultos tonto do sexo feminino, como do masculino. Os principais itens de coleta são pupunha, cacau silvestre, o mel, o óleo de capaíba e animais como o jaboti e o tracajá.
A divisão social do trabalho é manifestada sobretudo na distribuição sexual de atividades. Na família conjugal Asheninka compete aos homens caçar, pescar, coletar, colher, preparar, limpar e plantar os roçadores; construir as habitações; manufaturar os equipamentos de caça e pesca (arco, flechas, arpões); construir embarcações (ubás, remos, jangadas, etc); coordenar e chefiar os empreendimentos coletivos (pescarias, caçadas, rituais e negócio). Ás mulheres cabe executar diariamente as atividades de cozinha e preparo dos alimentos; a colheita de kaniri para a refeição diária; cuidar de todo o processo de tecelagem dos kusmas, bolsas e outras peças; colher o algodão, limpar, fiar, tecer e tingir; fabricar cerâmicas, esteiras, cestas e outros utensílios de uso doméstico; cuidar dos recém nascidos e das crianças.
Existem algumas atividades que requerem a participação de um grande número de pessoas. As pescarias, por exemplo, reúnem pessoas de diversas famílias e, às vezes, até de outras aldeias. Utilizam-se ervas, venenosas e anestesiantes que, após maceradas, formam uma espécie de pasta a ser dissolvida nos locais de água parada, geralmente igarapés ou lagos.
A propriedade e posse da terra está restrita ao roçado e à casa. Não existe a figura jurídica de propriedade na cultura Asheninka. Os equipamentos, o roçado, etc são de quem os utiliza, os confecciona e prepara. As áreas de caça e pesca pertencem a todos. Os artefatos produzidos pela família (arco, flechas, kusmas, esteiras, tambores, cachimbos, etc) são de uso individual e privativo e podem ser permutados livremente por gêneros alimentícios ou outros utensílios. Existe solidariedade entre as famílias que já estão estabelecidas e as recém chegadas.
As atividades comerciais são freqüentes podendo ser constatadas entre as diversas aldeias e entre os Asheninka e os regionais proprietários de estabelecimentos comerciais urbanos, regatões e fazendeiros. Entre os Asheninka da-se uma relação simples de troca, conforme a necessidade e o desejo dos possuidores dos produtos e utensílios a serem trocados. Com os regionais a atividade comercial é mais complexa. Geralmente vendem as colheitas de feijão, ou o produto de extração madeireira (mogno, cedro. No passado, seringa) segundo as cotações do núcleo urbano de referência comercial mais próximo (no Acre, Feijó e Cruzeiro do Sul; no Amazonas, Eirunepé). Resulta desta transação pagamento em moeda e em espécie. Com o dinheiro apurado na venda, são adquiridas bens industrializados disponíveis no mercado local (óleo comestível, óleo lubrificante, gasolina, querosene, sal, açúcar, café, lanternas, roupas, perfumes, rádios, toca discos, etc). A atividade de troca e comércio constitui uma constante na cultura tradicional Asheninka.

6. Organização Social e Sistema de Parentesco.

A família elementar ou conjugal é a base da sociedade e da economia Asheninka. Marido, mulher, filhos, filhas. Entretanto, esta base ou unidade social não permanece estática. Existe flexibilidade. A família conjugal Asheninka insere-se numa rede de relações que vai desde os vínculos de parentescos propriamente ditos até vínculos de natureza comercial que são estabelecidos entre as aldeias Asheninka, com outras sociedades indígenas (Kulina, Kaxinawá, Machiguega, Cunibo, etc). e com os segmentos regionais da população nacional peruana e brasileira (regatões, marreteiros, seringueiros, caucheiros, madeireiros e comerciantes).
O casamento constitui um fato cultural complexo. Representa a instituição social responsável pelo engendramento de novas famílias e pelo prolongamento das famílias já constituídas. O matrimônio estabelece também vínculos de parentesco diferentes das relações consagüíneas.
A sociedade Asheninka como todas as sociedades possui mecanismos para regular o casamento consangüíneo, de forma que a harmonia do grupo e a cooperação familiar não sejam perturbadas. O principal mecanismo regulador reconhecido universalmente pelas culturas é a proibição do incesto (20).

O casamento ideal ou preferencial entre os membros da sociedade Asheninka é o que tem como esposos primos cruzados, mas quando um certo primo cruzado não está disponível, qualquer pessoa do sexo oposto pode ser tomada como consorte, desde que não seja parente próximo.

O casamento é admitido sem cerimônia alguma após o interessado obter a aprovação dos pais da moça ou seus tutores, presumindo-se que ela não seja contrária à aliança.

O casamento implica uma obrigação por parte do casal em residir próximo aos pais da esposa. A norma da uxori-localidade é rigorosamente observada, apesar de possuir duração determinada. Neste período o genro prestará serviços, na agricultura ou em outras atividades aos pais da consorte. Alguns informantes de aldeias do Alto Rio Envira revelaram ser esta prática uma espécie de pagamento ao sogro pela cessão da filha (21).
Apesar da família conjugal Asheninka ser na sua maioria uma família monogâmica, há incidência de casos de poligamia associada aos homens de maior prestígio no grupo (22). O sororato é encontrado em algumas aldeias, porém sua ocorrência é mínima.
Não existe famílias extensas, linhagens, sibs ou metades, ou seja, o parentesco consangüíneo e grupos de residência estão praticamente ausentes. Apesar das famílias conjugais Asheninka possuírem uma tendência atomística, as relações de parentesco são reconhecidas por toda a tribo. A rede de interrelações sociais constitui uma rede primária de parentesco. Os indivíduos são mais identificados em termos das suas relações de afinidade ao falante, ou pessoa conhecida, do que pelo nome (apelidos geralmente dados na infância). Os Asheninka possuem um sistema de parentesco que pode ser considerado como pertencente ao tipo Iroquês. A reprodução, criação e educação das crianças segue algumas normas de natureza cultural. Ambos, pai e mãe, comem uma seleta variedades de alimentos durante a gravidez, para assegurar um parto fácil e um herdeiro normal (23). Em seguida ao nascimento, os pais permanecem vários dias em casa. Abstém-se de comer alguns tipos de alimentos que acreditam prejudicar a si e ao recém nascido. As observâncias vão sendo progressivamente levantadas e terminam quando a criança começa a andar (24).
Entre os Asheninka a puberdade de uma moça cumpre uma série de procedimentos culturais: é confinada por vários meses a um recinto na casa principal, onde é atendida pela mãe e recebe uma dieta alimentar restrita. Passa o tempo fiando algodão. Durante este período não pode conversar com qualquer homem, nem pode permitir que qualquer homem veja sua face. No final desta prova terá os cabelos cortados e será pintada com ána (Genipa oblongifolia). A seguir ela se manifesta e é honrada com alguma festa. A partir de então a jovem moça está pronta para o casamento (é matrimoniável). Aparentemente não existem ritos de puberdade para os jovens, apesar de haverem sido constatados alguns comportamentos diferenciais em jovens nesta idade (25).
A terminologia de parentesco Asheninka descreve com precisão os ascendentes e descendentes de Ego de duas a quatro gerações cada. Alguns termos são aqui consignados: chaine e nato (itzá),são aplicados aos avós de Ego; apa e ina constituem os pais; koki e airontsi designam tanto os tios maternos como os tios paternos da geração acima de Ego. Na mesma geração, os termos iyenti e tsiontsi indicam irmão e irmã respectivamente; nojina, esposa; naro, Ego; ani, cunhado; tsionti e nojinatsori, cunhados. A geração imediatamente abaixo de Ego tem noshinto, filha; notomi, filho; noti e motonissori, sobrinhos; anioki e noshintotsori, sobrinhas. A segunda geração abaixo de Ego é expressa por nosaro, neta; chaine, neto. A terceira geração, sameti e niompare, bisnetos; campiro, compatiro, niomparo, bisnetas. A quarta geração, niomparo, tataraneta; niompari, tataraneto.

7. Religião, Mitologia e Xamanismo.

A cultura Asheninka é fortemente marcada pela organização religiosa. Todas as instâncias, da economia ao social, evidenciam uma relação com o nível espiritual (26). Embora não seja possível precisar a intensidade da religiosidade no quotidiano, as condutas, explicações místicas e rituais são uma constante.
A mitologia Asheninka revela uma grande variedade de seres sagrados e forças existente no cosmos e na natureza, bem como os eventos que, sucessivamente, vão se integrando ao seu universo cultural; exemplo: a origem e presença dos Virakocha (os Brancos). Para os Asheninka o mundo forma um conjunto sagrado de forças e potências que são manifestadas através dos mitos, narrativas tradicionais presentes ao quotidiano.
A instituição básica do sistema religioso dos Asheninka é conhecida como fraternidade dos xamãs. Constituem uma categoria de médico-religiosos que agem, individualmente, para compelir pretensões mútuas. São denominados shiripiari, sendo o mais aperfeiçoado conhecido como antiáviari. São pessoas adultas do sexo masculino que conseguem o status de shiripiari, após um ano de árdua e rigorosa aprendizagem que compreende abstinência de todas as atividades sexuais, restrições alimentícias, uso contínuo de narcóticos (tabaco e ayuasca), etc.
Na qualidade de líder religioso o shiripiari dirige os rituais de ayuasca, organizados por eles com muita freqüência. A ayuasca ou kamarampi é preparada através da ebulição da mistura de um tipo de trepadeira (Banisteriopsis sp) (27) e de folhas da planta silvestre horóva. Ao cair da noite o shiripiari bebe uma certa quantidade do Kamarampi e a seguir passa para os demais que se reúnem na sua casa. Quando o efeito começa, o shiripiari entoa cânticos os quais serão acompanhados pelos presentes até cessar a influência do narcótico. Segundo testemunho de um shiripiari do Alto Rio Envira, ao cantar, ele dialoga e repete o que os espíritos bons estão cantando. Nestas cerimônias os espíritos bons dançam e cantam na miração (visão produzida pela ingestão do Kamarampi).
Como médico o shiripiari é frequentemente requisitado para examinar pessoas que se encontram acometidas de algum mal. Ao examinar o paciente com o intuito de diagnosticar a causa da doença, o ele procede soprando tabaco sobre a parte afetada do corpo e, em seguida, a succiona. Com base nesta técnica de sucção apresenta o seu diagnóstico. Ele pode atribuir a doença ao demônio, Kamari, a uma bruxa humana ou não humana, matsi, ou a uma alma perdida (28). O shiripiari enquanto médico examina, prescreve e diagnostica, mas deixa por conta dos familiares dos pacientes tomar medidas necessárias à cura.
As mulheres possuem amplo conhecimento de ervas. Algumas chegam a examinar pacientes e aplicar a técnica chamada tsionkanci que consiste na introdução de pedras incandescentes em um pote de água com folhas selecionadas para produzir vaporização. O paciente posta-se sobre o pote e o vapor sobe sob sua roupa. No final o pote é examinado pela mulher à procura de objetos que se despreendem do corpo do paciente para dentro do pote, similar aos extraídos por sucção pelo shiripiari.
Os shiripiari são respeitados e gozam de grande prestígio no grupo. Constituem o recurso extremo em épocas de doenças graves. São os únicos que podem comunicar-se como os espíritos; interpretar e narrar mitos; são autoridades em crenças cosmológicas; presidem rituais; indicam regras e observâncias, etc. Seus poderes advêm do contìnuo consumo de tabaco e Kamarampi, que lhes permite falar com espíritos, prever fatos,”viajar ao longe”, etc. Existem shiripiari que possuem contato como espíritos maus, os jaguari da noite. Seus espíritos transformam-se em jaguare que atacam as pessoas que dormem. As rivalidades entre shiripiari produzem acusações desta natureza. Contra um shiripiari não é utilizada a violência.

CONCLUSÃO

As considerações sobre os diversos aspecto que integram a totalidade sócio-cultural Asheninka permite inferir as seguintes conclusões:

ª O termo “Asheninka” significa “nossos camaradas”, “nosso povo”, “nossa gente” e constitue autodenominação pela qual os Asheninka se identificam e se reconhecem. Os designativos “Campa”, “Pilcozones” e “Chuncho”, constituem gentílicos pejorativos e estígmas atribuídos pelos segmentos regionais da sociedade nacional peruana e brasileira.
b. Os Asheninka ocupam uma área territorial não contínua de cerca de 150 mil km quadrados, constituída de regiões serranas e de planície amazônica, em território peruano e brasileiro. Suas aldeias localizam-se, no Brasil, junto ao curso Superior do Rio Juruá e seus afluentes Breu e Amônea, e do Alto Rio Envira e seu tributário Riosinho; no Peru às margens e afluentes dos Rios Apurimac, Ene, Tambo, Chanchanyo, Pichis, Pachitea, Baixo Urubamba, Alto Ucayali, e as zonas do Gran Pajonal e Satipo.
c. Apesar da falta e confusão de dados demográficos estima-se existir cerca de 30 mil indivíduos nação Asheninka.
d. Os Asheninka constituem uma sociedade cujo idioma, o Asheninka, pertence ao tronco lingüístico aruak e é falado através de diversas variações dialetais.
e. Como a maioria dos grupos que habitam a selva amazônica os Asheninka desenvolvem uma agricultura de subsistência baseada na técnica de corte e queimada (coivara), obedecendo o ciclo agrícola itinerante, cultivam produtos agrícolas (mandioca, feijão, arroz, banana, mamão, etc) e complementam sua dieta alimentar como produtos de caça, pesca e coleta. Para obetenção de bens de consumo junto aos regionais praticam o extrativismo madeireiro.
f. A organização social Asheninka tem por base a família elementar ou conjugal. O casamento representa a instituição social responsável pelo engendramento e prolongamento das relações familiares. Ao casar-se genro passa a fixar residência junto aos pais da esposa, os sogros. O casamento preferencial é entre primos cruzados. São constatados casos de poligamia, inclusive na forma sororal. Existem prática rituais de puberdade em relações às mulheres. O sistema de parentesco Asheninka é de

tipo Iroquês.

g. A cultura Asheninka é fortemente marcada pela dimensão religiosa. A mitologia é rica e vasta e diz respeito a todos aspectos de organização social, econômica e cultural, dos assuntos mais simples aos mais complexos. O Xamanismo constitui uma instituição importante na sociedade Asheninka,

Tendo o Xanã funções religiosas e médicas.

Estes caracteres formam um conjunto sócio-cultural e denotam uma totalidade cujas instituições encontram-se inter-ligadas e integradas. A formação sócio-econômica Asheninka constitui uma estrutura e um sistema dinâmico, no qual, os Asheninka, reconhecem-se como sociedade diferente e estão inseridos dentro de um contexto ecológico peculiar e de uma cultura específica, que se opõe, em maior ou menor grau, às demais sociedades tribais vizinhas, e às formações sócio-econômicas regionais peruanas e brasileiras. Nesta perspectiva torna-se possível compreender e definir sociedade e cultura Asheninka.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


(1) OSAMBELA, Claudio. El Oriente del Perú. Boletin de la Sociedad Geográfica de Lima. Lima, (I. VI. Nos. 4, 5, 6): 220, 1986.

(2) CIPRIANI, Cesar. Informe del ingeniero sobre la ruta Perené-Ucayali Lima, Imprenta del Estado, 1906, p. 57.

(3) HASSEL, J. M. Von. Las Tribus salvajes de la region amazônica del Perú. Boletin Sociedad Geográfica de Lima. Lima (Año XV, trim I, T. XVII): 31-32, 1905. EBERHARDT, Charles. Indians of Peru. Smithsonian miscelaneous collection (Vol. 52): 184. NORDENSKJOLD, O tto. Explorations chfz les Indies Campas dans le pérou. Meddelande fran Geografiska Formeningen i Goteborg (III): p. 6. 1924.

(4) GRUBB, Kenneth. The Iowland Indians of Amazonia. London, Word Dominion Press, 1927, p. 86. FAST, Pedro. Distribuicion geografica de 30 naciones aborígenes em la Amazonia Peruana. Lima, Ministério de Educacion Pública, 1961, p. 4.

(5) ROWE, John. The distribution of Indians and Indians languages in Peru. Geographical Review, New York (XXXXVII, No. 2):213, 1947.

(6) VARESE, Stefano. La Sal de los Cerros. Lima, Retablo de Papel, 1973, p. 44.

(7) BRINTON, Daniel 6. A raza Americana. Buenos Ayres, Ed. Nova, 1946, p. 224.

(8) RIVET, Paul y TASTEVIN, C. Les langues du juruá et de régions limitrophes. I. Le groupe arawak preandin. In: Antropological Papers, No. 8, V. 73, semdata, pp. 857-859.

(9) LOUKOTKA, Chestmir. Classification de las lenguas sudamericanas. Praha, Edic. Lingüística Sudamericana, No. 1, 1935. P. 21.

(10) MASON,Alden J. The Languages of Sowth American Indians. HSAI, v. 6, P. 213.

(11) STEWARD, Julian e FARON, Louis. Native People of Sonth America. New york, McGraw Hill Book Company, 1959, p. 22.

(12) SHELL, Olive A . Grupos Indiomáticos de la selva Peruana. Lima. Instituto de Filosofia de la Faculdad de Letras de la Universidad Mayor de San Marcos, 1958, pp. 4-7.

(13) Utilizam também o termo “noshaninka”, minha gente, minha família.

(14) Stefano Varese reforça a hipóteses da origem “pano” do termo Campa. Porém outras hipóteses podem ser aduzidas, como por exemplo, a origem tupi-guarani do termo. A língua tupi-guarani tornou-se um idioma de grande difusão na Amazônia e América do Sul durante o período colonial. VARESE, S. op. cit. ,p. 143.

(15) As evidências de que o termo “Campa” está historicamente carregado de conotações depreciativas são facilmente detectáveis. Até os dias atuais esta conotação é mantida tanto pelos etnólogos como pelos historiadores. Será que conseguiram neutralizar as conseqüências de uma denominação excusa ou apenas reproduzem ingenuamente as sequelas da ideologia ocidental?

(16) Betty Meggers, revê a tese do determinismo ambiental ao analizar os procedimentos da agricultura indígena nas várzeas e nas terras firmes da Amazônia. Conclui pela relevância dos métodos indígenas de cultivo, como resposta ecologicamente adequada ao meio ajmbiente (ver neste sentido MEGGERS, Betty. Amazônia: a ilusão de um paraíso. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, p. ). Já Roberto Carneiro, ao contrário, vê na rotatividade dos roçados outras razões de ordem cultural, não que apenas o exaurimento dos solos (CARNEIRO, Roberto. ”Slash-and-burn agriculture... Nen and Culture., University of Pennsylania Press, 1960. Pp. 230-234.)

(17) Apesar do esgotamento dos solos representar razão importante para mobilidade habitacional e, consequentemente, de roçado, há outras razões sociais e religiosas que provocam mobilidade. Entre as causas sociais: a troca de residência do homem após seu casamento é uma constante na cultura Asheninka. O nubente passa a residir próximo aos pais da esposa (residência uxorilocal). Esta mudança, entretanto, não possui caráter definitivo. A principal causa religiosa para mudança de local de habitação e cultivo é o sepultamento de um adulto da família no local.

(18) O roçado de uma família Asheninka pode contar com mais de 40 espécies de plantas.

(19) Nem todos os Asheninka tem o mesmo acesso à caça e pesca. As comunidades que residem em regiões interfluviais, nos altiplanos próximos à Cordilheira e no Gran Pajonal possuem um meio ambiente pobre em vida animal, já que estes encontram-se mais próximos aos rios. Estas comunidades, ás vezes, organizam incursões aos rios onde se provêm de caça e pesca.

(20) Entre os Asheninka, a proibição do incesto constitui um dado eminentemente cultural, nada tendo de biológico.

(21) A família que concede apenas filhos varões não está destinada ao fracasso porque a norma de uxorilocalidade é temporária e o marido também pode buscar novo enlace, com uma mulher que lhe proporcione filhas.

(22) Nas aldeias do Alto Rio Envira encontrou-se casos de poliginia na forma de sororato não vinculados ao prestígio da pessoa no grupo.

(23) Os procedimentos do parto compreendem: o assoalhado da casa é totalmente limpo e arejado, uma esteira ou roupa lavada é estendida e sobre a qual a gestante posiciona-se de cócoras segurando-se uma barra de madeira no sentido de facilitar as contrações. Durante o tempo necessário ao parto, a mulher que dá a luz, é auxiliada por uma parteira, pela mãe ou pela sogra.

(24) As mães amamentam seus filhos até os 2 anos, ou até o nascimento de um novo filho. Suplementam a alimentação infantil com alimentos mastigados e líquidos (mingaus) a partir de dois meses do nascimento. A desmama é induzida quando a criança atinge cerca de dois anos, colocando-se suco ou melado de tabaco no mamilo. Os pais ou tutores criam, educam e castigam a criança, se necessário.

(25) Na aldeia Cocassul no Alto Rio Envira observou-se uma conduta diferencial em adolescente do sexo masculino, relacionada ao vestuário. Esse aspecto necessita novas observações.

(26) A instituição da troca representa um fato cultural significativo na sociedade Asheninka. O intercâmbio de dons e bens da natureza mantidos pela tradição não tem apenas significado econômico e social, representa, ainda,comunhão entre pessoas e grupos, num sentido, evidentemente espiritual.

(27) A Banistereopsis caapi é conhecido na Amazônia Ocidental com a denominação vulgar de cipó. A bebida alucinógena produzida desta trepadeira também recebe o nome de cipó.

(28) As providências a serem tomadas pelo shiripiari neste casos são: se a doença for causada por um espírito perdido, o shiripiari envia sua própria alma à sua procura; se for por uma feitiçaria humana, separa o culpado que é obrigada a desenterrar os materiais enfeitiçados que enterrou ao redor da casa ( se o paciente morre, a bruxa é executada ou vendida aos Brancos); se forem bruxas não humanas (formigas, abelhas, ervas, bebidas), são feitos esforços conjuntos para destruí-los. Se for por um demônio passante); se for por confronto direto com um demônio de natureza imaginária, não há nada a fazer, espera-se a morte do paciente.

Fonte: MINISTÉRIO DO INTERIOR - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO-FUNAI

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PLANO DE CURSO: Economia Solidaria

P L A N O D E CURSO


1. IDENTIFICAÇÃO

CURSO: Economia Solidaria

CARGA HOR.: 40 h.

INSTRUTORA: Rosangela  Nascimento Barros - ROSA


2. OBJETIVOS

2.1 - Geral

Proporcionar ao aluno um conhecimento histórico e social dos princípios e fundamentos em Economia Solidaria, além de apresentar a Economia Solidaria diante da preocupação global, nacional e regional do Desenvolvimento Sustentável e assim formar vinte jovens em economia solidaria, visando melhores condição de vida, geração de trabalho e renda, além do incetivo na inserção em associação ou cooperativas.

2.2 - Específicos

 Buscar alternativa para criação de assciações e cooperativas;

 perceber a economia solidaria como principio de desenvolvimento local e coletivo;

 apresentar valores humanistas que norteiam a solidariedade;

 ajudar na organização social para conquista de novos direitos e efetivação daqueles já garantidos legalmente;

 elevar auto-estima e autonomia dos jovens;

 criar novas formas de sociabilidade, fundada no afeto, na democracia participativa, solidariedade e autogestão;

 perceber melhores condições materiais de vida dos jovens envolvidos;

 apresentar formas de compreensão do funcionamento da sociedade, para poder transforma-la.

3. METODOLOGIA

As aulas serão expositivas e dialogadas para a intervenção dos alunos, com recursos audiovisuais; Leituras e interpretação de textos e artigos acompanhados de debates: resolução de questionários; Exibição de vídeos; atividades em grupos; dinâmicas de grupo, além de cânticos para mistica de aberturas das aulas.

4 AVALIAÇÃO

4.1 – Formas de Avaliação

Serão realizadas atividades sistemáticas durante o Curso que avaliarão a apreensão do conteúdo; nível de participação, capacidade de absorvição dos conteúdos, serão utilizadas questionário, além da avaliação do Instrutora, uma auto avaliação dos alunos.

5. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

 A Economia Solidaria: Princípios e Fundamentos;

 A Economia Solidaria no Plano de Qualificação;

 A Economia Solidaria no contesto social, cultura e econômico global, nacional e regional.


7. BIBLIOGRAFIA

7. 1 – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Mello, Sylvia de. Economia Solidaria e Auto gestão. São Paulo, 2006.

 Arroyyo, João Claudio Tupinambá e Schch, Flávio Carmargo. Ecomnomia Solidaria e Popular. São Paulo, 2006.

 Lei de Segurança Alimentar e Nutricional. CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Setembro de 2006.

 I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária. Ministério do Trabalho e Emprego. Documento Final. Brasília, 2006.

 Mobilização e educação cidadã. Programa Fome Zero. Brasília agosto de 2004.

 Mobilização e educação cidadã: Cantar a cidadania. Brasília agosto de 2004.

 Termo de Referência em Economia Solidaria: Plano Nacional de Qualificação 2003 – 2007. Ministerio do Trabalho e Emprego. Brasília agosto de 2005.

 ANAIS; I Conferencia Nacional de Economia Solidaria. Brasília junho de 2006.

 Textos da Internet: Programa Fome Zero.

 Textos da Internet: Metas do Milênio e os Compromissos Internacionais.

 Mello, Sylvia de. Economia Solidaria e Auto gestão. São Paulo, 2006.

 Arroyyo, João Claudio Tupinambá e Schch, Flávio Carmargo. Ecomnomia Solidaria e Popular. São Paulo, 2006.

7. 2 - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

. Sexo & Repressão na Sociedade Selvagem, de Bronislaw Malinowski, Editora Vozes, 2ª edição
• Saberes Globais e Saberes Locais: o olhar transdisciplinar, de Edgard Morin com participação de Marcos Terena, Editora Garamond
• Paixões, de Jacques Derrida, Editora Papirus
• História da Sexualidade: 1, a vontade de saber, de Michel Foucault, Editora Graal, 13ª edição
• Para uma Política da Amizade – Arendt, Derrida, Foucault, de Francisco Ortega, Editora Relume-Dumará
• Um deus para hoje, de Andrés Torres Queiruga, Editora Paulus
• Las Casas: Deus no outro, no social e na luta, de Frei Carlos Josaphat, Editora Paulus
• Centro Bíblico Verbo – No amor e na ternura a vida renasce, Oséias: roteiros e orientações para encontros, Editora Paulus
• A guerra e o silêncio de deus, Comentário teológico na atualidade, de Bruno Forte, Editora Paulinas
• Ética: Pessoa e Sociedade, documentos da CNBB – 50, Edições Paulinas
• O corpo e seus símbolos, uma antropologia essencial, de Jean-Yves Leloup, Editora Vozes, 12ª edição
• Drogas: está na hora de legalizar? Proibir deu certo na Suécia. Liberar funcionou na Holanda. Qual é a melhor solução para o Brasil?, por Tarso Araújo, Revista Superinteressante, edição 244 – Outubro/2007
• Drogas o que fazer a respeito?: após um século tentando eliminar, o mundo descobriu que é impossível. Saiba como conviver com elas. Por Rodrigo Vergara. Revista Superinteressante, edição 172 – janeiro/2002
• A busca pelos sinais históricos da vida de Jesus, Revista Veja, edição 1884, ano 37 – nº50, 15 de dezembro de 2004
. Jesus, Ano 2000. Os desafios do cristianismo no III milênio, Revista Veja, edição 1628, ano 32 – nº 50, 15 de dezembro de 1999.
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ROSANGELA  NASCIMENTO BARROS

INSTRUTORA ECOSOL

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quando fui Voluntária na Cáritas Diocesana de Rio Branco


I – IDENTIFICAÇÃO Cáritas Diocesana de Rio Branco:



A Cáritas Diocesana de Rio Branco foi criada em 2002, das vinte uma Paróquias desta Diocese, cinco criaram a Cáritas Paroquial. A Cáritas é um organismo da Diocese de Rio Branco, responsável pela área Social da mesma como articuladora das Pastorais Sociais. A Cáritas Diocesana vivencia, na Igreja a dimensão de serviço na perspectiva sócio transformadora da evangelização e na opção solidária pelos pobres e excluídos, como órgão ligado a Igreja Católica tem representatividade em quase todas as paróquias. Com organização própria, associada á Cáritas Brasileira. Tem como missão: Promover, animar e organizar a prática da justiça e da solidariedade com os excluídos da nossa sociedade contribuindo na construção de alternativas para que todas as pessoas tenham direitos iguais a uma vida digna.
Tendo como base os desafios e as potencialidades presentes na realidade local, são várias as possibilidades assumidas que brotam de sua missão. Tendo somente três anos de existência. A Cáritas Diocesana necessita de mais estrutura, para facilitar a melhor coordenação dos projetos e fortalecimento da solidariedade junto ás populações empobrecidas de forma organizada e participativa.

II - As linhas de Ação da Cáritas Rio Branco

As ações da Cáritas Diocesana em Rio Branco assume a responsabilidade na animação, apoio e articulações das Pastorais Sociais, movimentos e organizações que agem em defesa da vida, especialmente aos mais necessitados. As diversas iniciativas existente da Cáritas não estão num processo continuo de atividades, pois a falta de recursos humano que impossibilita a realização das ações necessária para uma organização mais eficaz.

Diante da realidade visamos o fortalecimento e a organização da Cáritas Diocesana através de mais recurso humano. A Diocese de Rio Branco está constituída por vinte e uma Paróquia e várias comunidades, portanto para o desenvolvimento do trabalho de organização e fortalecimento das Cáritas nessas Paróquias e comunidades, faz-se necessário um quadro funcional para o acompanhamento de forma mais sistemática das atividades em desenvolvimento aos objetivos dos serviços de evangelização, assim se a irmã Ester e o Dom Joaquin gostassem de trabalhar estaríamos formado agentes voluntários para as Pastorais, porém diante do que fizeram comigo ninguém se dispõe aos serviços voluntário...

O que é a Cáritas?


A Rede Caritas Internationalis tem sede em Roma e abrange todas as Cáritas nacionais, incluindo a Brasileira. É subdividida em 7 regiões: América Latina e Caribe, África, Europa, Oceania, Ásia, América do Norte e MONA (Oriente Médio e Norte da África).
Ela atua com abertura ecumênica, estabelecendo parcerias com organismos nacionais e internacionais pelo resgate dos direitos humanos. A Caritas Internationalis é reconhecida pelo Conselho Socioeconômico da ONU como de "status consultivo geral".

O que são?

As Cáritas lusófonas são: Cáritas Angola, Cáritas Brasileira, Cáritas Caboverdeana, Cáritas Guiné-Bissau, Cáritas Moçambicana, Cáritas Portuguesa, Cáritas São Tomé e Príncipe e Cáritas Timor Leste. Para obter os contatos de cada uma, breves informações de cada país e carregar a revista do 2º Encontro Internacional das Cáritas dos Países Lusófonos basta acessar os links abaixo:

Quem Somos no Brasil

A Cáritas Brasileira faz parte da Rede Caritas Internationalis, rede da Igreja Católica de atuação social composta por 162 organizações presentes em 200 países e territórios, com sede em Roma. Organismo da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi criada em 12 de novembro de 1956 e é reconhecida como de utilidade pública federal.
Atua com diversas cores e sotaques, com uma mística e um trabalho ecumênicos. Seus agentes trabalham junto aos excluídos e excluídas, muitas vezes em parceria com outras instituições e movimentos sociais. Atualmente, a Cáritas Brasileira tem quatro linhas de ação, presente em nove regionais

Começo da Cáritas no Brasil

A Cáritas Brasileira foi fundada em 12 de novembro de 1956 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 3ª Assembléia, realizada em Serra Negra, São Paulo, e presidida por D. Hélder Câmara. A finalidade inicial era de articular, nacionalmente, todas as obras sociais católicas e coordenar o Programa de Alimentos doados pelo governo norte-americano através da CNBB.
 A Cáritas era ligada ao seu Secretariado Nacional de Ação Social e foi criada num contexto em que o serviço social era visto como um amenizador das chagas sociais do capitalismo.
O Programa de distribuição de alimentos desenvolveu-se dentro da concepção de "Desenvolvimento da Comunidade". Essa concepção marcou a Cáritas sobretudo até os anos 60.

Cáritas Brasileira: novo rosto

Missão

A Cáritas Brasileira testemunha e anuncia o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo a vida, promovendo e animando a solidariedade libertadora, participando da construção de uma nova sociedade com as pessoas em situação de exclusão social, a caminho do Reino de Deus.
A palavra Cáritas é de origem latina e significa "caridade", podendo ser traduzida como: "solidariedade". A verdadeira Caridade é muito mais que "dar o peixe a alguém", embora em várias situações isso seja necessário.
Viver a Caridade significa assumir o compromisso e o desafio de ser verdadeiramente solidário com os oprimidos, injustiçados, vítimas de violência e discriminações.
Nesse contexto, muitas vezes é preciso "ensinar a pescar" e desenvolver a cultura da solidariedade entre os povos. E mais: é preciso "pescar juntos", ou seja, os excluídos e excluídas se tornam construtores de sua própria história.

Nossa Inspiração

A palavra Cáritas é de origem latina e significa "caridade", podendo ser traduzida como: "solidariedade". A verdadeira Caridade é muito mais que "dar o peixe a alguém", embora em várias situações isso seja necessário.
Viver a Caridade significa assumir o compromisso e o desafio de ser verdadeiramente solidário com os oprimidos, injustiçados, vítimas de violência e discriminações.
Nesse contexto, muitas vezes é preciso "ensinar a pescar" e desenvolver a cultura da solidariedade entre os povos. E mais: é preciso "pescar juntos", ou seja, os excluídos e excluídas se tornam construtores de sua própria história.
A Cáritas inspira-se nas ações de Jesus Cristo pela Humanidade, lutando pela cidadania e pelo resgate da dignidade dos excluídos e excluídas e trabalhando por um mundo mais solidário. Afinal, o Reino de Deus tem que começar já nesta Terra.

A Cáritas inspira-se nas ações de Jesus Cristo pela Humanidade, lutando pela cidadania e pelo resgate da dignidade dos excluídos e excluídas e trabalhando por um mundo mais solidário. Afinal, o Reino de Deus tem que começar já nesta Terra.

Linhas de Ação

Linha 1: Defesa e Promoção de Direitos da População em Situação de Exclusão Social

Defesa e proteção de grupos em situação de risco e vítimas de catástrofes: famílias, sem-terra, idosos, índios, quilombolas, população de rua e pessoas portadoras de deficiência

Defesa e proteção de direitos de crianças, adolescentes, jovens e mulheres

Mutirão de superação da fome e da miséria

Apoio aos portadores de HIV / AIDs

Linha 2: Mobilizações Cidadãs e Conquista de Relações Democráticas

Mobilizações (grito dos excluídos, combate à corrupção, entre outras)

Controle social (Conselhos, Fóruns, orçamento público...)

Linha 3:Desenvolvimento Solidário

Convivência com o semi-árido

Valorização e promoção da economia popular solidária

Organização e apoio às iniciativas de catadores de materiais recicláveis

efesa dos povos e recursos naturais na Amazônia Brasileira.

Linha 4:Sustentabilidade, Fortalecimento e Organização da Cáritas

Formação para a prática da solidariedade

Comunicação

Fortalecimento e expansão da rede Cáritas

Campanha da Fraternidade e fundos de solidariedade

Semana da solidariedade

Semanas sociais brasileiras

Fortalecimento da Cáritas na Amazônia Brasileira

Solidariedade Internacional

Para desenvolver suas ações, a Cáritas conta com recursos advindos de várias fontes.

São duas fontes principais de apoio: a solidariedade nacional e a solidariedade internacional. A solidariedade internacional é canalizada especialmente por meio das Cáritas da Europa, contando também com contribuições vindas dos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália. Além delas, colaboram outras entidades eclesiais que administram recursos destinados à promoção do desenvolvimento econômico e social nos países mais empobrecidos, como é o caso da Misereor, da Alemanha, e da Cordaid, da Holanda. Os recursos financeiros são repassados através da aprovação de projetos encaminhados pela Cáritas Brasileira.
É importante saber que os fundos administrados por estas entidades são constituídos quase exclusivamente com recursos doados pela população trabalhadora desses países. Para se ter uma idéia, parte das contribuições recebidas pelo Secours Catholique, a Cáritas da França, provém de uma rede de um milhão de colaboradores permanentes. Por isso, os recursos financeiros são também expressão da solidariedade política, do desejo de que os povos empobrecidos consigam transformar suas sociedades e viver com dignidade e justiça.

Solidariedade Nacional

A outra fonte é a solidariedade interna brasileira. A maior parte dela constituída pelo trabalho voluntário de muitas pessoas, de modo especial doado pelos mais empobrecidos. É essa ajuda que possibilita a maioria das iniciativas locais de solidariedade. Mas não se pode deixar de reconhecer que muitos trabalhos sociais entraram numa dependência quase completa dos recursos externos. Por isso, a Cáritas lançou, em 1999, um chamado às igrejas e à sociedade brasileiras para organizar um Fundo Nacional de Solidariedade. Trata-se de organizar e juntar o que muitas pessoas podem dar para viabilizar ações em favor dos mais excluídos.
Para sistematizar essas colaborações, a Cáritas escolheu organizar Campanhas. A principal delas é a Campanha Permanente de Solidariedade. Um trabalho permanente de educação para a prática da solidariedade e a busca constante de pessoas dispostas a entrar numa rede de Colaboradores Permanentes.

Outras formas de contribuição promovidas pela Cáritas

Animação da Coleta da Solidariedade, realizada durante a Campanha da Fraternidade de cada ano no domingo que antecede a Páscoa. Todos são convidados a fazer suas doações nas paróquias e por outros meios oferecidos.

Organização de Campanhas em favor dos atingidos por situações de emergência. São circunstanciais, e a participação é promovida nas paróquias e através dos meios de comunicação.

Organização da Rede de Colaboradores Permanentes - que são pessoas que passam a colaborar de forma permanente com doações mensais, trimestrais, semestrais ou anuais.

Organização de doações para determinada finalidade, como por exemplo, a construção de cisternas de placa no Semi-árido, ou para trabalhos junto à população que vive nas ruas. As pessoas são convidadas a colaborar com um fundo específico. É o tipo de campanha que geralmente é de longa duração.

Como posso me tornar um Voluntário

Ser voluntário é fazer um exercício de cidadania. Muitas instituições e ONGs, entre elas a Cáritas, necessita deste tipo de trabalho para continuar com seus projetos e começar muitos outros.

Se você deseja ser um voluntário Cáritas, procure a Cáritas Diocesana ou Regional mais próxima para se informar sobre os tipos de projetos em funcionamento em sua região. Sua ajuda será sempre bem vinda!

Nossos voluntários recebem formação apropriada em encontros de capacitação específica e de reflexão espiritual, para que possam cada vez mais desempenhar bem seu serviço de mobilizador social.

Para quem deseja ser voluntário ou voluntária e reside numa cidade onde não há regional ou Cáritas Diocesana, procure-nos no Secretariado Nacional, pois temos ações bem especiais esperando por sua ajuda.

Como posso me tornar um colaborador permanente?

Partilhar com mais pessoas o apoio financeiro a algum programa, projeto ou atividade da Cáritas é uma grande alegria! Participe da Campanha Permanente de Solidariedade por meio de doações mensais, trimestrais, semestrais ou anuais. Você será informado sobre a destinação dos recursos da Campanha.

Fonte: Manual de identificação da Cáritas de Rio Branco.