terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A Visão Sistêmica da Vida como Compreensão da Realidade...

... "O pensamento sistêmico é uma forma de abordagem da realidade que surgiu no século XX, em contraposição ao pensamento "reducionista-mecanicista" herdado dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton. O pensamento sistêmico não nega a racionalidade científica, mas acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano e para descrição do universo material, e por isso deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais... 

Isto se deve à limitação do método científico e da análise quando aplicadas nos estudos de física subatômica (onde se encontram as forças que compõem todo o universo), biologia, medicina e ciências humanas. É visto como componente do paradigma emergente, que tem como representantes cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários campos... 

Por definição, aliás, o pensamento sistêmico inclui a interdisciplinaridade... A teoria do modelo sistêmico é uma visão científica sobre a vida... Esta teoria baseia-se em estudos de cientistas e teóricos de várias disciplinas, tais como: Iliá Priggogin, Manfred Eigen, Paulo Weis, Gregory Bateson e Ervin Laszlo, Santiago, Humberto Maturana e Capra"...

Para Fritjof Capra a questão atual de fundamental importância no ensino escolar ou na educação global é a alfabetização ambiental, será ela que garantirá aos indivíduos a consciência sobre o sistema de vida que engloba uma visão planetária, permitindo que as pessoas rompa com a visão limitada do local e adquira uma responsabilidade mais ampla, agregando, dessa forma, o conhecimento sistêmico...

... "O que é sustentável numa sociedade não é o crescimento econômico, ou a fatia de mercado, ou qualquer uma dessas coisas, e sim a rede da vida, da qual a nossa sobrevivência depende”...

"Capra defende a agricultura orgânica; o uso de partículas de hidrogênio como combustível, em detrimento dos de origem fóssil; o eco-design; a mudança do nosso sistema de impostos, fazendo com que estes sejam proporcionais ao gasto de energia e matéria prima; a educação de qualidade; e o uso da internet como ponte para mobilização e informação.

Ele frisa que as ONGs têm papel essencial, uma vez que podem agir local e virtualmente – e aqui temos o exemplo do relatório confeccionado no Fórum Social de Porto Alegre, o “Alternativas à Globalização Econômica: Um Mundo Melhor é Possível”, que impulsionou o desenvolvimento do Programa de Alfabetização Ecológica, parceria do Ministério da Educação com o Ministério do Meio Ambiente, adotado pelas escolas da rede municipal do Paraná e considerado pela ONU como uma das 60 melhores práticas do mundo nas áreas de educação e cidadania.

Sobre nosso país, Capra diz que este tipo de modelo deve ser seguido e que precisamos, ainda, investir na energia solar e desenvolver técnicas agrícolas que respeitem a saúde do solo, como as rotações de cultura e agroecologia. Para ele, estas últimas medidas, empregando muitas pessoas em pequenas propriedades, resolveriam problemas relacionados ao êxodo rural", daqui... 

"Ao longo dos últimos 35 anos, uma concepção radicalmente nova da vida emergiu na linha de frente da ciência contemporânea. Essa nova visão transcende a visão mecanicista e envolve uma nova espécie de pensamento: o pensamento “sistêmico”. Capra e Luisi integram neste livro os muitos conceitos, modelos e teorias dessa nova compreensão científica da vida em um único arcabouço coerente. Fazendo uma ampla varredura através da história e das disciplinas científicas, apresentam uma visão sistêmica unificada que inclui e integra as dimensões biológica, cognitiva, social e ecológica da vida, além de discutir as implicações dessa visão para as nossas crises ecológicas e econômicas globais", daqui...

sábado, 13 de setembro de 2014

Identificação, Ásabiyah e Cultura: Ibn Khaldun e Freud...

Diz-se que, em menor ou maior grau, as culturas sempre trocaram entre si – e se fizeram desta e nesta troca –, nos parece indubitável que o caráter da troca no mundo contemporâneo, por efeito e eficiência dos novos meios eletrônicos de comunicação, seja sem precedentes. Em um momento no qual diversos mundos culturais são, cada vez mais, forçados a confrontar-se com a presença e fala dos demais é oportuno realizar trabalhos em que se objetive encontrar o sentido e o alcance das diferenças e semelhanças.

Sem dedicar o presente estudo a este fenômeno geralmente chamado de “globalização”, esperamos, à guisa de introdução, situar com estas palavras o nosso trabalho neste movimento. É daí que advem sua utilidade, se houver alguma.

Aproximar de alguma forma dois pensadores tão distantes, como Ibn Khaldun e Freud, não é propriamente o objetivo central deste estudo senão encontrar um bergantim[1] qualquer que nos permita navegar entre duas formas distintas de interpretar o mesmo fenômeno, sem reduzir uma à outra, ao mesmo tempo em que deixamos o desdobramento e o valor heurístico disto para cada tradição à imaginação do leitor.

Se Freud pensava o estar no mundo e o fazer-se humano dentro de uma dimensão que não se restringe ao natural ou biológico, mas parte deste e vai além, em um movimento de entrada na cultura, então, pensar um sujeito que respira outro padrão civilizatório – padrões familiar, econômico, religioso e etc - que não o ocidental nos força a abrir mão de um etnocentrismo qualquer e, sem cair no relativismo absoluto, resgatar a dimensão humana da diferença. Nos obriga, inclusive, a levantar a hipótese – que não será trabalhada nesta monografia – de que a formação psíquica em outras condições culturais se dê que não como estudamos no Ocidente. 

Portanto, o oportunismo e a esperança deste trabalho é somar-se – sob o viés da Psicanálise - ao montante de elocubrações sobre o momento curioso em que vivemos.

Como em todo campo fecundo de saber a Psicanálise é ampla e ramificada, a tarefa de convergência conceitual entre as várias correntes pode facilmente tornar-se tão improdutiva quanto desnecessária. Nos parece desejável respeitar os diversos discursos para que se dê margem às sutilezas da apreensão de cada um sem reduzi-lo aos demais.

Como os movimentos religiosos, as diversas correntes psicanalíticas por vezes proclamam a posse de uma interpretação legítima daquele texto em torno do qual o grupo supostamente encontraria sua fundação. A luta em nome da causa verdadeira nos parece humana o suficiente ao ponto de ser caricatural e triste, pois em detrimento das demais interpretações, meras heresias que distorceriam o significado original da intuição do mestre, esvaziam a própria obra fundadora. Não daremos ouvidos aos aiatolás e mulás da Psicanálise, nem pretenderemos que a leitura adotada seja a verdade escondida nos textos. 

No desenvolvimento, o primeiro capítulo esboça a vida de Ibn Khaldun, seu contexto histórico e o conceito de ‘asabiyah, que será central neste trabalho. Pretendemos mostrar seu pensamento vinculado à época e biografia do autor. Já no segundo capítulo demarcamos pontos de encontro e desencontro entre as tradições ocidental e islâmica. O terceiro traz o fundamental da leitura freudiana da cultura e fenômenos de massa demarcando suas convergências e várias divergências em relação ao conceito de ‘asabiyah. Em seguida, se o leitor manteve sua paciência, encontrará algumas considerações finais. Que seja, pois como diz o velho ditado popular árabe: “besouro em casa é sultão”.

Capítulo I

Se a função de um conceito é apreender uma face de um fenômeno em estudo e, através de junções com outros conceitos pertinentes, deixar aparecer uma certa inteligibilidade deste fenômeno que consolide uma teoria, podemos sugerir que o conceito de ‘asabiyah na obra de Ibn Khaldun - de acordo com Simon (2002) – fala de uma perplexidade frente a um fenômeno específico que o filósofo árabe soube se deparar e elaborar. Assim, menos para definir a delineação ôntica do conceito do que resgatar sua dimensão provocativa, tentamos esboçar como ele se inscreve nas vivências, mesmo que gerais, do autor.

Abu Zaid ‘Abd Ar-rahman ibn Muhammed ibn Khaldun Wali Ad-din At-tunisi Al-hadrami Al-ishbili Al-maliki, mais conhecido como simplesmente Ibn Khaldun, nasceu no dia 1° do mês islâmico de ramadão de 732, que corresponde a 05 de maio de 1332 no calendário gregoriano, em Tunis, no Norte da África. Embora sua família tenha emigrado de Sevilha quando da conquista cristã, chegando no Norte da África por volta de 1235, era originário de Hadramaut[2], logo, sua origem mais provável era árabe (como ele mesmo atestava).

Aos 17 anos perde seus pais por conta de uma peste que assolou Tunis e, aos 20 anos, assume uma posição na corte local como escrivão do Sultão Hafsida Ishaq. Dá início a uma longa e turbulenta carreira que, no entanto, lhe outorgaria notoriedade.

Em 1350, quando os Hafsidas reconquistaram Tunis, muitos de seus professores retornaram ao Marrocos. É imbuído do desejo dar continuidade aos seus estudos que abandona seu cargo em 1354, partindo rumo à corte marinida em Fez. Lá, assume a posição de muwaqi com certa indignação, pois nenhum de seus antepassados trabalhara neste cargo.

Manteve contato com o soberano de de Bougie, um Hafside, a despeito dos conflitos entre a corte para qual trabalha e os Hafsidas. Pagou caro, aprisionado em 1357 teve que esperar até o ano seguinte para vir a ser libertado em decorrência da morte do sultão que ordenara seu calabouço. Este fôra assassinado e, na luta pela sucessão, Ibn Khaldun apoia aquele que realmente se tornaria o próximo Sultão de Fez: Abu Salim.

Investido de poder, Abu Salim agracia Ibn Khaldun oferecendo-lhe o cargo de secretário. Mas, novamente deixará sua posição devido a intrigas na corte, partindo desta vez para Granada. Destacar-se-á nesta cidade, sendo que, atraído pela oferta da prestigiosa função de hajib, estabeler-se-á em Bougie em 1365.

O curso dos eventos, entretanto, não foi favorável para Ibn Khaldun e os ventos da instabilidade política, que sopravam fortemente àquela época nesta região, se fizeram marcantes. O soberano é destituído por seu primo, e como este não via em Ibn Khaldun um aliado, fez o filósofo árabe decidir partir para Tlemcen em 1368.

Os próximos anos não serão mais calmos e Ibn Khaldun passará por um grande número de cortes e tribos. Contudo, em 1375 ele decide se isolar para dedicar-se por quatro anos à elaboração de trabalhos científicos. É nesta época que escreve sua obra mais importante – muqaddimah.

Decidido a cumprir sua obrigação religiosa enquanto muçulmano, peregrina para Meca. Sua rota passa pelo Egito e, impedido de continuar imediatamente a viagem, visita o Cairo. Lá, adia sua peregrinação e se estabelece como professor. Em pouco tempo recebe uma posição elevada. Perde neste período sua família em um naufrágio, justamente quando vinham ao Egito juntar-se a ele. Consternado, abandona o posto em 1385 e se recolhe na fé. Em 1387 conclui sua peregrinação inacabada a Meca e retorna ao Cairo, reassumindo o magistério. Mantém, então, uma vida pública sem grandes agitações para a época.

Por volta de 1400 os mongóis, sob a liderança de Timur, invadem a Síria. Ibn Khaldun parte junto ao Sultão para Damasco. Este ver-se-á forçado a retornar ao Cairo mas aquele permanecerá em sua missão. Negociou com Timur, que lhe encomenda um texto descritivo sobre o Norte da África. Após este episódio retorna ao Cairo e assume, ainda, o cargo de qadi(jurisconsulto) mais uma vez. Ao todo terá exercido este cargo seis vezes durante toda sua vida quando morre em 16 de março de 1406, ou 25 de Ramadão de 808. 

Com uma vida pública de atividades nas cortes das turbulentas da África do Norte e Andalusia, Ibn Khaldun participou dos altos e baixos de vários regimes aristocráticos. Se por um lado sua vida pública reflete a instabilidade da região, por outro, é no registro de uma teorização de sua experiência pessoal que ele fala de questões que alcançam um além do imediatismo dos acontecimentos (Simon, 2002)"... Para continuar a leitura, clique aqui...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Farmácia Moral: O afeto com 5% de desconto no boleto...

... "Cegueira moral: A perda da sensibilidade na modernidade líquida... O mal não está restrito às guerras ou às circunstâncias nas quais pessoas atuam sob condições de coerção extrema. Hoje ele se revela com frequência na insensibilidade diária diante do sofrimento do outro, na incapacidade ou recusa de compreendê-lo e no desejo de controlar a privacidade alheia. A maldade e a miopia ética se ocultam naquilo que consideramos comum e banal na vida cotidiana.

Esse livro é composto por cinco diálogos de Zygmunt Bauman com Leonidas Donskis, filósofo, cientista político e historiador das ideias, professor de ciência política na Universidade de Vytautas Magnus, na Lituânia, e membro do Parlamento Europeu": Aqui...

... " Madrugada de domingo para segunda. Melhor hora para escrever sobre o que nos aflige. Se um dia você quiser falar sobre autoajuda ou vender algum produto, escolha outro horário para pegar uma caneta ou o seu tablet.

Minha idade está relacionada à geração Y (why em inglês – questionadora, chata) pelas pesquisas publicitárias, informação importante para falar sobre “Cegueira Moral – A Perda da Sensibilidade na Modernidade Líquida”, livro recém-lançado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman em troca de correspondências com o filósofo e cientista político lituano Leonidas Donskis, publicado no Brasil pela Zahar.

Bauman é conhecido pelo termo “líquido” em seus títulos e ideias, onde o tratamento de questões como o amor, a vigilância, o medo, a política, a segurança e agora a moral aparecem na nossa era tecnocrata e afetam absolutamente todas as gerações, cada qual de uma forma. Com quase 90 anos, o sociólogo tem escrito mais do que a média de leitura dos brasileiros. Só neste ano é o segundo lançamento do autor. O primeiro foi “Vigilância Líquida”, junto com o filósofo David Lynn, mostrando o lado progressista e caótico da tecnologia. Você tanto pode ganhar tempo através dela como ser pego numa traição caso um drone pouse na janela do seu quarto aparentemente seguro no 21º andar. Aceitamos os contratos e ficamos à mercê do “big data”.

Leonidas Donskis, pela sua formação e por ser membro do Parlamento Europeu, leva sua discussão neste último lançamento para o âmbito político-moral, relacionando a mudança (e separação) que o poder teve da política devido às transformações sociais que fizeram os indivíduos se afastarem de uma moral sólida e se aproximar de uma insensibilidade, onde as narrativas são criadas no mundo virtual. Para Donskis, de um lado o poder perambula em segurança pela esfera global e livre para escolher seus alvos; do outro está a política, “espremida e destituída de todo ou quase todo o seu poder, de seus músculos e dentes”. Há um “totalitarismo líquido (ou soft)”, como o padrão chinês de modernidade: sua forma de capitalismo sem democracia, ou seja, fique rico, mas permaneça longe da política.

O mal subjetivo, segundo Donskis, um dos motivos de nossa “cegueira moral”, não aparece na sociedade de forma evidente como antigamente (o totalitarismo é um dos exemplos). Hoje ele é “fraco e invisível”, tornando-se ambivalente em sua interpretação.

Sabemos que vivemos em uma sociedade pautada pelo que você tem, logo a lógica é totalmente ligada à sua conta bancária e aos produtos que você escolhe para te representar. Porém, Bauman leva a discussão para um novo tipo de consumo, o consumo dos “tranquilizantes morais”. Não precisamos mais nos preocupar com “peso na consciência” ou o sofrimento do outro por um ato subjetivamente inconsequente. Somos mercadorias e tratamos nossos pares como tal, viramos Don Juans e Giacomos Casanova, heróis da modernidade que usam o afeto como arma de suas rápidas relações. A melhor mulher, o melhor trabalho, a melhor viagem e o melhor celular sempre serão os próximos.

A grande diferença é que temos voz, microfones digitais que espalham informações, na maioria das vezes rasas, pelos aplicativos e redes amplamente disponíveis à massa. Um dos problemas, segundo Donskis, é que quando uma rede social chega a indivíduos que vivem em um regime tirânico, isso se torna um problema político a ser resolvido. A Primavera Árabe e as manifestações no Oriente Médio são casos explícitos da obsessão do poder que nossa época vive.

Um dos termos relacionado pelos autores para expressar essa perda de sensibilidade é o da adiaforização da conduta humana. Adiaphoron em grego significa algo sem importância. Foi utilizado pelos estoicos e mais tarde pelo reformador religioso Phillip Melanchthon (companheiro de Lutero) para designar as diferenças litúrgicas entre católicos e protestantes, ou seja, algo que não merecia atenção. Bauman usa o termo relacionando uma saída temporária da nossa zona de sensibilidade e tratando os outros como objetos, não como pessoas. Para ele o termo não significa “desimportante” e sim “indiferente”, como se vivêssemos em uma sociedade do tanto faz. Uma das causas seria a racionalidade instrumental da modernidade líquida e a ilusão que as coisas reais são somente aquelas que acontecem conosco, todo o resto é ficção ou invenção das revistas de grande circulação.

A questão do narcisismo não poderia ficar de lado. Ou nos tornamos vítimas ou celebridades nessa era obcecada pelo consumo, autoexposição e sensacionalismo. O “compro, logo existo” ou o “podemos, logo devemos” é comparado ao olhar estatístico que os seres humanos sofrem. Como visto em “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, o fracasso em atingir a felicidade é visto como um sintoma de atraso. Não temos o soma do livro como remédio moral, mas temos Jack Daniel´s Honey, milhares de mulheres solitárias perdidas no inferno das noites livres, sorvetes importados, carros com bluetooth integrado no seu iphone, cinemas 4D e cruzeiros temáticos como farmácias curativas desses holofotes com as luzes amarelas que se apagam quase todos os dias.

Uma das expressões centrais e importantes para tratar dos nossos insensíveis contemporâneos é a palavra “precariado”, cunhada pelo professor e economista Guy Standing. Esse termo surge substituindo os conceitos de “proletariado” e “classe média”. Os precariados sofrem um forte processo de atomização, vão para um lado e para o outro sem controle do seu destino e com uma baixa segurança e expectativa de solidez do dia de amanhã. A única coisa que os unem é o sofrimento, ou seja, (in)conscientemente todos percebem uma simples equação: eles podem, nós não. Bauman busca a definição do termo no Oxford English Dictionary e nos explica: precário é “ser mantido pelo favor e à disposição de outro; logo incerto”.

A lógica do marketing atual é expandir as necessidades até o nível da oferta e relacioná-las as necessidades de forma distante. Você não precisa, mas o meu argumento fará você entender que precisa, não pelo uso em si, mesmo porque seu uso é limitado ao próximo lançamento, mas pela sua boa convivência narcisista nos ambientes de trabalho, familiar ou de bar.

Donskis afirma com precisão que o gênio saiu da garrafa; torne-se quem você quiser! Bauman alerta para a ambivalência, já tratada em outros momentos, da liberdade x segurança; uma não vive sem a outra e sua conciliação é mera utopia. A falta de confiança gera fronteiras e diásporas, como a relação de Houellebecq (tratada no último capítulo do livro) dentro do romance “A Possibilidade de uma Ilha” sobre a morte de Deus paralela a eliminação dos laços humanos e sociais. Donskis questiona em seguida se “a morte da sociabilidade seria mesmo a morte de Deus?”. Apesar da tese que essa pergunta daria, sabemos que o romance discutido envolve a questão do isolamento total do indivíduo juntamente com o acaso que as inúmeras possibilidades pós-modernas evocam.

Não temos para onde correr e o boleto está vencendo. Não temos pra onde ligar pedindo sua prorrogação. E como diz Bauman, vivemos para comprar o perdão de nossos pecados antes mesmo de cometê-los"...

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Os limites do conhecimento na globalização...


... "Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, reflete sobre seus interesses enquanto filósofo e sociólogo: os limites do conhecimento e da razão, bem como a relação entre a poesia e a racionalidade... Ainda, questiona a possibilidade da mudança de pensamento em um mundo globalizado e acelerado. É possível sairmos de uma visão fechada em formas particulares para o pensamento complexo, capaz de ver os problemas em sua integralidade? Conferencista do Fronteiras do Pensamento nos anos de 2008 e 2011"...


É preciso educar os educadores...

... "Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo"... assim disse Edgar Morin...

O Globo: Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?

Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado.

É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.


O Globo: Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?

Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.

O Globo: O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento?

Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar.

Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo.

O Globo: O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento?

Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O meu livro “O homem e a morte” é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.

O Globo: Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional?

Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente.

O Globo: A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê?

Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário.

O Globo: Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino?

Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência dessa missão.
 [Leia esta entrevista no site do O Globo e aqui...

Nacionalismo no Mundo: A teoria do dissenso...

... "No seu livro “Hispano-América contra o Ocidente”, o senhor afirma que um dos fatores que explica porque a civilização e o homem ibero-americanos são diferentes dos ocidentais e da sua atual civilização, é que os europeus que chegaram a América eram ainda medievais e, por tanto, anteriores à “Revolução Mundial”. Em que consistiu esta “Revolução Mundial” e quais as suas consequências até os dias atuais?

Falo de Revolução Mundial no mesmo sentido em que o fizeram Christopher Dawson, Hilaire Belloc, Eric Voegelin, Julio Meinvielle, Walter Schubart – no Brasil quem o fez foi Tristão de Athayde (1893-1983) – e tantos outros pensadores não conformistas. A Revolução Mundial começa com a Reforma e a instauração do primado da consciência, continua com a Revolução Francesa e a substituição da filosofia pela ideologia, segue com a Revolução Bolchevique e seus cem milhões de mortos em setenta anos e termina hoje com o Totalitarismo Democrático e a sua ideia de globalização, onde todas as culturas são intercambiáveis para a construção de um monstruoso one world.

Em sua obra o senhor afirma que o homem Ibero-americano é uma síntese entre o europeu católico e medieval e o indígena telúrico. Entretanto, este processo não é uma simples mistura, de maneira que o resultante desta síntese (o homem ibero-americano) é mais do que a simples soma de seus componentes (europeu e indígena). Poderia nos contar um pouco mais a respeito desta síntese? Quais são as principais características desse homem surgido no continente americano?

Bolívar dizia que não era “nem tão espanhol e nem tão índio” e o mesmo podemos dizer de nós mesmos “nem tão espanhóis ou portugueses e nem tão índios”. É por isso que nós constituímos o verdadeiro e genuíno povo originário da América. Essa originalidade e característica tão própria se expressa nos nossos arquétipos nacionais: o “cholo” na Bolívia e Peru, o “montubio” no Equador, o “huaso” no Chile, o “gaucho” na Argentina, o “llanero” na Colômbia e Venezuela, o “charro” para o México, o “ladino” na Guatemala, o “borinqueño” para Porto Rico e São Domingos, etc. No caso do Brasil, que é um continente, possui vários arquétipos, no sul o gaúcho, no nordeste o sertanejo, no sudeste o caboclo, e vários outros.

Nós somos uma cultura de síntese porque convergem em nós várias culturas. Os antropólogos norte-americanos falam em multiculturalismo para referir-se aos povos ibero-americanos, o que é um erro, porque nós somos, verdadeiramente, um interculturalismo.

O senhor escreveu a respeito da importância dos grandes espaços existentes na América na formação do caráter do homem ibero-americano, distinto do europeu que tem relativamente pouco espaço disponível para a sua civilização. Como a grandiosidade da paisagem americana nos ajudou a ser o que somos hoje?

O imenso, o ilimitado, aquilo que o filósofo pré-socrático Anaximandro denominou “to ápeiron”, marcou para sempre o caráter do homem sul- americano, sobretudo no Brasil e na Argentina. “O pampa, disse Drieu la Rochelle viajando com Jorge Luís Borges, é uma vertigem horizontal” e o sertão “sempre uma impressionante lonjura”.

O fato de não ver os limites fez dele um homem naturaliter livre. A solidão da imensidão fez dele um individualista, não da maneira liberal, mas um individualista fraternal, que sempre se conduziu no trato com o outro tendo como referência a ideia de hospitalidade.

Enquanto os espanhóis e portugueses fizeram a opção por uma colonização integrando os povos nativos da América, os ingleses optaram por exterminar os indígenas do novo continente e substituí-la por uma população branca, anglo-saxã e protestante. Como estas diferentes maneiras de colonizar influenciaram o caráter dos povos das duas Américas? É isso que provoca a eterna vontade dos americanos do norte de submeter todo o mundo ao “american way of life”?

Se fosse verdade que o mundo conhecido, desde o surgimento da escrita, passou por quatro éons, que são os grandes períodos de tempo em que podemos dividir as principais linhas da história, podemos dizer que o homem americano do norte encarna o éon prometeico e o ibero-americano o éon gótico-barroco. O primeiro dirige o seu olhar para a dominação da terra e o segundo o seu olhar para as alturas, que tampouco possuem limites. O homem prometeico é o arrogante titã que se rebelou contra os deuses, o astuto usufrutuário da natureza, por meio do uso do fogo. O homem gótico-barroco nas vastas planícies, sem obstáculos, percebe sua pequenez e impotência. Olha o sublime em silêncio e o atrai. Não vai contra o divino, mas se coloca a seu serviço"...

Para uma leitura completa, aqui...

Nem esquerda, nem direita...

Por falta de quaisquer que sejam as condições argumentativas sobre política partidária, esta postagem é apenas uma sugestão de leitura, pois no meu caso estou ainda em busca duma política que esteja para além da direita ou da esquerda, que esteja comprometida com o Brasil ou o Mundo e sua gente sofrida...


... "O lúcido pensador italiano Marcello Veneziani começa um belo artigo sobre o antiglobalismo com a seguinte observação: "Se olharmos bem para eles, os anti-G8 são a esquerda em movimento: anarquistas, marxistas, radicais, católicos rebeldes ou progressistas, pacifistas, verdes, revolucionários. Centros sociais, bandeiras vermelhas. Com o complemento iconográfico de Marcos e do Che Guevara. Imediatamente darás conta de que nenhum deles põe em causa o Dogma Global, a interdependência dos povos e das culturas, o melting pot e a sociedade multirracial, o fim das pátrias. São internacionalistas, humanitários, ecumenistas, globalistas. E a acrescentar a isso: quanto mais extremistas e violentos são, mais internacionalistas e anti-tradicionais se tornam".[1]

Posto isto, a oposição da esquerda à globalização é só uma postura que se esgota numa manifestação. Seattle, Gênova, Nova Iorque, Porto Alegre, e acabou, "o mundo continua" como dizia Discepolin. É que a política do "progressismo", como bem observou o filósofo, também italiano, Massimo Cacciari, ordena os problemas mas não os resolve.[2]

Do mesmo se queixa o sociólogo marxista mais importante da América Latina, Heinz Dieterich Steffan, que num recente artigo refere: "Se a tarefa actual de todo o indivíduo anticapitalista é absolutamente clara: Porque é que a "esquerda" e os seus intelectuais não a assumem? Porque repetem, fórum após fórum, a mesma lengalenga sobre a maldade do neo-liberalismo e se contentam com as suas ritualizadas propostas terapêuticas inspiradas em Keynes, Tobin y Stiglitz? Porque não convertem a realidade capitalista em objeto de transformação anti-sistema, em vez de a manterem como muro de lamentações?".[3]

O fracasso rotundo da esquerda, hoje rebatizada de "progressismo", é que, além de não ter compreendido – deglutido será o termo exato – a derrota do "socialismo real" com a implosão soviética e com a queda do Muro, não reelaborou as suas categorias de leitura, e permanece enclausurada no mundo categorial de Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo e eventualmente Trotsky, fazendo arqueologia política.

O mais significativo do século XX, a escola neo-marxista de Frankfurt, através dos esforços de Adorno, Apel, Cohen e Marcuse, termina com o publicitado Habermas e a sua teoria do consenso (sem se aperceber que o consenso sempre foi o dos poderosos entre si), e os seus discípulos James Bohman e Leo Avritzer com a sua teoria da democracia deliberativa, que como um novo nominalismo pretende resolver as injustiças políticas, econômicas e sociais com palavras. Conversando numa espécie de assembleísmo permanente.

Se a esquerda está liquidada, o que dizer da direita? Pode-se esperar algo dela?

Da direita clássica, tanto do nacionalismo orgânico ou integral ao estilo de Charles Maurras, como do fascista de Mussolini ou do católico de Oliveira Salazar pouco permanece. Só trabalhos de investigação históricos e pequenos grupos políticos sem peso nas suas sociedades respectivas.

Resta então como direita o neoconservadorismo norte-americano e dos governos que lhe são afins. E desta direita liberal, a única que existe com peso político, só se pode esperar que as coisas piorem para a saúde e bem-estar dos povos.

Se isto é assim, denunciamos uma vez mais, de entre as centenas de vezes que o tentamos demonstrar, que a dicotomia esquerda/direita é estreita, para não dizer falsa, assumindo uma leitura adequada da realidade.

Hoje situar-se à esquerda ou à direita é não situar-se, é colocar-se num não-lugar, sobretudo para o pensador (recuso terminantemente o termo intelectual) que pretende elaborar um pensamento crítico. E o único método que hoje pode criar pensamento crítico é a divergência. Divergência não só com o pensamento único e politicamente correto mas também e sobretudo, com a ordem constituída, com o status quo vigente.

A divergência é estruturalmente uma categoria do pensamento popular, tal como o consenso, que como vimos, é uma apropriação da esquerda progressista para alcançar a democracia deliberativa que tem muito de ilustrada, e também, ainda que noutro sentido, propriedade do liberalismo como acordo dos que decidem, dos poderosos (G8, Davos, FMI, Comissão Trilateral, Bilderberg, etc.).

A divergência que se manifesta como negação tem distinto sentido no pensamento popular e no pensamento culto. Neste último, regido pela lógica da afirmação, a negação nega a existência de algo ou alguém, enquanto que no pensamento popular o que se nega não é a existência de algo ou alguém, mas antes a sua vigência. A vigência pode ser entendida como validez, como sentido. A discordância nega o monopólio da produtividade por parte dos grupos ou lobbys, para reservá-la ao povo no seu conjunto, mais além da partidocracia política.

A alternativa hoje é situar-se para além da esquerda e da direita. Consiste em pensar a partir de uma raiz, do nosso genius loci nas palavras de Virgílio. E não uma raiz qualquer, senão a das identidades nacionais, que conformam os conjuntos culturais ou regionais que constituem hoje o mundo. Com isto vamos para além inclusive da idéia de estado-nação, em vias de esgotamento, para submergirmos na idéia política de grande espaço etnocultural.

É a partir destas grandes regiões que é lícito e eficaz posicionar o combate à globalização, ou americanização do mundo. Fazê-lo como pretende o progressismo: a partir do humanismo internacional dos direitos humanos, ou desde o ecumenismo religioso como ingenuamente pretendem alguns cristãos, é fazê-lo a partir de mais um universalismo. Com a agravante que o seu conteúdo encerra um aspecto inverossímil e não eficaz na hora do confronto político.

Todavia este confronto está a dar-se de igual modo, apesar da dificuldade dos pensadores em não poderem entendê-lo ainda, através do surgimento dos diferentes populismos, que não obstante os reparos que apresentam a qualquer espírito crítico, estão modificando, como observa Robert de Herte[4] as categorias de leitura. Assim, a oposição entre burgueses e proletários da esquerda clássica vai sendo substituída pela de povo vs. oligarquias, sobretudo financeiras, sejam de esquerda ou direita, pela de justiça e segurança.

Ora, do ponto de vista da esquerda progressista a crítica à globalização limita-se à não extensão dos benefícios econômicos desta à humanidade, mas apenas a uns poucos, pois a esquerda, pelo seu caráter internacionalista não pode denunciar o efeito destruidor sobre as culturas tradicionais e sobre as identidades dos povos. A sua denúncia transforma-se assim numa reclamação formal para que a globalização esteja unida aos direitos humanos.

Em sentido contrário, é a partir dos movimentos populares que se realiza a oposição real às oligarquias transnacionais.[5] É a partir das tradições nacionais dos povos que melhor se demonstra a oposição à sociedade global sem raízes, a esse imperialismo desterritorializado de que falam Hardt e Negri. É com base na atitude não conformista que se rechaça a imposição de um pensamento único e de uma sociedade uniforme, e se denúncia a globalização como um mal em si mesmo.

O pensamento popular, quando é de fato, parte das suas próprias raízes, não tem um saber livresco ou ilustrado. Pensa a partir de uma tradição, que é a única forma de pensar genuinamente segundo Alasdair MacIntyre[6], dado que "uma tradição viva é uma discussão historicamente desenvolvida e socialmente encarnada". Pelo que se torna impossível aos povos e aos homens que os encarnam situarem-se fora da sua tradição. Quando o fazem desnaturalizam-se, deixam de ser o que são. São já outra coisa.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A complexidade do Eu...





EDGAR MORIN: “... Recebemos a linguagem, recebemos a cultura, que se colocam no interior de nós mesmos, o que quer dizer que não somente os indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade está no interior deles."

Em vídeo inédito e exclusivo, Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, esclarece como a noção de identidade se define de uma forma dupla. Um eu singular e insubstituível e um eu comunitário, composto por uma família, pátria ou comunidade. Para compreender a identidade, Morin defende a necessidade do pensamento complexo, capaz de relacionar estes processos"...

domingo, 20 de julho de 2014

Uma História da Razão...


... "Pode-se falar em uma invenção da razão. Isso é o que diz François Châtelet. Essa forma de pensamento surgiu na Grécia Clássica, e teve sucesso esplêndido. A razão certamente é muitomais desenvolvida pelos filósofos, mas, segundo Karl Marx, esses agentes nada fazem paratransformar o mundo. Bobagem, na concepção de Châtelet. Para ele, esses estudiosostransformaram o mundo. As idéias acabaram se concretizando e, para visualizar melhor isso, basta lembrarmos a democracia ateniense. µ¶Na democracia, a palavra vai impor-se, e quemdominar a palavra dominará a cidade¶¶ (p. 16), somente isso já mostra o poder dos filósofos.É, portanto, preciso saber argumentar, e aí entram em cena os mestres, que ensinam essadestreza (sofistas que, etimologicamente, quer dizer µ¶intelectual que sabe falar¶¶).O pensamento sofístico poderia ser chamado de progressista, embora na concepção grega nãohaja a idéia de evolução; a sociedade repete sempre o mesmo ciclo. Nisso, enquadra-seSócrates que, a seu modo, é um sofista. Seu trabalho é falar com seus concidadãos, e para issonada cobra. Châtelet levanta uma questão muito interessante acerca dos debates socráticos.Para o antigo filósofo é preciso saber para quê determinado fato serve, o que se quer e o quese pretende, necessita-se saber o µ¶conceito¶¶. Somente depois se pode responder determinada pergunta. Certamente, todo esse tecnicismo de Sócrates o levou à ruína. Passou a ser odiado pelos cidadãos de Atenas, o que acabou o levando à morte. Surge, então, a filosofia platônica.Platão, assim como Sócrates, procurava realizar as perguntas, mas queria também fornecer respostas. E, seguindo os sofistas, valorizava a palavra. A filosofia platônica é, sem dúvida,uma filosofia que tenta explicar as pequenas e grandes coisas, que parte de perguntas simples.

Esse diálogo, de que se ocupa essa ciência, é a dialética. É certo que isso produzirá os tãovalorizados conceitos (tal como o da universalidade). Os discursos são construídos dentro dascomunidades e, segundo François Châtelet, é tão meticuloso que acaba convencendo a todos.E isso é um problema, uma vez que µ¶perguntas que são feitas nunca são inocentes¶¶. Percebe-se, então, que as palavras são de grande importância para os filósofos e aí entra a grandequestão da filosofia: o que fazer quando o discurso não interessa a alguém? Châtelet explicaque nesse momento o agente enunciador deve retrucar e argumentar com o ouvinte, levando-oa acreditar na veracidade do fato.Émile Noël agora toma um rumo diferente em suas perguntas. Levanta a questão dascivilizações que precederam a Grécia antiga, tais como o Egito que influenciou em demasiaaquela civilização. Châtelet explica, então, que se deve evitar um ocidentalismo excessivo. Écerto que a sabedoria desses povos é de grande importância, mas foram os gregos que deramorigem ao logos (a razão), e essa nova forma que foi determinante no desenvolvimento dasciências, bem como a concepção do
ser.

Os filósofos estão sempre em busca da verdade, e isso só cabe a eles, uma vez que a opiniãoda maioria e o discurso de autoridade não são fontes dela. É por isso que tentam desenvolver um discurso universal, capaz de julgar todos os outros discursos, por mais responsabilidadeessa tarefa exija. Châtelet diz que por mais totalitário que pareça, não o é. Razão e liberdadedevem estar sempre juntas, embora em alguns casos a filosofia possa servir de uminstrumento totalitário nas mãos de alguns políticos.É válido lembrar que µ¶os grandes pensadores apenas formalizam o que os povos inventam¶¶(p. 33). 

A idéia de que o discurso traz à tona a verdade e a transparência, fundamentada no logos é, portanto, formalizada por Platão.Após a formalização de grande parte da teoria filosófica por esse grande filósofo, Aristótelestoma as rédeas para com o desenvolvimento dessas idéias. Por vários séculos seguintes, é elequem ira guiar o conhecimento. Mas antes de Aristóteles, Platão desenvolveu uma teoriamuito importante para desmistificar a universalidade: a teoria das idéias. Tal teoria serviu paradesenvolver um conhecimento mais exato e sucinto sobre determinado objeto.A hipótese das idéias consiste no extrato da realidade. µ¶Platão acreditava numa realidadeautônoma por trás do mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo dasidéias. Nele estão as imagens padrões, as imagens primordiais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza¶¶ (GAARDER; O Mundo de Sofia). Para compreender esse mundo,necessita-se realizar exercícios mentais. Châtelet explica que as opiniões múltiplas sempre sereferem a supostos fatos que, na maioria das vezes, são produtos das paixões, dos desejos edas circunstâncias. Todos enxergam a realidade como lhes convêm, ao contrário do mundodas idéias, que a apresenta sempre imutável. Isso Platão chamou de doxa.

Châtelet diz quenão se pode afirmar ser toda filosofia platônica, mas certamente sua teoria é o ponto de partida para o pensamento de muitas outras.Para atingir o a essência o homem utiliza a µ¶psykh궶 (alma). Assim como é capaz de perceber o mundo das aparências, também o é de compreender as Ideias através do discurso.Por isso a filosofia também é pedagógica, uma vez que conduz-nos da ignorância aoconhecimento. Pensando nisso, Platão cria um protótipo da cidade ideal e a educação que seuscidadãos deveriam receber. Trata-se de muitos anos de estudo, em que terminariam após cercade 30 anos. Esses intelectuais conseguirão enxergar as essências imutáveis e suas articulações.Esses pensamentos serão mais tarde contestados por Aristóteles.Aristóteles exerceu grande influência após Platão, mesmo havendo rompido com este. Fundouo Liceu, escola para filósofos e desenvolveu outros métodos. Fazia uma crítica ao pensamento platônico uma vez que esse limitava o entender da filosofia. Aristóteles buscava um saber que pudesse ser compreendido por mais pessoas, é preciso adaptá-lo às exigências deste mundo. Ofilósofo procurou fazer para entender, bem como eliminar o discurso dúbio herdado de seusancestrais. Mais do que isso, µ¶introduz uma constante circulação entre a essência e a aparência¶¶ (p. 45). No entanto, salienta que se deve tomar cuidado para não confundir essência e aparência. Deve-se sempre verificar a validade dos discursos filosóficos e éexatamente isso que diferencia o pensamento aristotélico do platônico. O trabalho deAristóteles será construir um texto inteligível que torna o ser transparente e que permiteconstruir saberes e realizar ações as mais sensatas possíveis.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Marilena Chauí em Café de Ideias....

Antropologia...

Afinal, o que é CULTURA?

Desenvolvimento do Conceito de Cultura

Conceito de Capital Cultural...

Capital Cultural...

.... "Este artigo tem por objetivo realizar uma análise retrospectiva acerca da gênese do conceito “capital cultural” em Pierre Bourdieu, formalizado inicialmente em colaboração com Jean-Claude Passeron na obra Les héritiers, publicada em 1964. Nossa proposição inicial é que a trajetória intelectual pregressa de Bourdieu pode ter condicionado as observações acerca das atitudes em relação à escola e à cultura de estudantes oriundos de diferentes classes sociais, como analisado na obra supracitada. Ao realizar uma revisão desta obra em especial, tentaremos, assim, investigar as contribuições advindas dos primeiros registros etnográficos de Bourdieu, presentes em trabalhos seminais como Sociologie de l´Algérie e Travail et travailleurs en Algérie. Este trabalho toma como pressuposto inicial que não se pode levar adiante uma refl exão fechada dos usos do capital cultural: buscar-se-á, desta forma, investigar como os trabalhos etnográfi cos de Bourdieu repercutiram na formalização deste conceito" Link 1, aqui...  Segundo este sociólogo francês, pioneiro na sistematização do conceito, a segunda mais importante expressão do capital, à qual precede apenas o capital econômico portado pelos agentes sociais. Engloba prioritariamente, a variável educacional, embora não se limite apenas a ela.

Para o autor, a educação/’capital cultural consiste num princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução. Isto porque, o sistema escolar realiza a operação de seleção mantendo a ordem social preexistente, isto é, separando alunos dotados de quantidades desiguais – ou tipos distintos – de ‘capital cultural’. Mediante tais operações de seleção, o sistema escolar separa, por exemplo, os detentores de ‘capital cultural’ herdado daqueles que são dele desprovidos. Ademais, ao instaurar uma cesura entre alunos de grandes escolas e alunos das faculdades, a instituição escolar, geradora do ‘capital cultural’, institui fronteiras sociais análogas às que separam o que Bourdieu denomina “nobreza” e “simples plebeus”: Link 2, aqui... 

Desenvolvido por Pierre Bourdieu, este conceito refere-se ao conjunto de recursos, competências eapetências disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura dominante ou legítima. Pode existir em doisestados: incorporado, quando faz parte das disposições, do habitus, dos agentes; e objetivado, quando écertificado através de provas, atributos ou títulos, designadamente escolares. Como qualquer capital, ocapital cultural confere poderes que propiciam diversas probabilidades de lucro (económico, cultural, socialou simbólico) nos campos e mercados em que é eficiente. Todo o capital, seja qual for a sua espécie,subentende uma relação de dominação, de apropriação/desapropriação. Se, a priori, todos dispomos decompetências e de saberes, o certo é que estes são valorizados de forma desigual. Um determinado saber,para ascender ao estatuto de capital cultural, carece ser reconhecido e legitimado como tal. Consoante oseu enraizamento social (por exemplo, popular ou burguês), assim as diferentes formas de saber se tornamdignas ou não de crédito, conferem ou não dividendos na bolsa dos valores sociais.

O capital não é, portanto, uma coisa, uma substância, mas uma relação (de poder) correspondente a umdeterminado estado de forças na luta de classes. Mudando este, altera-se também o valor daspropriedades e dos atributos ditos culturais. A dita cultura dominante é um arbítrio cultural que,desconhecido na sua relatividade, passa por uma realidade absoluta. A família e a escola destacam-secomo as principais instituições de transmissão e inculcação do capital cultural. No ambiente familiaradquirem-se competência linguística, esquemas de pensamento e eventual familiarização com os conteúdose, sobretudo, as formas da cultura legítima. Consoante a distância ou a sintonia entre as culturas de classe(das famílias) e a cultura legítima, assim tenderá a ser mais ou menos bem sucedida a trajetória escolar esocioprofissional dos agentes. O funcionamento da escola e a sua articulação com a sociedade globalconfluem para que estes percursos não sejam percebidos como produtos dos efeitos conjugados decondições sociais discriminantes, mas como destinos pessoais ou fatalidades de índole diversa. Nestalógica, a escola não se limita a inculcar um determinado saber, promove também uma visão do mundo: Link 3, aqui... 

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social. 

Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado - que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc. 

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita: link 4, aqui... 
  
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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Uma História para Meditar...


... "Havia na Índia um sábio que desvendava os mistérios da vida das pessoas, e que era assiduamente procurado. Certa vez, um jovem desconfiado e ousado, quis testar a sabedoria do velho sábio. Pegou um passarinho vivo, escondeu-o atrás do corpo, e se apresentou diante do homem de cabelos e barbas já brancos.

- O senhor é sábio mesmo?

- Dizem que eu sou.

- Então me responda: o que eu tenho em minhas mãos?

- Deve ser um pássaro; jovem como você, gostam muito de caçar os pássaros….

- É verdade, o senhor acertou, parece que é sábio mesmo. Mas me diga, o pássaro está vivo ou está morto?

O sábio agora estava numa situação difícil; se ele dissesse que o passarinho estava morto, o jovem o soltaria a voar; se dissesse que estava vivo, o jovem o mataria em suas mãos sem que o sábio o notasse… Uma cilada de mestre….

- Então, senhor sábio, o passarinho está vivo ou está morto, me responda, o senhor não é sábio?

O velho abaixou a cabeça e pensou um pouco.

Depois respondeu ao jovem:

- Depende de você!

Pensativo e cabisbaixo o jovem foi se afastando… e, ao longe, olhando para velho, soltou o passarinho e começou a chorar…

Você jovem, tem um passarinho dentro de você; matá-lo ou deixá-lo viver, depende exclusivamente de você, e de ninguém mais, pois você recebeu o dom mais precioso deste mundo que é a Liberdade. Este pássaro de ouro que é sua vida, criada à imagem e semelhança de Deus, está em tuas mãos. Eu te pergunto: o que você vai fazer dela?

Depende de você! A vida é sua e de mais ninguém. É o único dom que de fato é inteiramente seu. O resto é seu, mas está fora de você. Não culpe ninguém pela vida que você está levando"... 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Oportunidade de Aprender com o Erro...

... "Educadora critica hipocrisia da escola que, no discurso, valoriza o erro e, na prática pedagógica do dia a dia, o recrimina e lhe atribui valor negativo, em vez de usá-lo como estratégia educativa:

São várias as mensagens em nossa cultura que visam amenizar o erro. Diante de situações que o envolvem, seja de nossa parte ou de outro, é comum ouvir-se, por exemplo, que “errar é humano” ou, ainda, que “ninguém nasce sabendo”. Mas será que de fato somos tolerantes ao erro? Com 'tolerantes' quero dizer se, ao buscarmos lidar com uma situação que envolve o erro, estaríamos realmente reconhecendo o seu valor intrínseco ou praticando apenas uma convenção social.

Essa questão-chave tem perturbado meu sono há algum tempo, pois tenho ouvido com frequência entre colegas professores a afirmação de que é preciso “valorizar os erros dos alunos”. Na prática, no entanto, o que observo é totalmente diferente: o que predomina, ainda, é a punição ou, usando uma expressão mais amena, a atribuição de valor ao que o aluno produz com base em uma escala que envolve apenas os conceitos de certo ou errado (e, em alguns casos mais raros, o ‘meio certo’)"...

quarta-feira, 26 de março de 2014

Uma educação do indivíduo inteiro para um mundo unificado...

Há anos que, também, estou em busca desse novo paradigma de que tanto fala os doutos, como possibilidade de mudanças das sociedades, vejamos o que este texto nos proporciona: 

“Quase toda educação tem uma motivação política: propõe-se a fortalecer algum grupo, nacional, religioso ou social na competição com outros grupos. É esta motivação o que principalmente determina que matérias são ensinadas, que conhecimento é oferecido e que conhecimento é ocultado e que determina ademais que hábitos mentais se espera que os pupilos cultivem. Praticamente nada se faz em função do desenvolvimento interior da mente e do espírito; com efeito, aqueles que receberam mais educação sofreram com freqüência uma atrofia mental e espiritual.”

Fala-se muito hoje em dia de uma “mudança de paradigma” na ciência e, mais 
geralmente, no modo de compreender o mundo e o ser humano. Qual é esse novo paradigma, que invocam tanto a nova física como a psicologia contemporânea, e como, de um modo mais ou menos implícito, está afetando praticamente todos os campos do saber e do fazer? 

Podemos chamá-lo “holismo” ou “integralismo”: um enfoque centrado no todo. Esta é a perspectiva que subjaz a inspirações tão diversas como a teoria geral de sistemas, o enfoque sistêmico da ciência da administração e a gestão de empresas, o estruturalismo, e a psicologia da forma. A característica mais chamativa de nossa época é uma nova maneira de conceber as estruturas, a organização, a inter-relação das partes em um todo. A vida e o universo se nos apresentam hoje em dia como meta-estruturas evolutivas. 

Há uns dois mil e quinhentos anos, o Buda contava a história de alguns cegos que faziam uma idéia do que era um elefante tocando-o. Assim, um o comparava a uma palmeira, outro a uma corda, outro a um leque, etc., segundo suas mãos exploravam uma pata, o rabo, uma orelha, ou outras partes do animal. Esta história, adotada mais tarde pelos sufís, tornou-se particularmente popular hoje em dia e com razão, pois, expressa o florescimento no espírito de nosso tempo de uma compreensão cada vez mais generalizada de que o todo é, efetivamente, algo além da soma de suas diversas partes."

Uma educação para a evolução pessoal e social...

“Respostas corretas”, especialização, estandardização, competência estreita, aquisição ávida, agressão, desapego. Sem elas, nos pareceu que a máquina social não poderia funcionar. Não devemos culpar as escolas de crueldade quando só cumpriram o que a sociedade lhes pediu. Porém a razão pela qual necessitamos de uma reforma radical da educação é que as demandas da sociedade estão mudando radicalmente. Não cabe dúvida de que as características humanas que hoje em dia se inculcam deixarão de ser funcionais. Já se tornaram inapropriadas e destrutivas. Se a educação continua sendo como é, a humanidade acabará se destruindo cedo ou tarde.” 

O tema já foi anunciado e é praticamente uma tese: já é hora de termos uma educação para o desenvolvimento humano. Acarreta também a convicção implícita de que sem uma educação para o desenvolvimento humano, dificilmente chegaremos a ter uma sociedade melhor. Até aqui, temos vivido uma longa história de nobres propostas e revoluções encarniçadas pela mudança social que descuidavam da mudança individual e parece que já é hora que entendamos que, se queremos uma sociedade diferente, necessitamos de seres humanos mais completos: não se pode construir algo desta natureza sem os elementos apropriados. 

Eis aí o link para uma plena leitura:   Claudio Naranjo...

Mudar a Educação para Mudar o Mundo...

Eu denunciei a educação tradicional formal (i.e. patriarcal) como sendo um desperdicio dos mais destrutivos em um tempo quando não há nada que seja mais necessario do que uma cultura verdadeira, compreensão e um coração bondoso. Eu creio que a educação é a nossa maior esperança, parcialmente porque ela já desenvolveu a base institucional sobre a qual pretendia realizar sua função, e que talvez um dia possa realmente tornarse realidade: promover o desenvolvimento pessoal.

Já que nosso problema básico mais grave e constante é o subdesenvolvimento da consciencia, e já que a viagem de cura contra o fluxo de deterioramento é dificil, necessitamos enfatizar a prevenção - e temos o veículo para isso através da educação compulsoria, sempre que possamos compreender quão destrutivo tem sido tentar educar aos jovens na imagem e semelhança do que somos, e como estamos sendo arrogantes e cegos em não perceber o fato de que estamos passando adiante nossos valores impregnados da transmissão de nossas enfermidades.

Se a grande esperança em mudar a educação será satisfeita - e melhor que seja logo do que nunca - esta terá que acontecer na cura e transformação dos professores, pois seria ridículo imaginar que isso poderia ser feito apenas através de reformas curriculares. Então surge a pergunta: temos um método eficiente e factivel através do qual possamos educar professores com experiências e treinamentos que nunca foram dados pelo mundo acadêmico, e que na verdade são indispensáveis tendo em vista uma educação voltada para a evolução pessoal e social?

Eu acredito que criei tal método, e comprovei satisfatòriamente sua eficiencia na minha percepção e na dos meus colegas e alunos. O leitor interessado pode encontrar informação relevante nas seções sobre o SAT e sobre SAT-na-educação, assim como no meu livro Changing Education to Change the World (Mudar a Educação para Mudar o Mundo), originalmente escrito em espanhol e também publicado em português e italiano. (Estou incluindo o índice, a breve introdução e um capítulo de amostra, descrevendo o trabalho experiencial com grupos que desenvolvi, e creio que é o que a educação necessita precisamente para sua transformação). Mais importante ainda talvez seja o fato de que procuro convencer pessoas de que é na educação que reside nossa maior esperança de superar nossa presente crise proveniente de uma civilização e sociedade patriarcal.