domingo, 20 de julho de 2014

Uma História da Razão...


... "Pode-se falar em uma invenção da razão. Isso é o que diz François Châtelet. Essa forma de pensamento surgiu na Grécia Clássica, e teve sucesso esplêndido. A razão certamente é muitomais desenvolvida pelos filósofos, mas, segundo Karl Marx, esses agentes nada fazem paratransformar o mundo. Bobagem, na concepção de Châtelet. Para ele, esses estudiosostransformaram o mundo. As idéias acabaram se concretizando e, para visualizar melhor isso, basta lembrarmos a democracia ateniense. µ¶Na democracia, a palavra vai impor-se, e quemdominar a palavra dominará a cidade¶¶ (p. 16), somente isso já mostra o poder dos filósofos.É, portanto, preciso saber argumentar, e aí entram em cena os mestres, que ensinam essadestreza (sofistas que, etimologicamente, quer dizer µ¶intelectual que sabe falar¶¶).O pensamento sofístico poderia ser chamado de progressista, embora na concepção grega nãohaja a idéia de evolução; a sociedade repete sempre o mesmo ciclo. Nisso, enquadra-seSócrates que, a seu modo, é um sofista. Seu trabalho é falar com seus concidadãos, e para issonada cobra. Châtelet levanta uma questão muito interessante acerca dos debates socráticos.Para o antigo filósofo é preciso saber para quê determinado fato serve, o que se quer e o quese pretende, necessita-se saber o µ¶conceito¶¶. Somente depois se pode responder determinada pergunta. Certamente, todo esse tecnicismo de Sócrates o levou à ruína. Passou a ser odiado pelos cidadãos de Atenas, o que acabou o levando à morte. Surge, então, a filosofia platônica.Platão, assim como Sócrates, procurava realizar as perguntas, mas queria também fornecer respostas. E, seguindo os sofistas, valorizava a palavra. A filosofia platônica é, sem dúvida,uma filosofia que tenta explicar as pequenas e grandes coisas, que parte de perguntas simples.

Esse diálogo, de que se ocupa essa ciência, é a dialética. É certo que isso produzirá os tãovalorizados conceitos (tal como o da universalidade). Os discursos são construídos dentro dascomunidades e, segundo François Châtelet, é tão meticuloso que acaba convencendo a todos.E isso é um problema, uma vez que µ¶perguntas que são feitas nunca são inocentes¶¶. Percebe-se, então, que as palavras são de grande importância para os filósofos e aí entra a grandequestão da filosofia: o que fazer quando o discurso não interessa a alguém? Châtelet explicaque nesse momento o agente enunciador deve retrucar e argumentar com o ouvinte, levando-oa acreditar na veracidade do fato.Émile Noël agora toma um rumo diferente em suas perguntas. Levanta a questão dascivilizações que precederam a Grécia antiga, tais como o Egito que influenciou em demasiaaquela civilização. Châtelet explica, então, que se deve evitar um ocidentalismo excessivo. Écerto que a sabedoria desses povos é de grande importância, mas foram os gregos que deramorigem ao logos (a razão), e essa nova forma que foi determinante no desenvolvimento dasciências, bem como a concepção do
ser.

Os filósofos estão sempre em busca da verdade, e isso só cabe a eles, uma vez que a opiniãoda maioria e o discurso de autoridade não são fontes dela. É por isso que tentam desenvolver um discurso universal, capaz de julgar todos os outros discursos, por mais responsabilidadeessa tarefa exija. Châtelet diz que por mais totalitário que pareça, não o é. Razão e liberdadedevem estar sempre juntas, embora em alguns casos a filosofia possa servir de uminstrumento totalitário nas mãos de alguns políticos.É válido lembrar que µ¶os grandes pensadores apenas formalizam o que os povos inventam¶¶(p. 33). 

A idéia de que o discurso traz à tona a verdade e a transparência, fundamentada no logos é, portanto, formalizada por Platão.Após a formalização de grande parte da teoria filosófica por esse grande filósofo, Aristótelestoma as rédeas para com o desenvolvimento dessas idéias. Por vários séculos seguintes, é elequem ira guiar o conhecimento. Mas antes de Aristóteles, Platão desenvolveu uma teoriamuito importante para desmistificar a universalidade: a teoria das idéias. Tal teoria serviu paradesenvolver um conhecimento mais exato e sucinto sobre determinado objeto.A hipótese das idéias consiste no extrato da realidade. µ¶Platão acreditava numa realidadeautônoma por trás do mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo dasidéias. Nele estão as imagens padrões, as imagens primordiais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza¶¶ (GAARDER; O Mundo de Sofia). Para compreender esse mundo,necessita-se realizar exercícios mentais. Châtelet explica que as opiniões múltiplas sempre sereferem a supostos fatos que, na maioria das vezes, são produtos das paixões, dos desejos edas circunstâncias. Todos enxergam a realidade como lhes convêm, ao contrário do mundodas idéias, que a apresenta sempre imutável. Isso Platão chamou de doxa.

Châtelet diz quenão se pode afirmar ser toda filosofia platônica, mas certamente sua teoria é o ponto de partida para o pensamento de muitas outras.Para atingir o a essência o homem utiliza a µ¶psykh궶 (alma). Assim como é capaz de perceber o mundo das aparências, também o é de compreender as Ideias através do discurso.Por isso a filosofia também é pedagógica, uma vez que conduz-nos da ignorância aoconhecimento. Pensando nisso, Platão cria um protótipo da cidade ideal e a educação que seuscidadãos deveriam receber. Trata-se de muitos anos de estudo, em que terminariam após cercade 30 anos. Esses intelectuais conseguirão enxergar as essências imutáveis e suas articulações.Esses pensamentos serão mais tarde contestados por Aristóteles.Aristóteles exerceu grande influência após Platão, mesmo havendo rompido com este. Fundouo Liceu, escola para filósofos e desenvolveu outros métodos. Fazia uma crítica ao pensamento platônico uma vez que esse limitava o entender da filosofia. Aristóteles buscava um saber que pudesse ser compreendido por mais pessoas, é preciso adaptá-lo às exigências deste mundo. Ofilósofo procurou fazer para entender, bem como eliminar o discurso dúbio herdado de seusancestrais. Mais do que isso, µ¶introduz uma constante circulação entre a essência e a aparência¶¶ (p. 45). No entanto, salienta que se deve tomar cuidado para não confundir essência e aparência. Deve-se sempre verificar a validade dos discursos filosóficos e éexatamente isso que diferencia o pensamento aristotélico do platônico. O trabalho deAristóteles será construir um texto inteligível que torna o ser transparente e que permiteconstruir saberes e realizar ações as mais sensatas possíveis.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Marilena Chauí em Café de Ideias....

Antropologia...

Afinal, o que é CULTURA?

Desenvolvimento do Conceito de Cultura

Conceito de Capital Cultural...

Capital Cultural...

.... "Este artigo tem por objetivo realizar uma análise retrospectiva acerca da gênese do conceito “capital cultural” em Pierre Bourdieu, formalizado inicialmente em colaboração com Jean-Claude Passeron na obra Les héritiers, publicada em 1964. Nossa proposição inicial é que a trajetória intelectual pregressa de Bourdieu pode ter condicionado as observações acerca das atitudes em relação à escola e à cultura de estudantes oriundos de diferentes classes sociais, como analisado na obra supracitada. Ao realizar uma revisão desta obra em especial, tentaremos, assim, investigar as contribuições advindas dos primeiros registros etnográficos de Bourdieu, presentes em trabalhos seminais como Sociologie de l´Algérie e Travail et travailleurs en Algérie. Este trabalho toma como pressuposto inicial que não se pode levar adiante uma refl exão fechada dos usos do capital cultural: buscar-se-á, desta forma, investigar como os trabalhos etnográfi cos de Bourdieu repercutiram na formalização deste conceito" Link 1, aqui...  Segundo este sociólogo francês, pioneiro na sistematização do conceito, a segunda mais importante expressão do capital, à qual precede apenas o capital econômico portado pelos agentes sociais. Engloba prioritariamente, a variável educacional, embora não se limite apenas a ela.

Para o autor, a educação/’capital cultural consiste num princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução. Isto porque, o sistema escolar realiza a operação de seleção mantendo a ordem social preexistente, isto é, separando alunos dotados de quantidades desiguais – ou tipos distintos – de ‘capital cultural’. Mediante tais operações de seleção, o sistema escolar separa, por exemplo, os detentores de ‘capital cultural’ herdado daqueles que são dele desprovidos. Ademais, ao instaurar uma cesura entre alunos de grandes escolas e alunos das faculdades, a instituição escolar, geradora do ‘capital cultural’, institui fronteiras sociais análogas às que separam o que Bourdieu denomina “nobreza” e “simples plebeus”: Link 2, aqui... 

Desenvolvido por Pierre Bourdieu, este conceito refere-se ao conjunto de recursos, competências eapetências disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura dominante ou legítima. Pode existir em doisestados: incorporado, quando faz parte das disposições, do habitus, dos agentes; e objetivado, quando écertificado através de provas, atributos ou títulos, designadamente escolares. Como qualquer capital, ocapital cultural confere poderes que propiciam diversas probabilidades de lucro (económico, cultural, socialou simbólico) nos campos e mercados em que é eficiente. Todo o capital, seja qual for a sua espécie,subentende uma relação de dominação, de apropriação/desapropriação. Se, a priori, todos dispomos decompetências e de saberes, o certo é que estes são valorizados de forma desigual. Um determinado saber,para ascender ao estatuto de capital cultural, carece ser reconhecido e legitimado como tal. Consoante oseu enraizamento social (por exemplo, popular ou burguês), assim as diferentes formas de saber se tornamdignas ou não de crédito, conferem ou não dividendos na bolsa dos valores sociais.

O capital não é, portanto, uma coisa, uma substância, mas uma relação (de poder) correspondente a umdeterminado estado de forças na luta de classes. Mudando este, altera-se também o valor daspropriedades e dos atributos ditos culturais. A dita cultura dominante é um arbítrio cultural que,desconhecido na sua relatividade, passa por uma realidade absoluta. A família e a escola destacam-secomo as principais instituições de transmissão e inculcação do capital cultural. No ambiente familiaradquirem-se competência linguística, esquemas de pensamento e eventual familiarização com os conteúdose, sobretudo, as formas da cultura legítima. Consoante a distância ou a sintonia entre as culturas de classe(das famílias) e a cultura legítima, assim tenderá a ser mais ou menos bem sucedida a trajetória escolar esocioprofissional dos agentes. O funcionamento da escola e a sua articulação com a sociedade globalconfluem para que estes percursos não sejam percebidos como produtos dos efeitos conjugados decondições sociais discriminantes, mas como destinos pessoais ou fatalidades de índole diversa. Nestalógica, a escola não se limita a inculcar um determinado saber, promove também uma visão do mundo: Link 3, aqui... 

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social. 

Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado - que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc. 

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita: link 4, aqui... 
  
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