quinta-feira, 17 de julho de 2014

Capital Cultural...

.... "Este artigo tem por objetivo realizar uma análise retrospectiva acerca da gênese do conceito “capital cultural” em Pierre Bourdieu, formalizado inicialmente em colaboração com Jean-Claude Passeron na obra Les héritiers, publicada em 1964. Nossa proposição inicial é que a trajetória intelectual pregressa de Bourdieu pode ter condicionado as observações acerca das atitudes em relação à escola e à cultura de estudantes oriundos de diferentes classes sociais, como analisado na obra supracitada. Ao realizar uma revisão desta obra em especial, tentaremos, assim, investigar as contribuições advindas dos primeiros registros etnográficos de Bourdieu, presentes em trabalhos seminais como Sociologie de l´Algérie e Travail et travailleurs en Algérie. Este trabalho toma como pressuposto inicial que não se pode levar adiante uma refl exão fechada dos usos do capital cultural: buscar-se-á, desta forma, investigar como os trabalhos etnográfi cos de Bourdieu repercutiram na formalização deste conceito" Link 1, aqui...  Segundo este sociólogo francês, pioneiro na sistematização do conceito, a segunda mais importante expressão do capital, à qual precede apenas o capital econômico portado pelos agentes sociais. Engloba prioritariamente, a variável educacional, embora não se limite apenas a ela.

Para o autor, a educação/’capital cultural consiste num princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução. Isto porque, o sistema escolar realiza a operação de seleção mantendo a ordem social preexistente, isto é, separando alunos dotados de quantidades desiguais – ou tipos distintos – de ‘capital cultural’. Mediante tais operações de seleção, o sistema escolar separa, por exemplo, os detentores de ‘capital cultural’ herdado daqueles que são dele desprovidos. Ademais, ao instaurar uma cesura entre alunos de grandes escolas e alunos das faculdades, a instituição escolar, geradora do ‘capital cultural’, institui fronteiras sociais análogas às que separam o que Bourdieu denomina “nobreza” e “simples plebeus”: Link 2, aqui... 

Desenvolvido por Pierre Bourdieu, este conceito refere-se ao conjunto de recursos, competências eapetências disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura dominante ou legítima. Pode existir em doisestados: incorporado, quando faz parte das disposições, do habitus, dos agentes; e objetivado, quando écertificado através de provas, atributos ou títulos, designadamente escolares. Como qualquer capital, ocapital cultural confere poderes que propiciam diversas probabilidades de lucro (económico, cultural, socialou simbólico) nos campos e mercados em que é eficiente. Todo o capital, seja qual for a sua espécie,subentende uma relação de dominação, de apropriação/desapropriação. Se, a priori, todos dispomos decompetências e de saberes, o certo é que estes são valorizados de forma desigual. Um determinado saber,para ascender ao estatuto de capital cultural, carece ser reconhecido e legitimado como tal. Consoante oseu enraizamento social (por exemplo, popular ou burguês), assim as diferentes formas de saber se tornamdignas ou não de crédito, conferem ou não dividendos na bolsa dos valores sociais.

O capital não é, portanto, uma coisa, uma substância, mas uma relação (de poder) correspondente a umdeterminado estado de forças na luta de classes. Mudando este, altera-se também o valor daspropriedades e dos atributos ditos culturais. A dita cultura dominante é um arbítrio cultural que,desconhecido na sua relatividade, passa por uma realidade absoluta. A família e a escola destacam-secomo as principais instituições de transmissão e inculcação do capital cultural. No ambiente familiaradquirem-se competência linguística, esquemas de pensamento e eventual familiarização com os conteúdose, sobretudo, as formas da cultura legítima. Consoante a distância ou a sintonia entre as culturas de classe(das famílias) e a cultura legítima, assim tenderá a ser mais ou menos bem sucedida a trajetória escolar esocioprofissional dos agentes. O funcionamento da escola e a sua articulação com a sociedade globalconfluem para que estes percursos não sejam percebidos como produtos dos efeitos conjugados decondições sociais discriminantes, mas como destinos pessoais ou fatalidades de índole diversa. Nestalógica, a escola não se limita a inculcar um determinado saber, promove também uma visão do mundo: Link 3, aqui... 

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social. 

Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado - que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc. 

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita: link 4, aqui... 
  
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