Eis um excelente trabalho, de Mário Osório Marques..., acerca da necessidade de se reconstruir a educação para uma possível mudança no eixo social...
Segue mais informações sobre o autor retirado da Wikipédia: “Era formado em Filosofia, pós-graduado em Teologia, doutor em Educação, educador, sociólogo, pedagogo. Integrou, desde o início, o
quadro docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), de cuja construção foi o artífice maior”.
... “À medida mesmo que a
educação se faz mola mestra e propulsora das sociedades contemporâneas, mais necessário se torna
repensá-la radicalmente e para além do que revelam as ideias claras e
distintas, ao estilo cartesiano. Trata-se de repensar o próprio pensamento no
que tem ele de impensado, nos seus pressupostos mais esconsos. Para além, ou
para mais fundo do que costumamos denominar pressupostos filosóficos,
científicos ou técnicos, para além dos modelos e teorias que decididamente
esposamos, torna-se imperioso repensar a educação nos seus paradigmas,
entendidos estes como as estruturas mais gerais e radicais do pensamento e da
ação educativa.
Colocamos aqui a questão dos
paradigmas não apenas no âmbito da evolução das ciências singulares ou de
setores da atividade humana, mas no sentido abrangente de toda ação humana e de
todo conhecer em seus eixos de mudanças mais radicais, não estritas,
esporádicas ou parciais. E a colocamos, ao mesmo passo, sob o signo da
permanente reconstrução histórica em que os paradigmas não se sucedem apenas,
mas se interpenetram e permanecem na novidade de nova estruturação na cultura e
nas cabeças, necessitados de se distinguirem para sabermos qual deles nos
comanda.
Segundo Edgar Morin (1987, p.24),
"o nosso pensamento deve investir o impensado que o comanda e o controla.
Servimo-nos de nossa estrutura de pensamento para pensar. Teremos ainda de
servir-nos de nosso pensamento para repensar a nossa estrutura de pensamento. O
nosso pensamento deve regressar às origens, num anel interrogativo e crítico.
Senão a estrutura morta continuará a destilar pensamentos petrificantes...
Descobri como é vão lutar apenas
contra o erro, pois este renasce incessantemente de princípios de pensamento
não abrangidos pela consciência polémica. Compreendi como era vão provar apenas
ao nível do fenómeno: a sua mensagem é reabsorvida rapidamente nos mecanismos
de esquecimento relativos à autodefesa do sistema de ideias ameaçado.
Compreendi que não havia
esperança na simples refutação: só um novo fundamento pode arruinar o antigo.
Por isso, penso que o problema crucial é o do princípio organizador do
conhecimento, e que o que é vital hoje não é apenas aprender, não é apenas
reaprender, mas sim reorganizar o nosso sistema mental para reaprender a aprender".
Neste mesmo
sentido — e é necessário nele insistir —, afirma Ortega y Gasset (1972,
p.65-66) que na obra de Kant estão contidos os segredos da época moderna, mas
lamenta: "O mundo intelectual está repleto de gentis-homens burgueses que
são kantianos sem sabê-lo, kantianos fora de tempo, que nunca lograrão deixar
de sê-lo porque nunca o foram conscientemente.
Como toda ação humana, a ação
educativa necessita, dessa forma, tematizar, isto é, erigir em explícita
questão de reflexão e discussão, os paradigmas recônditos e, por isso,
necessitados de reexame, como base do esclarecimento e da práxis política, vale
dizer, gerada e articulada em ampla publicidade crítica.
Reconstruir a educação que
responda às exigências dos tempos atuais não significa o abandono do passado, o
esquecimento da tradição, mas uma releitura dela à luz do presente que temos e
do futuro que queremos, uma hermenêutica que parta do pressuposto de que
nenhuma tradição se esgota em si mesma, bem como nenhuma é dona original de seu
próprio sentido. Requer a dialética da história que se superem os caminhos
andados, mas refazendo-os.
Reconstruir não significa ignorar
o passado que, na cultura e em cada homem, continua presente e ativo, vivo e
operante, mas impõe que nele penetrem e atuem novas formas que o transformem e
o introduzam na novidade de outro momento histórico e outros lugares sociais”... Para uma leitura completa do artigo: aqui...