quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um Olhar Indígena

                 As concepções setecentistas da territorialidade e da fronteira indígenas são analisadas inicialmente em sua relação com a idéia de "nação" presente no discurso colonial português e, posteriormente, nas situações de independência e formação dos Estados-nação. O artigo, constituído no quadro do diálogo entre a Antropologia e a História, propõe uma abordagem da territorialidade e da fronteira enquanto categorias culturais.

                       Essa idéia explica a metáfora do olhar distanciado. Esse olhar não se localiza em nenhum lugar privilegiado. Daí decorre uma tarefa conferida aos antropólogos, na medida em que se preocupem em caracterizar a noção de humanidade: descrever o grupo de transformações que a deixa invariante. É papel do antropólogo descrever, livre de um sistema de referência particular, o grupo de transformações que expressaria — ao exibir as possibilidades do espírito humano a posteriori — uma construção precisa da noção de humanidade, sem apelo a um sujeito transcendental.
                    Havia uma ambição platônica na busca sistemática de invariantes anatonômicos a que se devotaram os grandes naturalistas do século XIX após Cuvier e Goethe. Os biólogos modernos deixam às vezes de fazer justiça ao gênio dos homens que, por trás da variedade impressionante de morfologias e modos de vida de seres vivos, conseguiram identificar, se não uma "forma única", pelo menos um numero finito de arquétipos anatômicos, cada um dos quais invariante no interior do grupo que caracteriza .
                    Foi precisamente nessa tradição de busca da forma como invariante no interior de um grupo de transformações que D’Arcy Thompson escreveu sua obra já mencionada, que o soviético Vladimir Propp analisou centenas de contos populares russos, e que Lévi-Strauss escreveu as Estruturas elementares do parentesco e as Mitológicas.
                   Convém, antes de passar às implicações mais gerais desse programa, ressaltar a atitude face da multiplicidade e da identidade que nele estão contidas. A identidade não é dita de objetos ou de substâncias. Ela relaciona-se a propriedades relacionais. A definição de Weyl para simetria é a de algo que podemos fazer a uma coisa (uma transformação), conservando algo. Descrever a identidade de um objeto é então equivalente a descrever suas simetrias, isto é, o grupo de transformações a que pertence.
                  Para Leibniz, um mundo em que as relações espaciais entre objetos fossem idênticas às que valem em nosso mundo — exceto que direita e esquerda fossem invertidas, ou que todos os tamanhos fossem multiplicados por dois, ou que tudo fosse deslocado por uma translação — seria indistinguível do nosso mundo, mesmo para Deus: em outras palavras, esses mundos seriam de fato um e mesmo mundo. Contra Newton, Leibniz foi assim um estruturalista radical, ou um precursor de um raciocínio relativista, o que é equivalente. Para Weyl, a noção de grupo de transformação torna-se mesmo equivalente à noção de identidade.
                   Queremos voltar a Lévi-Strauss mostrando como essa concepção leva a uma forma peculiar de relativismo antropológico. Nos grupos de transformação tratados pela Antropologia estrutural objetos são, por exemplo, sistemas de parentesco e mitos. Transformações são simetrias que levam de um mito a outro, de um sistema de parentesco a outro. Objetos ainda mais gerais foram sugeridos em O pensamento selvagem: transformações ligando sociedades distintas, ou sub-sistemas delas, e operando sobre sistemas cognitivos, econômicos, estéticos. Já em l945 Lévi-Strauss tratou "átomos de parentesco" de um conjunto de sociedades distintas como parte de um único grupo de transformações.
                    Sob essa perspectiva, não há objetos privilegiados. Qualquer mito pode ser o ponto de partida para a obtenção do grupo inteiro de transformações. As propriedades relevantes são justamente aquelas igualmente válidas ao longo dessas transformações . Em certo sentido, portanto, essas são as propriedades válidas em todos os sistemas de referência: as que não dependem da posição do observador, de sua escala de medida, de sua orientação, de seus valores. O estruturalismo descreve invariância nos objetos ou, dualmente, invariância entre observadores.
                   O estruturalismo é, sob esse ponto de vista, relativista, mas não no sentido do relativismo cultural que afirma o caráter irredutível das diferenças culturais (cada cultura bebeu de uma água distinta). É-o antes num sentido análogo ao que os físicos têm em mente ao falar de relatividade de uma teoria física. Pois, nesse sentido, relatividade não implica em declarar que "tudo é relativo" (cada observador teria "suas leis" irredutíveis), mas, ao contrário, identificar o grupo das transformações que permite expressar o que é invariante. Os invariantes de uma teoria são preservados em todo sistema de referência. Sem invariantes sob alguma tradução reina o solipsismo, não o relativismo. Traduzem-se assim as observações feitas de um "ponto de vista" em observações feitas de outro "ponto de vista", e mantendo a forma (se não o fraseado) de ambas as observações (seria como relacionar as observações do quadrado visto de diferentes ângulos). A diversidade torna-se compatível com a unidade.
                Levando essa idéia ao extremo, chegamos a uma tese mais geral. As propriedades que caracterizam a mente humana são invariantes ao longo das transformações que levam de uma sociedade a outra. Tais transformações são reversíveis e nos conservam no domínio do humano, e nessa medida constituem um grupo. Não há origem, nem sentido, nem escala privilegiada para a humanidade. A natureza humana radica, por assim dizer, num grupo de transformações .

(Autor não conheço) e a fonte é duma apostilha sem identificação!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Relatório apresentado ao prof. Coordenador do Departemento de História Gerson

RELATÓRIO DA DISCIPLINA ANTROPOLOGIA I NO CURSO DE HISTORIA EM PLACIDO DE CASTRO

Profª Rosangela Nascimento Barros
1. UMA BREVE INTRODUCAO

                     No dia 31 de marco cheguei, por volta das 20”hs, em Plácido de Castro para ministrar a disciplina Antropologia I. Este relatório descreve de maneira concisa esta Disciplina no Curso de Historia naquele Município. As atividades foram desenvolvidas no período de 01 a 17 de abril, com três momentos distintos, em quinze encontros, somando 60 horas/aula. Os alunos se constituíam em 46, com a desistência de dois, entre eles moradores da Vila Campinas e municípios de Acrelândia e Plácido de Castro. O cumprimento dos conteúdos nesse período só foi possível pelo posterior início da Disciplina Metodologia do Ensino, ministrada pela professora do Departamento de Educação, Venúsia, que iniciaria dia 08, mas, após a solicitação dos alunos, para não interromper o Seminário, a Disciplina Metodologia do Ensino iniciou somente dia 15 com as três primeira aulas....
                     Antes de dar início às atividades planejadas, expliquei minha formação e a área de interesse na antropologia, ainda a relação da antropologia enquanto auxiliar em Historia, fiz um breve comentário sobre os textos que iriam ser trabalhados. Em seguida solicitei que todos os alunos se apresentassem e sugerisse sobre o que deveria ser trabalhado e o que eles necessitavam como prioridade no campo da Antropologia Social; foi geral a necessidade de conhecer mais a a contribuição da Antropologia na Historia. Sabia que seria complicado atender às necessidades apresentadas, mas me propus a conhecê-las para apresentar como objetivos para as aulas os seguinte pontos alguns existente no Plano de Curso:

• Compreender a Antropologia enquanto Ciência;

• Identificar o objeto, o método e as formas de abordagem antropológica;

• Reconhecer as diferenças culturais fazendo relação entre o Local e o Global;

• Perceber o Homem como Um Ser cultural;

• Identificar o campo da Antropologia Social e Cultural;

• Compreender os principais aspectos das escolas Evolucionista, Funcionalista, Estruturalista e Dinâmica;

• Entender a estrutura do inconsciente proposto por Lévi-Struss, como fator do determinismo biológico e geográfico;

• Identificar a aplicabilidade da Antropologia no social;

• Expressar oralmente um tema lido em conexao com o contexto Local;

• Descrever as observações em pequenos relatos sobre o trabalho desenvolvido por cada Um;

• Discutir a questão indígena no Acre.

                     Diante desses conteúdos foi traçado uma metodologia de trabalho partindo da leitura e a análise reflexiva (exposto pela professora e as intervenções dos alunos) dos textos da bibliografia do Plano de Curso que compreende a unidade primeira: para a compreensão da Antropologia no quadro das Ciências Sociais, foi analisado a Primeira Parte do Relativizando, Roberto da Mata; a unidade dois do Plano referes- ao conceito de cultura e sua relação com o Homem, nessa compleição trabalhamos com Cultura: Um conceito antropológico, de Roque Laiara; as teorias antropológica fez parte da unidade tres com a leitura do capitulo treze do livro ANTROPLOGIA:uma introdução de Marina de Andrade e Zelia Presstto, ainda..... Achamos necessário, entretanto, darmos início às nossas aulas pela leitura em voz alta e comentário do texto, os alunos se mostraram muito tímidos, pouco participativo, o que se fez perceber o pouco contato que eles tinham com a leitura, mas se justificou, também, por ser nossa primeira aula e meu primeiro contato com eles ((((((((Dando continuidade às nossas aulas, apresentei como primeira atividade a compreensão do texto assim o aluno teria que identificar os aspectos teóricos que se inter-relacionam com a realidade Local.

2. O PERCURSO DAS AULAS

                         O principal objetivo das aulas de Antropologia foi a promoção e habilidade necessária para compreensão dos textos teóricos na variedade da Ciência Antropológica e sua aplicabilidade no campo social. O trabalho pedagógico foi realizado em três momentos: primeiro, a exposição e comparação dos textos teóricos em antropologia social e cultural, com a percepção da antropologia enquanto ciência; o conceito de cultura e seus condicionamentos; e as teorias antropológicas (Malinowski), nas leituras e exposição dos textos no período de 01 a 06 de abril, conforme os textos acima citados.
                       O segundo momento, aconteceu no período de 08 a 11 com o Seminário formado por oito Grupos citar os textoexpondo textos teóricos em antropologia social e cultural, e definindo a antropologia enquanto ciência, também uma abordagem da historia da antropologia; o conceito de cultura e seus condicionamentos aqui. No dia 12 foi realizado uma excursão a Brasiléia com passagem em Xapuri, cujo objetivo era uma maior integração dos alunos de Historia desses municípios, alem de promover discussão sobre a reforma curricular do Curso de Historia, bem como um debate sobre o Centenário do Acre. Esse evento foi realizado no auditório da Escola Jose Kairara em Brasiléia com a palestra do historiador da Universidade da Bolívia Rivera.
                       O terceiro e ultimo momentos foi no período de 13 a 17 com a noção básica em pesquisa na elaboração de Projetos visando as problemáticas da realidade dos municípios de Acrelândia e Plácido. Para a construção e aplicabilidade dos projetos foi feito a leitura de um texto sobre trabalho de campo na Antropologia Social de Roberto da Matta, assim compreender a prática da Antropologia e sua contribuição enquanto ciência auxiliar da Historia. A turma foi divida em cinco grupos para discutir os problemas locais possíveis de ser abordados como modos característicos para coletas de dados a serem refletidos na visão, a priori, empirista que nega uma pratica evolucionista e determinista das ciências sociais. Quando as discussão se esgotaram sobre os problemas apresentados, foi construído e reconstruído um textos com temas direcionados pelos grupo. Com isso, no primeiro momento, a idéia era fazer um levantamento das necessidades reais no campo social, tanto a leitura como a compreensão dos conteúdos expressava a leitura da vida cotidiana desses municípios, assim foram elaboradas propostas de Projetos possíveis de serem trabalhados.
                 Diante das dificuldades apresentadas para identificar os , como também a falta de distinção entre as, foi necessário intensificar a leitura. Num outro momento da aula, como segunda proposta de atividade, sugerimos a construção de um texto relatando o trabalho desenvolvido por cada aluno fazendo o uso adequado dos conteúdos acima trabalhados. FALTA CITAR OS PROJETOS

3. ULTIMAS CONSIDERACOES

                           Após os contatos com os textos E AS EXPOSICAO em seminário percebeu-se que os alunos necessitavam compreender mais aspectos voltados às ciências sociais contemporânea (estou repensando os possíveis e atuais textos inovadores), ou melhor, uma maior leitura na teoria antropológica voltada para dinâmica social que na verdade corresponde a uma escola antropológica no sentido de pessoas que se influenciam mutuamente e diretamente no que diz respeito ao trabalho da prática antropológica, VISANDO uma melhor compreensão da realidade local. Pois no aspecto global o que se coloca sob o rótulo de Contemporâneo são idéias, de pessoas unidas por um mesmo contexto histórico e antropológico. Enquanto antropólogos de tradição inglesa como Leach ou Gluckman e franceses como Balandier ou Bastide, ao se virem frente a teoria que não eram adequadas ao seu estudo e às questões que lhes vinham, iniciaram um novo modo de pensar o seu "objeto".
                        A antropologia que se fazia anteriormente e até mesmo contemporaneamente a eles mas sobre teorias antigas, sempre tratou o seu "objeto", ou seja, principalmente as sociedades "tradicionais" ou "nativas", como um sistema coerente e harmônico. Tanto funcionalistas como estruturalistas tinham como "organismo", onde cada parte tem sua função ou significado dentro de um todo em harmonia. Fechavam os olhos à incompatibilidade e conflitos.
                        Principalmente o estruturalismo não vê desconexão entre representações e praticas, sendo os últimos reflexos dos primeiros. Malinowski já havia alertado para observarmos aspecto separadamente: normas, valores e práticas, mas sua teoria pouco nos elucidou para a aplicação deste principio, apenas dele ter sido de fundamental importância para pesquisa de campo.
                        Retomando, então, o Malinowski havia sugerido, estes antropólogos que vêem na dinâmica social o personagem importante da antropologia da segunda metade do século XX, que dará uma visão mais concreta da sociedade e da cultura, pois como o próprio Malinowski, eles também são antropólogos de campo sempre em contato com a complexidade da vida social.
                        A principal característica, portanto, desta linha teórica é ver as organizações sociais como sistemas "desarmônicos", ou seja, que contenha também conflitos, disputas, valores e desejos diferentes, etc. . Mas não totalmente "desarmônico" no sentido em que também há uma luta muito grande para que se mantenha a coesão social. São duas as principais forças que comandam a vida social: internas e externas. As internas são as que se desenvolvem dentro dos limites (aproximativos) do grupo e as externas se desenvolvem a partir do contato com outros grupos. Obviamente que é muito difícil saber onde um começa e onde a outra acaba, até mesmo impossível, visto que elas interagem entre si. As forças internas, como falam, pode ser de coesão ou de mudança. A estabilidade não seria algo "natural", mas fruto de muitos esforços como rituais diversos de integração social e ações de importância para a mudança do grupo. A mudança viria, principalmente, do fato das sociedades não serem sistemas de integração perfeita. Há realmente reflexo de um nível social em outro, mas isso não impede que cada um tenha acontecimentos, histórias e ritmos próprios, logo, a integração entre eles gera mudança, gera conflitos. Por exemplo, a economia pode influenciar na religião, sem no entanto que a compatibilidade entre ela seja total.
                        Outro fato que não pode ser desprezado de forma alguma é o da participação dos atos sociais, Balandier diz que este pode ser de quatro tipos: acomodação, revolta, estratégia ou manipulação. A primeira seria a atitude daquele que se submete integralmente à sociedade, o segundo o seu oposto e os dois últimos são os que mais determinam a vida social. Cada pessoa tem seus valores, idéias, desejos próprios, e isso em todo lugar, não só na sociedade "ocidental". Isto ocorre porque cada um pertence a uma classe, idade, família, linhagem diferente, têm histórias da vida diferente, portanto, como seria igual ? A ação de cada sociedade e indivíduos seria segundo estas características e também segundo o seu poder. Este poder é determinado pelo grau de informação, pela posição social, pelo limite em que pode ser usado , etc.
                         A estratégia de cada sociedade e indivíduos difere muito das normas gerais, é por isso que não podem conhecer uma sociedade apenas pelo seu conjunto de regras ou crenças gerais. A teoria antropológica valoriza o conhecimento de prática também. Antropólogos como Gluckman e Balandier, preferem tratar não só de sociedade como um isolado, mas de situação social, de contato, situação colonial, ou seja, ver uma sociedade dentro de um âmbito maior em que esteja inserida... É muito importante ressaltar que a dificuldade maior que as outras teorias traria ao estudo das sociedades tradicionais da atualidade, era que estas tratava à sociedade como isolados. Se este tipo de divisão era inadequada quando do inicio do ridículo, imagine agora que o capitalismo transforma e passa largar o mundo em uma única grande sociedade mundial!
                       Dito isto, podemos compreender as forças "externas". Primeiro de tudo, com o processo de colonização, neo - colonialismo, imperialismo, expansão do modo capitalista de produção e consumo, não podem falar de contatos simétricos, mas principalmente de dominação, de exploração e de transformação profunda e drásticas das sociedades tradicionais.
                      A proposta do grupo de antropólogos é estudar a vida social dentro deste processo complexo de interação e dominação. Inclusive este processo acelerado de mudança e conflitos nos faz ver fenômenos que seriam mais difíceis de se ver nesta situação "capitalista". Com determinações sociais, não são abstrações retiradas de observação, são fenômenos concretos. É como se fosse em laboratório espontâneo onde os fenômenos podem ser observados por indução feita não pelo pesquisador, mas pela própria situação social.
São processos cheios de idas e vindas, ações, reações e contra-reações que dependem de vários fatores, os quais determinam as diferenças de local para local, de cultura para cultura. Aspectos como a compatibilidade entre as culturas envolvidas, o tempo e a intensidade do contato, as possibilidades de influências dos indivíduos atingidos, a importância geográfica do Local , seja por riquezas naturais, pelas suas fronteiras ou outro fator, entre outros, vão dar as especificidades locais.
                           A resposta que se pode dar é que neste caso, as generalizações partem da própria prática, dos acontecimentos concretos. Não se observa mais a sociedade indo em busca de generalidade comum a todos, mas a própria expansão do mundo que gera a transformação de cada localidade em sua cultura, economia e organização social, tornando-se possível pensar no absurdo das generalizações. Como exemplo deste tipo de análise pode-se falar do Leach , de Gluckman na Nova Zelândia moderna onde ele analisa o ritual de indignação de uma parte. Para ele esta situação social seria muito significativa em termos de estrutura daquela sociedade local, que incluía os Zulos , o chefe, a engenheira da ponte , autoridades brancas da África do Sul. Através da análise desta situação ele pode nos revelar mais sobre como todos aqueles se relacionam, como estava dada a relação de poder, quais os significados das ações e discursos , enfim, como era aquela situação social onde conviviam pessoas de identidades variadas numa mesma estrutura. Se ele tivesse limitado sua análise apenas aos “ nativos “ muitas coisas teriam lhe escapado..
                           Para finalizar, a teoria antropológica tem em vista a sociedade como um processo, que inclui mudança e situação instável, sempre permeada por conflitos e desarmonia, visto que as pessoas têm valores e praticas diferentes. No caso do Acre se tem o peso que a noção de sociedade durkheimiana nos impõe, abrindo lugar a inflexibilidade e a não-participação dos atores sociais principalmente nas relações inter – sociais. Assim os mecanismos que geram o desequilíbrio dessa região afetando as sociedade indígenas tem suas marcas no processo de colonização, em nome do desenvolvimento, os homens que fazem a História conduziu os nativos dessa região a esse processo de transformação, que o poder civilizatório apropriou-se por uma fazer político inerente aos seus interesses. Entender esses desequilíbrio social e cultural causado por um processo mal-planejado politicamente, significa buscar um passado acreano recente, marcado pelas suas lutas e conquistas. Para que a Organização Indígena no Acre conquiste seu objetivo imediato e histórico é necessário elevar sempre mais nossos conhecimentos sobre Nossa História (consciência) e a História do Estranho(branco).
                       No Acre essa História começa no principio do Sex. XIX quando os Estranhos(brancos) penetram em Terras acreanas dando inicio à colonização, e na atual exploração, através da coleta do chamado “ouro branco”, além da pesca e caca também a extração de madeira. Descendentes de europeus: os nordestinos que primeiro participaram da exploração do Acre se apropriaram da mão-de-obra Apurinã (além dos fieis seringueiros) e aplicaram na prática o modo-de-trabalho das sociedades européia. Os Apurinã sendo os primeiros no contato de colonização acreana e sábios conhecedores da geografia regional, pois os seus conhecimentos passados aos novos colonizadores facilitavam a exploração de nossas riquezas naturais, além de terem maior domínio sobre os outros povos aqui viviam.
                      Os Apurinã, no aspecto geral das sociedades indígenas, já possuía sua própria forma de organização-do-trabalho garantindo a necessidade imediata e o sustento da comunidade: não trabalhavam para acumular riquezas(produtos); O trabalho Apurinã era organizado entre homens e mulheres e crianças, consistindo na prática da caça, pesca, coleta de frutos, agricultura, serviços-de-casa e fabricação (ou produção) de utensílios de barro e cesta. O processo de aldeamento seguia os mesmo critérios da colonização brasileira, onde os escravos agora eram indígenas que impunha o modo de vida, de trabalho e os costumes europeu, pois no Brasil o trabalho escravo ainda era norma e conseqüentemente os novo dono de terra no Acre. Os primeiros grande extratores de borracha e indicadores ou desbravadores da floresta foram os índios. Na conquista pelos direitos, não basta conhecer bem as leis constitucionais, a situação de exploração em cada Terra, as perdas de costumes, as imposições do estranho, poder do Estado para aumentar o lucro, os preconceitos, as discriminação: é preciso conhecer tudo isso e muito mais.
                    Mas o necessário é apreender os mecanismo de funcionamento da sociedade em que vivemos e da que dependemos, a história das sociedades em todas as épocas, as ricas experiências de trabalho escravo, conquista e perdas acumuladas ao logo desses anos. Quanto mais conhecimento tivermos sobre tudo isso, melhor saberemos orientar nossa caminhada na busca de valores perdidos e pelo fim de nosso domínio. Meu trabalho de pesquisa em sala de aula procura apresentar a historia da humanidade, desde os tempos imemoriais até as atuais conquistas de Direitos: a compreensão desse trabalho iluminará nossas idéias sobre as questões indígenas sendo mais uma fase da História de exploração iniciadas no passado da Historia Humana da exploração no período do Escravismo, se aprimorando no Feudalismo, se firmando no surgimento do Capitalismo com as expansões marítimas e se aprimorando mais ainda na linguagem da Globalização.
                 As transformações que todas as sociedade vem passando, implica na construção de um novo sistema de organização, além das mudanças provocadas pelas luta dos explorados na conquista de melhores condições de vida. Os primeiros grupos humanos de que a Ciência Sociais se dispões a estudar viviam em forma de bando, grupos de homens e mulheres que viviam da caça e da coleta de alimentos. Estavam sempre mudando de lugar em busca de alimento, pois viviam do que encontravam ao seu redor, doado pela Natureza. Toda conquista era divido entre todos... não havia desigualdade. No entanto o ser humano era dominado pelas forças da natureza, pelas chuvas, enchentes, feras selvagens. O homem nessa época vivia numa total dependência da natureza, como ainda vivem as sociedades indígenas no Acre.
                Tudo isso pra dizer que nos falta uma Antropologia Acreana, aqui nesse deserto verde envolta da floresta acreana também nos falta a dinâmica social, sem considerar no momento, as dificuldades de compreensão, principalmente das ciências humanas produzidas no Brasil, que não tem a função de interferência na realidade, mas uma interferência que amenize os problemas destruidores da sociedade, portanto enquanto no Brasil os cientistas sociais não encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção esta ciência só servirá como Literatura de descobertas pessoais, ainda corremos o risco de sofrer conseqüências graves, pois essa Literatura quando proferida por professores despreparados causam danos não só morais assim como sociais, e a liberdade individual quando atingida fragmenta-se em estilhaços de incertezas e dúvidas que bloqueiam a formação sócio-política da nossa sociedade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Relatório apresentado ao prof. Jacó Cesar Piccoli



RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO MINTER PUC\UFAC
- Mestrado Interinstitucional -
Rosangela do Nascimento Barros


1. UMA BREVE INTRODUÇÃO


Conforme a solicitação do professor Dr Jacó Cesar Piccoli, este relatório tem por objetivo justificar minhas atividades no Mestrado Interinstitucional em Ciências Sociais UFAC/PUC de julho de 2000 a dezembro 2001. Além de apresentar de forma sucinta todos os créditos concluídos, acrescento ainda as sugestões proferidas pela Orientadora professora Drª Carmen Junqueira, bem como as reformulações das proposta de projeto da dissertação.
Tentarei contar de forma objetiva desde o princípio. Ao iniciar o Programa de Mestrado Interinstitucional em Ciências Sociais UFAC/PUC no período de julho a novembro de 2000, fiz duas disciplinas com os professores: Lúcia Helena, Cultura e Civilização e com o professor Edson Passetti, Poder, Estado e Fronteira.
Saí de ônibus do Acre dia 04 de março e cheguei, por volta das 11:40hs do dia 08 de março de 2001 em São Paulo, para concluir o restante dos créditos do MINTER PUC\UFAC no período de março a junho de 2001. Com o projeto reformulado, algumas páginas ainda um tanto inacabadas, pensei que só faltava uma revisão bibliográfica e algumas sugestões teóricas da orientadora, mas a ciranda desse mestrado estava apenas iniciando... O tempo em que fiquei em São Paulo daria para esclarecer todas as dúvidas, se eu tivesse obtido as orientações devidas, porém as orientações que a professora e orientadora Carmen Junqueira me reservou foram resumidas em três encontros. As disciplinas que eu fiz para atingir os créditos em São Paulo foram ministradas pelos seguintes professores: Carmen Junqueira, Lúcia Helena, Rinaldo Arruda, Edson Passetti e Paulo-Edgar Resende, conforme relatarei a seguir.

2. O PERCURSO DAS AULAS

O cumprimento dos créditos iniciou dia 08 de março, às 14hs. A primeira aula foi com a orientadora Carmen Junqueira, na disciplina: A Antropologia de Georges Balandier, cuja ementa sugeria que: “A partir de uma visão inovadora sobre a dinâmica social, registrada no livro Sociologie Actuelle de I’Afrique Noire, as reflexões de Balandier sobre inovação e conservação cultural tiveram desdobramentos importantes para a análise antropológica. Assim, o objetivo central do curso foi acompanhar as diversas etapas percorridas por Balandier, extraindo de suas análises recursos metodológicos e princípios teóricos que ajudam a entender a dinâmica do tradicionalismo e da modernidade”.
O ritual acadêmico provocou o inevitável: de um lado da mesa, a professora para ministrar a disciplina de Georges Balandier, autor que inclusive foi sugerido por ela como embasamento teórico para a reformulação do meu projeto; do outro, eu. Repensei tudo para o aquecimento das aulas. A professora perguntou a todos sobre seus projetos de mestrados: chegou minha vez de responder, o desespero que me causou o seu parecer feito com base no meu primeiro projeto, me deixou hesitada, já havia mudado tudo... Respondi insegura: tentarei compreender o processo de organizacao das aldeias Kaxinawa partindo da Associação Kaxinawa do rio Jordão - ASKARJ.
O ritual só tinha iniciado, pois à noite nesse mesmo dia, das 19 às 22hs, iniciou a disciplina Teoria da Antropologia com a professora Lúcia Helena V. Rangel... com ementa também favorável aos meus questionamentos os enfoques dos horizontes e trajetos teóricos em Antropologia. O curso pretendia analisar a construção das teorias antropológicas, com destaque especial à produção de Claude Lévi-Strauss, na medida em que sua obra representa uma inflexão entre universalidade e diversidade, anthropos e ethnos; as reflexões do referido autor estão no cerne do pensamento antropológico e nas analises da cultura.
Dia seguinte, às 14hs tive a primeira aula com o Professor Edson Passetti, na disciplina Teoria Política Contemporânea, com a seguinte ementa: “O curso investigou as teorias políticas contemporânea questionando as razões políticas individualistas e totalizadoras, e a complementar entre tecnologia de dominação e tecnologia de si. Na primeira parte foi discutido o embate no interior do socialismo e a reação liberal, sob os limites do intervencionismo. Na segunda parte, foi abordado os efeitos da reflexões sobre o poder, política e soberania, redimensionado por Michel Foucault e Deleuze, em torno da passagem da sociedade disciplinar para a sociedade democrática de controle.”
Semana seguinte, dia 14 de marco tive a primeira aula com o professor Rinaldo Arruda na disciplina Etnicidade e Tradição: as imagens sobre os outros. Alcance teórico e implicações sócio-políticas. Com a seguinte ementa: a discussão no alcance e limite das perspectivas antropológicas sobre etnicidade e tradição e o modo como vem sendo incorporadas pelos movimentos sociais (indigenismo e ambientalismo), pelo Estado e pelos organismos internacionais de desenvolvimento. O núcleo temático do curso abarcou questões relativas a etnia, identidade e mudanças sociocultural, assim como o aporte antropológico e o papel do antropólogo no tratamento destas questões.
Nesse mesmo período, do dia 19 de março a 16 de abril, iniciou a outra disciplina, inseridas nas Atividades Programadas ministrada pelo professor Paulo-Edgar Almeida Resende cuja ementa tinha por objetivo os seguintes pontos: “a programação que enfoca as macrotendências: globalização - regionalização, formação de blocos e as novas questões práticas e teóricas postas para a operacionalização do que entendemos hoje por democracia. Desafios teóricos, a rede semântica em torno da palavra democracia; democracia e identidade nacional; direitos humanos como tema global; a subversão da territorialidade na nova ordem mundial; do multiculturalismo à mestiçagem”.
Ainda, nesse mesmo período, para preencher os espaços vazios assisti como ouvinte duas disciplinas: Teoria sociológica com o professor Luís Eduardo Wanderley ( nessa disciplina apenas participei de algumas aulas), onde a ementa na sua primeira parte investiga o embate com efeitos “Na Modernidade, algumas promessas foram cumpridas, outras cumpridas em excesso, e várias delas não foram cumpridas. A Pós-Modernidade irrompe como crítica e alternativa. Na reflexão dessa temática, varias questões se colocam para as ciências sociais: crise de paradigmas, paradigmas emergentes, racionalidade instrumental versus transdisciplinaridade, reflexividade, risco, entre outras. Num horizonte de perplexidade e incertezas, o curso pretende analisar estas questões, e retornar o estudo das utopias com foco privilegiado.”
A segunda disciplina que fiz como ouvinte teve um desdobramento muito significativo para outras disciplinas obrigatórias, bem como para minha dissertação de mestrado, eis a disciplina: Modernidade, Aventuras e Etnografia do Capitalismo, com a professora Márcia Regina da Costa, onde a ementa sugeria que: “Georges Balandier postula que a modernidade é uma aventura, um avanço para os espaços sociais e culturais muitíssimos desconhecidos, uma progressão em, tempo de rupturas, de tensões e de mutações. A articulação entre Antropologia e Vida Moderna foi um dos pressupostos do curso e seu objetivo imediato foi de analisar trabalhos e pesquisas que procuram explorar alguns dos caminhos trilhados pela Antropologia dentro da modernidade.”
Baixo arrolarei os títulos dos trabalhos para avaliação das disciplinas acima citadas:

a) Trabalho apresentado ao professor Rinaldo Arruda na disciplina A Etnicidade e Tradição: as imagens sobre os outros. Alcance teórico e implicações sócio-política.

TITTULO: ETNIA E DIVERSIDADE CULTURAL

b) Trabalho apresento ao professor Edson Passetti na disciplina Teoria Política Contemporânea.

TITULO: UMA HIPOTESE MAL FORMULADA DO HOMEM CONTEMPORÂNEO DIANTE DA SOCIEDADE DE CONTROLE

c) Trabalho apresento ao professora Carmen Junqueira na disciplina A Antropologia de Georges Balandier.

TITULO: SOCIEDADE SEM ESTADO E ESTADO TRADICIONAL

d) Tarabalho apresentado a professora Lúcia Helena na disciplina Teoria Antropológica.

TITULO: MITO: IDEOLOGIA OU UMA HISTÓRIA QUE SE RENOVA?

e) Trabalho apresentado ao professor Paulo Edgar Resende na disciplina Democracia e Globalização.

TITULO: NOSSAS DEMOCRÁTICAS DIFERENÇAS: O Poder da Democracia

Acho necessário, entretanto, apresentar os trabalhos de avaliação para demonstrar que compreendi as questões tratadas no decorrer das disciplinas, e fazer perceber o contato que tive com as Teorias, muito embora isto não seja o suficiente para uma justificativa, pois infelizmente não pude reformular os trabalhos, já que não os obtive de volta com as devidas correções dos respectivos professores, além de não consegui conectá-los diretamente a proposta da dissertação, porque o tempo curto me impossibilitou maior habilidade no momento que os elaborei.
Levo aqui em consideração também a viagem para a pesquisa de campo que já estava marcada com a comunidade Kaxinawa em questão, no mês de setembro, mês este que antecedia o Seminário de Pesquisa e, consequentemente, a Defesa do Projeto de Qualificação que anexarei logo abaixo. Acrescento ainda que os trabalhos me possibilitaram a nota parcial para a obtenção dos créditos das disciplinas acima arroladas e foram enviados juntos na mesma data indicada pelos professores.

3 – TERCEIRA ETAPA EM RIO BRANCO – UFAC

Diante do parecer do meu primeiro Projeto de Mestrado feito pela Orientadora Carmen Junqueira tive que mudar minha proposta, dizia ela, sobre As Mascaras do Indigenismo sobre o pensamento político indígena: “Boa parte do projeto é um exercício acusatório à política oficial de assistência ao índio, bastante genérico e elaborado em tom jornalístico. A autora inflama-se face às ações do estado e da sociedade, a maioria delas nocivas ao interesse indígena, mas acrescenta muito pouco ao já conhecido”. Bem, na verdade fui um tanto emotiva e tendenciosa, mas os efeitos daquela Marcha Indígena dos 500 Anos do Brasil, a qual participei ativamente, ainda mantinha acesa em mim uma chama de revolta, foi quando retomei a minha experiência inicial da Comissão Pró-Índio e acatei a reformulação do projeto sugerido por ela que acrescentava exatamente assim: “Há necessidade de circunscrever o tema, elegendo uma organizacao indígena para ser estudada, possivelmente uma que se destaque pela qualidade política de suas reflexões, projetos e iniciativas. Isso definido, levantar a origem da organizacao, contexto histórico que ocasionou seu surgimento, oposições enfrentadas, tensões e disputas que resultaram na sua composição à época da criação. Qual o modelo da organização, dispositivo formais e âmbito de influencia. Verificar através de documentos, jornais etc, sua atuação, sucessos, fracasso e resistências colocadas pelos opositores”. Logo pensei na ASKARJ(Associação Kaxinawa do rio Jordão), pois todos os critérios estabelecidos pela a Orientadora, ao meu ver, se relacionavam a essa Associação, como forma de organização internas das aldeias e as influencias externas com as instituições não-governamental e governamental.
Bem, com o projeto reformulado pensei que o problema exposto no parecer estava resolvido, a idéia inicial estava assim: ASSOCIAÇÃO KAXINAWA DO JORDÃO: Uma organização Huni Kuin na busca prática de uma teoria de ação política Kaxinawa. Onde justifiquei da seguinte forma: “Diante das mudanças causadas pela situação de contato, que vem ocasionando mudanças internos nas aldeias Kaxinawa do Jordão, este trabalho tem como plano justificativo a necessidade de compreender o processo de organização Kaxinawa do rio Jordão/AC, a partir da demarcação de terras indígenas nesse estado. Contemplando também o momento de reorganização da sociedade Kaxinawa com a criação da associação ASKARJ e a atual troca de coordenação, bem como uma avaliação dos Projetos comunitários ali desenvolvido, sem perder de vista a idéia de relação externas como parte do processo de colonização, principalmente pela colonização moderna com os projetos de desenvolvimento comunitários. Além de possibilitar uma reflexão a cerca das dificuldades que vem gerando mudanças na estrutura sócio-política e cultural do grupo”.
Repensando tudo o que tinha ocorrido, a transformação interior era gritante. Com o projeto mais uma vez reformulado para a Qualificação, porém com algumas páginas ainda um tanto inacabadas, iniciei o Seminário de Pesquisa com a professora Carmen Junqueira no mês de novembro de 2001. Pensei mais uma vez que o problema tinha sido resolvido, mas a sugestão da orientadora me deixou apreensiva, segundo ela eu não teria condições de fazer a qualificação, já que eu politizei além da conta a proposta de dissertação e a idéia dela era que eu fizesse uma etnografia da cultura Kaxinawa, mas o tempo me impossibilitava mais uma, em decorrência da pesquisa já feita e a defesa para agosto de 2002, além da proposta dela ser um tanto desnecessária para a questão indígena no Acre, já que trabalhos etnográficos foram feito pelos antropólogos Terri Valle de Aquino, OS KAXINAWA DO RIO JORDÃO: História, economia e organização e Ejse Lagrou UMA ETNOGRAFIA DA CULTURA KAXIANAW: Por entre as Cobras e os Incas( dissertação de mestrado); CAMINHOS, DUPLOS E CORPOS: Uma abordagem da identidade e alteridade Kaxinawa (tese de doutorado). Então eu não quis repetir mais uma etnografia e aqui estou esperando mais uma oportunidade.

4. PROJETO DA QUALIFICACAO

A idéia inicial, abaixo descrita, em que se estruturou a minha dissertação de mestrado serviu apenas para a defesa da qualificação e está disposta a partir de uma de uma breve análise feita sem uma orientação uma orientação oficial, e com base nos dados etnográficos fornecidos por Terri Vale de Aquino. Não tendo sido possível fazer uma análise mais profunda.

a) Trabalho apresentado a professora Carmen Junqueira no Seminário de Pesquisa como requisito da Qualificação para forma final da dissertação.

TÍTULO: KAXINAWA DO JORDÃO: História da Conquista Territorial e Resistência no Processo Tradicional de Organização

SUMARIO
PARTE I

INTRODUÇÃO............................................................................................

1 - A trajetória da pesquisa..........................................................................

2 - A teoria: uma abordagem pragmática..................................................

3 - Procedimentos metodológico..................................................................

CAP. 1 – Os Kaxinawa: Território e População no acre ...............................

CAP. 2 - Percurso histórico e econômico do rio Jura e Atarauaca.......................................................................................................

CAP. 3 - Os Kaxinawa: ocupação do rio Tarauacá e as correrias...........................................................................................................

PARTE II

CAP 1 - Identificação das Terras Indígenas no acre..................................

CAP 2- Sociologia do Seringal Kaxinawa....................................................

CAP 3 - A cooperativa Kaxinawa: uma forma possível para a conquista da terra..............................................................................................................

CAP 4 – A imagem da regularização da Terra Indígena Kaxinawa do rio Jordão...............................................................................................................

PARTE III

CAP 1 - A organização Kaxinawa do Jordão................................................

CAP 2 - Associação dos seringueiros Kaxinawa do Jordão: a dinâmica social e política ...............................................................................................

CAP 3 – A rede territorial dos Kaxinawa do Jordão...................................

CAP 4 - A conquista da escrita: Os intelectuais da Floresta......................

CAP 5 - Xamanismo: Política e Educação ...................................................

Considerações Final........................................................................................

INTRODUÇÃO

Esta dissertação constitui a trajetória de conquista territorial e organizacao interna Kaxinawa, partindo da especificidade cultural que se apresenta na estrutura sócio-política e econômica do cotidiano desse povo. Sem perder de vista o processo de colonização do Acre e a inserção Kaxinawa na economia da borracha. Trata-se, assim, de empreender uma leitura da inserção política na dinâmica social dos antigos seringais e do Território Kaxinawa, assim como as influencias externas e a conquista da escrita.
Baseado em fontes documentais de caráter oficial; relatórios e outros documentos produzidos pela Comissão Pró- Índio(CPI) no período de 1980 a 2000, este trabalho, em grande parte, lida com a versão fornecida por esta ong, bem como documentos do órgão oficial FUNAI e, em conseqüência, com o quadro de idéias em que se apoiaram seus projetos indigenista. O ideário da CPI, como se sabe, foi exaustivamente registrado por Terri vale de Aquino e Marcelo Piedrafita, porem as inflexões que tal ideário tem em praticas localizadas ainda por um acumulo de pesquisa aberta pelos trabalhos de Educação de Nietta Linderberg e os trabalhos acerca do Xamanismo de Ellje Maria Lagrou sobre os Kaxinawa do rio Purus e Jordão. A esta linha vem se somar a presente dissertação, que constitui um ensaio histórico-político e etnológico da experiência de uma Associação no rio Jordão no processo de reorganização territorial com a conquista da escrita, bem como os efeitos xamanicos.
Na experiência em questão, a categoria do trabalho, como pretendo demonstrar, revela-se, fundamental, catalisadora dos diferentes atores, praticas e idéias envolvidos. De um lado, nada mais significativo para a compreensão da ideologia Kaxinawa e seu processo inicial de conquista e organizacao. Denota, como apontou Terri Aquino, que a condição de inicio foi trágica, evoluiu, sem duvida, e de escravos se transformaram em seringueiros e logo proprietário de um Território, ainda intelectuais e políticos da floresta.
Por outro lado, destaca-se a rede de relações em que as intensas assessorias promovidas pela CPI inseriu, a partir das estalações das escolas, com efeito, as relações interetnicas e interinstitucionais são partes do processo de aquisição da escrita e a revitalização xamânica, pois como se vera adiante, a afirmação da identidade Kaxinawa parte da valorização cultural com a conquista do território e da escrita. Assim as perdas pelo recrutamento dos seringais que adotavam o sistema econômico típico do colonizador são recuperados a partir da educação bilíngüe. Os Kaxinawa conferem, em suas memória presente, a importância histórica ao seringal. Este período e marcado por símbolos contraditórios, pois, ao mesmo tempo em que são lembradas as violências, a exploração, as trocas desiguais, um tempo de escravidão – que teria inclusive, separados os Kaxinawa de uma existência primeira -, são valorizadas as aquisições do seringal, como hábitos alimentares, habilidades para negociar e em seguida os rituais xamanicos...
Fica, entretanto, o questionamento sobre como os Kaxinawa, na época da conquista territorial, interpretar o feito e quais foram as verdadeiras influencias externas e seus resultado na realidade atual com o efeito do capitalismo. Isto porque, para parafrasear Terri Aquino, se a FUNAI tinha um projeto, no qual os índios eram coadjuvante, os Kaxinawa não tinham nenhuma obrigação de a ela se conformar e levando isso em conta que busco rastrear nas documentações oficiais ou relatórios da CPI e assim projetar, ainda que em uma imagem lacunar e imperfeita, o modo pelo qual a Associação Kaxinawa foi incorporada pela lógica social das aldeias Kaxinawa.
Para entendermos melhor a distribuição das idéias apresentaremos aqui a estrutura do trabalho que se desenvolve da seguinte maneira: os capítulos estão distribuídos em três partes: a Primeira, refere-se a caracterização e localização dos Kaxinawa; o percurso histórico dos Kaxinawa do rio Jordão (reconstrução da historia e das migrações ocorridas no passado/ contato com outras culturas). Limite territoriais; reconstrução da cultura tradicional; aspectos da cultura; estrutura social. A Segunda, retrata os aspecto da organização política; tipo e definição de chefia, responsabilidades e respectivas regras que as regulam, o comportamento social; organização econômica: tipos de propriedades; direitos sobre à utilização da terra; tipos de produção; divisão do trabalho; tempo de trabalho por estação, por tarefa; organização do trabalho; distribuição do que é produzido; troca interna e externa; consumo; calendário da produção. A Terceira é conclusiva, reflete sobre o estudo da dinâmica Kaxinawa, a partir da pesquisa de campo: o estilo de vida atual, registrando os principais fatores responsáveis pelas mudanças, detalhando as mudanças ocorridas na estrutura social, na organização política e econômica; conflitos internos e externos; comportamento em relação à tradição e à inovação uma conexões com a economia capitalistas e seus efeitos na trajetória comunitária e pessoal; novos recursos e novos projetos de vida; fatores que respondem pela coesão social e fatores que afetam a vida comunitária; aumento das necessidades; meios de satisfação das novas necessidades carências e a estrutura na organização da Associação dos Kaxinawa do rio Jordão.
Ao longo da primeira parte do trabalho, no cap. I, são identificados e analisada distintas concepções de territorialidade elaboradas pelos Kaxinawa do Jordão em diferentes conjunturas da empresa seringalista no presente século no processo de colonização do Acre, dentre as quais: 1.1) a perda dos territórios imemoriais na situação histórica que os Kaxinawa denominam tempo de correrias; as formas de inserção econômica e política da população Kaxinawa no tempo do cativeiro. Situação histórica marcada pelo predomínio da empresa seringalista que se instalou na região do alto Juruá no final do século passado; 1.2) o processo de conquista territorial dos Kaxinawa, consubstanciado pela anexão novos seringais nativos....
Em sua Segunda parte, nos cap. I, o trabalho apresenta a construção de um pequeno território Kaxinawa, com base na posse do seringal Fortaleza pelo grupo familiar liderado por Sales, moldado pela disposição espacial dos seringais nativos, pela dinâmica da atividade extrativista da borracha, bem como pelos condicionamentos resultantes das relações de aviamento impostas pelos patrões seringalistas (proprietários, arrendatários e gerentes aviados) que controlavam os seringais do rio Jordão e do alto rio Tarauacá; da identificação e delimitação da Terra Indígena Kaxinawa, seguida pelos processos de mobilização desta população para a retirada dos ocupantes não índios, através da ocupação produtiva dos seringais. Visava-se a conquista de espaços mais autônomos de comercialização da borracha, por meio da estruturação da Cooperativa, e a auto-demarcação dos limites da área que pretende descrever a combinação das diversas atividades econômicas (agricultura de terra firme e de praia, caça, pescarias e extrativismo da seringa) desenvolvidas pelos grupos familiares Kaxinawa nas distintas épocas do ano e nos diferentes nichos ecológicos existentes nas florestas dos seringais do atual território.
Em sua III parte, na consideração final, são apresentados as propostas da Associação do seringueiros Kaxinawa para a regularização das formas de utilização dos recursos naturais do atual território (terras firmas, praias, fauna aquática e terrestre, seringa, madeira de lei, palheiras), assim como para o fortalecimento e a diversificação do conjunto de atividades produtivas tradicionalmente desempenhada pelos grupos familiares Kaxinawa; reorganização administrativa da Terra Indígena Kaxinawa do rio Jordão; reorganização política, econômica e social vivenciada pelos Kaxinawa; recente expansão territorial protagonizada pelos grupos familiares Kaxinawa, que resultou na incorporação de mais seringais à Terra Indígena regularizada pelo Estado brasileiro e fazendo parte da reorganização estabelecida pela Associação Kaxinawa.

1 – A TRAJETORIA DA PESQUISA

A pesquisa tem por base os dados etnográficos fornecidos pelos trabalhos dos antropólogos Terri Valle de Aquino e Marcelo Piedrafita, porem não analisados sob a luz teórica da antropologia política, bem como alguns relatórios da CPI e documentos oficiais da FUNAI, alem das observações e descrições que fiz durante os 45 dias que passei nas aldeias do rio Tarauacá e do rio Jordão, acompanhando a auto-dermarção ali realizada, assim como um ritual que fui submetida como prova de confiança.
A realização deste trabalho foi longo, pois complexa é sua historia... Mas vou contá-la de forma objetiva desde o principio... Tudo começou quando graduada em Letras Vernáculo, fui parar numa aldeia... Cheguei, parei, olhei e pensei: como conquistar a confiança dessa gente e ouvir deles o quê fazer de útil!... Muitos sustos, um grande medo, uma frustração. E a duvida: o que realmente eu posso fazer aqui sem causar grandes interferências? Bem, estávamos lá, eu e uma equipe do GEPON (Grupo de Estudo dos Povos Nativo), este grupo foi formado por alguns professores de Historias, dois recém graduados em Economia e uma graduada em Geografia, tínhamos a intenção de discutir as questões indígenas na UFAC, além de darmos nossa contribuição às comunidades indígenas.
Ainda na aldeia Kamikuã, ouvimos a solicitação do liderança para fazer uma reunião expondo nossas intenções para com a comunidade... Chegou minha vez de expor minhas intenções: que sustos!... um grande medo, uma grande angustia, logo me fez pensar na Lingüística Aplicada ao ensino Bilíngüe ( lembrei do Curso de Formação de professores Indígena da CPI). Era só uma questão de pratica, pensava eu. Vou contribuir com a educação escolar! E todos aprovaram... De volta a UFAC, formulei meu primeiro projeto e apresentei ao GEPON: “Escola Kaxinawa: uma assessoria lingüística em educação indígena bilíngue”. Frente a esta realidade visei colaborar na melhoria do quadro educacional através de um trabalho que contribua para um processo de desenvolvimento educacional diferenciada. Para a segurança e a qualidade do processo educacional, teríamos a cooperação da CPI/AC que ministra cursos de Formação de Professores Índios, no período de janeiro a março, do qual participou o professor Apurinã e a equipe do GEPON. Nossa intenção era estabelecer uma parceria para garantir a sustentabilidade do nosso trabalho, porque acreditávamos na prática em coletivo e interdisciplinar como possibilidade na construção de um caminho seguro. Assim, tendo em vista a dinâmica do trabalho, nos alicerçarmos na Proposta Curricular Bilíngüe Intercultural para as Escolas Indígenas do Acre formulada pela CPI/AC. O objetivo era reestruturar a educação escolar, visando desencadear um processo de restauração cultural da comunidade Apurinã; contribuindo, portanto, na revitalização da língua materna, na recuperação da História, na valorização e fortalecimento da cultura e identidade do grupo Apurinã.
Fui pondo em pratica certas idéias, intuitivamente. Atras de mim, iam ficando idéias, perguntas que me deixavam em desespero, quando um ano depois, matriculei-me em um Curso de Especialização em Ciências Sociais, promovido pelo Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da UFAC: primeira disciplina, Antropologia com a professora Dr.ª Carmen Junqueira. Tranqüilizei-me, fui lendo teorias que me levaram a construção de uma fundamentação teórica jamais esquecida academicamente. Em seguida recebi um convite para integrar-me a equipe de Assessoria a Educação Indígena da Comissão Pró-Índio,, realizei meus sonhos pus em pratica as teorias antropológicas diretamente nas aldeias assistidas pela CPI, deixei a escola Apurinã a cargo de uma Antropóloga do Departamento de Ciências Sociais. Outra Especialização, agora em Antropologia e Arqueologia pelo mesmo Departamento.
Na equipe da CPI convivi com os primeiros Kaxinawa, professores: Noberto Sales, Edson Medeiros e Isaias Sales na língua Hastxã Kuin: Tené, Ixã e Ibã e logo firmamos um pacto de amizade, e ai começou o inicio deste estudo. Um ano depois conheci a primeira aldeia Kaxinawa no rio Breu, afluente do Juruá, lá chegando no mesmo dia fui submetida ao ritual de dominação e assim conquistei minha primeira confiança com os Kaxinawa... Vinculada à CPI, com o apoio dos professores Kaxinawa iniciei um trabalho de dialogo e registro do percurso escolar nas aldeias Kaxinawa com esses professores. Ainda que tenha tido contato com outras aldeias, permaneci-me fiel ao conhecimento e descobrimento da história Kaxinawa e consequentemente o trabalho desenvolvido por Terri Aquino e Nietta Linderberg.
Ingressei no Programa de Mestrado Interinstitucional UFAC/PUC, já disposta a trabalhar com o processo de conquista e organizacao territorial Kaxinawa. Decidi, então, recortar a experiência da CPI, por considerar que ela se revela como estratégia não apenas pelo entrelaçamento dos projetos desenvolvidos pelos antropólogos anteriormente citados, mas também por seus efeitos perceptíveis no espaço e na memória Kaxinawa. O trabalho de pesquisa e analise documental demonstra uma etapa necessária para atender as solicitações dos professores em registrar as estratégias políticas e formas de resistência Kaxinawa do Jordão.
A pesquisa tem como principal fonte os documentos e relatórios da Comissão Pró-Índio presentes em seus arquivos. A maior parte das informações etnográficas que aqui utilizarei são fruto da convivência com os professores Kaxinawa e as visitas nas aldeias das Terras Indígenas do rio Breu, da Praia do Carapanã no rio Tarauacá e por ;ultimo no rio Jordão. Também analisarei o livro do Terri e Marcelo, Os Kaxinawa do rio Jordão, da Nietta Linderberg EDUCACAO INDIGENA: uma experiência de autoria(dissertação de mestrado) e Ejse Lagrou UMA ETNOGRAFIA DA CULTURA KAXIANAW: Por entre as Cobras e os Incas( dissertação de mestrado); CAMINHOS, DUPLOS E CORPOS: Uma abordagem da identidade e alteridade Kaxinawa (tese de doutorado). Por ultimo ,os documentos da FUNAI, noticias de jornais e publicações acerca dos Kaxinawa do rio Purus e Juruá. Kaxinawa.
Assim, tentarei compreender a estrutura sócio-política e cultural Kaxinawa que apresenta-se diante das relações com a sociedade envolvente, num momento de desenvolvimento social desse povo em detrimento das ações também planejadas e desenvolvidas por instituições governamental e não-governamental. Com a necessidade de manter sua autodeterminação, as comunidades indígenas do Jordão cria a associação para mediar seus próprios interesses. É neste sentido que surge a Associação Kaxinawa do Rio Jordão (ASKARJ) como manifestação da organização política que reflete a forma de uma sistematização política e econômica própria à problemática Kaxinawa e voltada exclusivamente para política social das aldeia.
or outro lado, procura-se ressaltar também a importância dos conhecimentos tradicionais deste povo e suas ações políticas de forma que justifique essa pesquisa também como preocupação em acumular elementos que permitam, aos trabalhos desenvolvidos pelas organizações indígenas, o recolhimento de subsídios para se pensar as reais características e necessidades da política indígena Kaxinawa, e assim, manter a forma própria de organização política , aprofundando acerca da importância do saber cultural Kaxinawa.

2 – A TEORIA: UMA ABORDAGEM PRAGMÁTICA

Do ponto de vista teórico, procurou-se adotar uma perspectiva que incorporasse o discurso nativo à produção do conhecimento, partindo do pressuposto de que o processo de reorganização Kaxinawa reflete sobre “uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência” (Rocha: 1994:07).
Ainda, valorizando os Kaxinawa tradicionalmente no desempenho da cultura, da ideologia, no pensamento político e no trabalho com os conteúdos que abordam os fatos sociais... buscando explorar as conexões entre processos culturais e políticos, e estudos voltado ao pensamento político e econômico com base na relação de parentesco, conforme Maurice Godelier “que lembrou a importância da análise rigorosa das bases econômicas dessas sociedades, visto que a estrutura social (...) depende estreitamente das relações econômicas especificas que nascem do controle dos recursos e que assim tornam possível uma compreensão mais profunda das estruturas sociais que existem no seio das comunidades estudadas pela antropologia (...), pois é inquestionável que numerosas sociedades pré-capitalistas as relações de parentesco e as relações políticos-religiosas parecem dominar seu funcionamento e controlar a reprodução de seu modo de produção, seja o parentesco entre os Nuer, ou os aspectos políticos-religiosos entre astecas e incas. : “Tínhamos a concepção de que a chave da imensa e complexa unidade da sociedade encontrava-se em sua estrutura, e que essa estrutura se fundava nas relações de parentesco, casamento e nas relações políticas. Nela se escondem simetrias sutis, rede complexas a serem descobertas, ainda que as atividades de subsistência fossem vistas como realidades simples, indiferenciadas, e que se repetiam da mesma e cansativa maneira, qualquer que fosse o lugar onde fossem encontradas.”(1978: 46). Além de apresentar aspectos sociais do Estado Moderno e de Políticas Públicas a partir das reflexões sobre o Estado acreano abordando o seu processo de formação e o resultado de sua atuação na Floresta com a análise das políticas governamentais que terá como foco suas características e resultados como processo político-institucionais que condicionam as comunidades indígenas, dessa forma Pieerre Clastres, em As sociedades contra o Estado, diz que as sociedades indígenas são sociedades arcaicas e figuram no modelo clássico sociológico como sociedades negativas: sem história, sem escrita. Do ponto de vista evolucionista, situam-se como etapas incompletas, exatamente em função da falta ou ausência do Estado. Para compreender essas situações, é necessário analisar os conceitos de Estado e etnia e os contextos histórico e culturais nos quais foram engendrados.
A maioria das teorias evolucionistas foi formulada quando as sociedades arcaicas, isto é, sem Estado, eram muito mal conhecida quando suas estruturas, parcialmente estudadas – e só foram estudas em função de modelos sociológicos que tinham por base a sociedade ocidental –, apareciam como etapas de um pressuposto desenvolvimento histórico. Parece bastante evidente que o Estado não é universal, porque existem sociedades sem Estado. Mas as sociedades sem estado, são analisadas sempre a luz de um modelo evolucionista, aparecendo como um atraso histórico, ou um elo perdido da evolução colonialista. Mediando etapas estariam as sociedades de grande porte demográfico e organização de poder mais ou menos centralizado, caracterizadas como formação de Estado Tradicional. A profundidade das diferenças se apresentam quando Georges Balandier questiona o valor conceitual dado ao Estado apresentado pelo avanço da Antropologia e outras formas de política que faz um inventário da definição de Estado apresentando a gênese de um Estado Primitivo.
Apresentando como forma de unidade constitutiva as alianças formadas entre a relação de parentesco como estrutura SOCIAL das sociedades sem estado. Grupo maiores se unem a grupos maiores através de vários níveis de incorporação (lembrar dos interesses econômico na mulher). Essas combinações podem variar amplamente, mas a idéia básica é de uma estrutura segmentária: grupo familiar, linhagem e clã. Esses grupos são fundamentados na descendência e permanecem coesos através da formação de redes de alianças que são oriundas de trocas matrimoniais. As linhagens unem as pessoas de um mesmo tronco genealógico e forma uma unidade diferenciada. Existem grupos de linhagens de tamanho considerável que se associam a territórios definidos. Se esses grupos reconhecem uma mesma descendência a partir de um ancestral – normalmente mítico são chamados clãs. Essas formas são amplamente questionadas, apresentam-se como modelos, ou idéias que necessitam de conteúdo etnográfico como referencial empírico. A dinâmica das linhagens varia muito nas sociedades indígenas. Daí as variações dos modelos propostos na perspectiva evolucionistas enfatizou tanto os mecanismos de parentesco quanto o caráter segmentário na constituição de Estado primitivo (Balandier G. 1969: 125)
Essas idéias demonstram que a organização de Parentesco pode transformar-se numa organização política de base territorial diferenciada, mas não se reduz a um modelo único. Na África, as situações são muito diversificada, Balandier cita como exemplo o reino de Buganda, em Uganda, onde o poder do rei era exercido sobre os homens, mas não sobre a Terra: “De um lado , os patriaclãs e as patrilinhagens estão ligados a terras onde residem as autoridades clãnicas (os baraka) e onde se encontram os túmulos dos antepassados reverenciados. A herança e a continuidade assegurada no quadro da descendência regem tais relação, mas os clãs não formam unidade territoriais; a vinculação clãnica não determina necessariamente a resistência e as continuidade locais são heterogêneas.” (idem, 127). Outro critério é o da centralização – trata-se da consideração do Estado como logicamente centralizador. Balandier argumenta sobre os instrumentos que dispõe o poder centralizado para se manter e ser eficaz, depende do desenvolvimento técnico e dos meios de comunicação material e intelectual. Nesse sentido, inúmeros impérios e reinos africanos dissolveram-se em espaços muito vastos apesar de não dispor desse instrumentos. A centralização exige, pois, condições que o Estado tradicional não tem. Ao critério centralizado opõe-se o critério segmentário. A tendência unitária da organização estatal contraria as estruturas de linhagem clãnica. Haveria na verdade, um antagonismo estrutural entre Estado e a organização de linhagens.
O segmentário fala de uma estrutura que pode ser através de poderes homologo que se repetem em diversos níveis: as unidades constitutivas, de aparelho administrativo; suas relações respectivas continuam semelhantes às que ligam entre si os segmentos no seio de uma sociedade clãnica: enfim, o sistema global surge amiúde mais centralizado no plano da ação política(??)
Nessas estruturas a soberania territorial é reconhecida, mas limitada: sua autoridade diminui ao se aplicar às regiões afastadas do centro. No Estado tradicional, a racionalidade de Max Weber, postula que o Estado resulta de lenta racionalização das estruturas políticas existente: uma administração competente regulamenta um conjunto da organização da vida coletiva. O estado detêm o poder total e a classe dirigente confunde-se com o aparelho que ela põe em movimento. Já com Balandier esse tipo de autoridade permanece preso a limites que lhe contrariam a realização. As resistências experimentadas se explicam, dentre outros fatores, pela insuficiências técnicas de organizar o espaço e assegurar as comunicações, inerentes a uma burocracia rudimentar. Ocorre pelas personalizações das relações sociais e políticas que distingui o Estado Primitivo do Estado Burocrático, tendo como conseqüência a eliminação ou a redução da cisão entre poder estatal e a sociedade sujeita a uma jurisdição(?) a visão clássica da antropologia acentuam as características próprias das sociedades tradicionais que destacam as instabilidades internas. Não existindo nela conflitos entre interesses econômicos de governantes e governados e como a defrontação de classes ainda não se verifica, o sistema de poder e autoridade não é fundamentalmente contestada. Nesse sentido o Estado tradicional traz em si mesmo um processo de rebelião constante, mas não de revolução, não são reimplicado as suas estruturas, mas apenas os detentores do poder e de autoridades(idem,138)
Existem dois tipos de sistemas políticos para sociedades tradicionais: sociedades que tem autoridade centralizada, aparelhos administrativos e instituição judiciais: um governo, onde as distinções de riquezas, privilegio e status correspondem à distribuição de poder e autoridade. A outra forma são de sociedades, onde falta autoridade centralizada, aparelho administrativo e instituição constituídas, não tem governo, não existem divisões de categorias, status e riquezas. Considerando, assim, que um Estado deve definir-se pela presença de instituições governamentais, que considera a primeira idéia de um Estado primitivo e a Segunda de Sociedades sem Estado.
Com Balandier as idéias são definidas assim: “O Estado tradicional não pode ser definido por um tipo sociológico que o oponha radicalmente ao Estado Moderno; é uma instituição diferenciada e em permanente ação política e administrativa; requer um aparelho de governo capaz de garantir a segurança dentro das fronteiras e sobre elas; no território se organiza o espaço político de tal modo que essa organização corresponde à hierarquia do poder e da autoridade, assegurando a execução das decisões fundamentais no conjunto da região submetida às suas jurisdição (o poder de aplicar as leis e punir) (138,140) Sob olhar de Balandier O Estado Tradicional possui traços distintivos ao seu ver, é o ‘ amplo lugar ao empirismo, criando-se a partir da unidade política preexistente sobre as quais são estabelecidos as suas próprias estruturas por não conseguir impor a supremacia do centro político conservando um caráter difuso que o diferencia de Estado Moderno. (140) que continua ameaçado de segmentaridade. A proposta de Balandier até então é apresentar algumas teorias sobre a origem do Estado Moderno que se opõe ao Estado tradicional estagio primeiro das sociedades sem estado , fica para ele evidente que as teorias procuram no exterior as coisas que permitem instauração das relações de dominação e de conquista, que não se apresenta no interior das sociedades pré estatais condições que bastem à formação do Estado que para o destaque é o processo interno da transformação. Assim como Engels apresenta em A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado: “O Estado nasce da sociedade; aparece quando esta última se embaraça numa insolúvel contradição consigo mesma e tem o encargo de amortecer o conflito mantendo-o nos limites da ordem ; define-se como poder oriundo da sociedade, mas que quer colocar-se acima dela e dela se desvencilha cada vez mais(14¨6)
Contrapondo ao certo Evolucionismo de Engels, Balandier diz que na busca dos diferentes processos pelos quais se estabelece a desigualdade, pelas quais aparecem as contradições no seio da sociedade(146) aqui ele critica as teorias que analisam gênese do Estado moderno como transformações das estruturas características das formações estatais tradicionais, onde o exercício teórico infrutíferos postulam a não busca na origem do Estado Moderno em exemplos tradicionais. Isso nos remete (ver Maquiavel) aos elementos do Estado Moderno enquanto Estado Soberano como forma política dominante na Europa Ocidental(ver mais argumento) Onde a igreja enquanto instituição de domínio político contradiz o Estado em nome da liberdade da religião e as relações de interesses da comunidade Cristã. Significando assim que aquando se modificam as tradições criam-se ou manifestam-se oposições rompendo-se os laços de dependências. Com Balandier, “foi no plano religioso que esse processo operou com maior freqüência: a representação tradicional do sagrado mascarou as expressões religiosas VER MELHOR 161). Assim a ‘primeira dessas expressões e a mais – conforme ao uso corrente do termo – correspondente a um tradicionalismo fundamental , o que tenta assegurar a salva guarda dos valores das organizações sociais e culturais mais garantidos pelo passado” (160). Para ele o tradicionalismo representa a continuidade de um passado, enquanto a modernidade é a ruptura de normas imemoriais, que o mito ou a ideologia dominante afirmam e justificam na tradição transmitida por todo “ um conjunto de processo” (160)
Tentado compreender Balandier busquei uma análise de Louis Dumont sobre o estabelecimento do Estado na Europa que considera os Estados individuais formados por homens individuais que se reduziu a comunidade Cristã, foi o que vimos com Dumont: “Quando os teóricos do direito natural colocam $$$$$na origem do Estado dois contratos sucessivos,, um contrato de associação e um contrato de sujeição, eles traem a incapacidade do espirito moderno para conceber sinteticamente um modelo hierárquico do grupo , a necessidade em que ele se encontra de analisá-lo em dois elementos: um elemento de associação igualitária e um elemento pelo qual essa associação se subordina a uma pessoa a um entidade. Por outras palavras, a partir do momento em que não mais o grupo mas o indivíduo é concebido como o ser real, a hierarquia desaparece e com ela, a atribuição imediata da autoridade a um agente do governo. Nada mais nos senão uma coleção de indivíduos, e a construção de um poder acima deles só pode ser justificado suprindo-se o consentimento comum dos membros da associação.” (DUMONT, 92)
A ideologia Moderna, para Dumont, é vista através da sociedade indiana, onde propões a distribuição de dois grandes tipos de sociedade: as “tradicionais e a ocidental moderna” . nas sociedades tradicionais, como a Índia, o principio básico de organização social é a hierarquia, estruturada na complementaridade. A palavra melhor atribuída a essas sociedades é a universalistas, onde o ser humano é visto como socialmente determinado, onde cada um é o meio, e o fim é a sociedade. Em contra posição, na sociedade moderna, o indivíduo é o ser normativo de todas as instituições, e os princípios básicos de organização social são a igualdade e a liberdade. A palavra que melhor atribui a sociedade ocidental moderna é societas, que evoca um contrato pelo qual os indivíduos se associam numa sociedade, cujo fim é a vida de cada um. Com Dumont,. ‘Societas, termo semelhante,. Associação, consociatio – tem aqui o sentido limitado de associação , e evoca um contrato pelo qual os indivíduos componentes se associação numa sociedade que considera a sociedade como consistindo em indivíduo – indivíduo que estão em primeiro lugar em relação aos grupos ou relações que eles constituem ou produzem entre si mais ou menos voluntariamente (...) a preponderância crescente [e da representação de societas contra a de unversalista”. (Dumont, 1993. 88)
Não seria por outra razão que três grandes filósofos se dedicam à análise do Estado e fazem do contrato a questão central: Hobbes, Locke e Rousseau, onde Dumont viu a obscuridade entre individualismo e autoridade ao conciliar a igualdade e as diferenças de poder no Estado. De forma que as sociedades tradicionais apresentam-se como holística baseadas na totalidade e no conjunto; enquanto a sociedade ocidental moderna apresenta-se como individualista. Para Dumont o indivíduo é decorrência ou seqüência da sociedade ocidental moderna, enquanto as sociedades tradicionais produz a pessoa. O indivíduo na sociedade ocidental moderna caracteriza-se por perceber a si e aos demais como seres singulares, cujo comportamento é orientado pela vontade própria: seu universo é constituído por leis universalizastes que têm por objetivo a igualdade, suas palavras de ordem são associação e o contrato. Já a pessoa da sociedade tradicional participa compulsivamente da vida social, e seu contrato com a totalidade é mediado pela família, linhagem, o clã e outras estruturas. É o fortalecimento do individualismo que distingue a cultura moderna de todas as outras. No holísmo tradicional, a humanidade confunde-se com a sociedade do NÓS, confirmando que o universo e a natureza vivem e constituem-se da unidade que forma todos como órgão vivos que são mais do que a simples soma das partes constituinte.
Pelo que Dumont nos diz a centralização do Estado é um dos aspecto ideológico, que opõe o individualismo do estado moderno ao holísmo da sociedade tradicional, tentar compreender esses aspectos voltados às Sociedades Indígenas contemporânea é necessário um maior entrelaçamento com teoria antropológica voltada para dinâmica social. Com especial relevância ao pensamento do multiculturalismo que oferece uma abordagem em questões da religião, da política e da diversidade étnica, que na verdade corresponde ao sentido das influencias externas e diretamente no que diz respeito ao trabalho da prática antropológica, visando uma melhor compreensão da realidade local, além de compreender conceitos como: nação, etnia e identidade.
Pois no aspecto global o que se coloca sob o rótulo de Contemporâneo na Antropologia são idéias, de pessoas unidas por um mesmo contexto histórico e antropológico que lembram da ciência como categorias que não se fixam em um único sentido e que se desenvolvem e se modificam no tempo e no espaço. Aqui lembramos de antropólogos de tradição inglesa como Leach ou Gluckman e franceses como Balandier ou Bastide, que se viram frente a teoria que não eram adequadas ao seu estudo e às questões que lhes vinham instigando, daí iniciaram um novo modo de pensar o seu "objeto". No caso se pensar o Kaxinawa como atores nesse processo da dinâmica social, não como se fazia anteriormente e até mesmo contemporaneamente, com teorias que sempre tratou o seu "objeto", ou seja, principalmente as sociedades "tradicionais" ou "indígenas", como um sistema coerente e harmônico ou às vezes como sociedades fadada ao desaparecimento em seus aspectos culturais e étnicos. que excluem qual quer possibilidade das sociedades indígenas atingirem sua autonomia e identidade étnica. Bem, voltemos a teoria: já com os funcionalistas e com os estruturalistas as sociedades eram tidas como um "organismo", onde cada parte tem sua função ou significado dentro de um todo em harmonia. Só fechavam os olhos à incompatibilidade e conflitos. Principalmente o estruturalismo não vê desconexão entre representações e praticas, sendo os últimos reflexos dos primeiros. Malinowski já havia alertado para observarmos aspecto separadamente: normas, valores e práticas, mas sua teoria pouco nos elucidou para a aplicação deste principio, apenas dele ter sido de fundamental importância para pesquisa de campo.
Malinowski havia sugerido a antropólogos que vêem na dinâmica social o personagem importante da antropologia na segunda metade do século XX, que dará uma visão mais concreta da sociedade e da cultura, pois como o próprio Malinowski diz, eles também são antropólogos de campo sempre em contato com a complexidade da vida social.
A principal característica, portanto, desta linha teórica é ver as organizações sociais como sistemas "desarmônicos", ou seja, que contenha também conflitos, disputas, valores e desejos diferentes, e que na verdade estão na passagem da sociedade de segmentaridade onde o poder é descentralizado para um poder centralizado. Mas não totalmente "desarmônico" no sentido em que também há uma luta muito grande para que se mantenha a coesão social. São duas as principais forças que comandam a vida social: internas e externas. As internas são as que se desenvolvem dentro dos limites (aproximativos) do grupo e as externas se desenvolvem a partir do contato com outros grupos. Obviamente que é muito difícil saber onde um começa e onde a outra acaba, até mesmo impossível, visto que elas interagem entre si. As forças internas, como falam, pode ser de coesão ou de mudança. A estabilidade não seria algo "natural", mas fruto de muitos esforços como rituais diversos de integração social e ações de importância para a mudança do grupo. A mudança viria, principalmente, do fato das sociedades não serem sistemas de integração perfeita. Há realmente reflexo de um nível social em outro, mas isso não impede que cada um tenha acontecimentos, histórias e ritmos próprios, logo, a integração entre eles gera mudança, gera conflitos. Por exemplo, a economia pode influenciar na religião, sem no entanto que a compatibilidade entre ela seja total.
Outro fato que não pode ser desprezado de forma alguma é o da participação dos atos sociais, Balandier diz que este pode ser de quatro tipos: acomodação, revolta, estratégia ou manipulação. A primeira seria a atitude daquele que se submete integralmente à sociedade, o segundo o seu oposto e os dois últimos são os que mais determinam a vida social. Cada pessoa tem seus valores, idéias, desejos próprios, e isso em todo lugar, não só na sociedade "ocidental". Isto ocorre porque cada um pertence a uma classe, idade, família, linhagem diferente, têm histórias da vida diferente, portanto, como seria igual ? A ação de cada sociedade e indivíduos seria segundo estas características e também segundo o seu poder. Este poder é determinado pelo grau de informação, pela posição social, pelo limite em que pode ser usado , etc.
A estratégia de cada sociedade e indivíduos difere muito das normas gerais, é por isso que não podem conhecer uma sociedade apenas pelo seu conjunto de regras ou crenças gerais. A teoria antropológica valoriza o conhecimento de prática também. Antropólogos como Gluckman e Balandier, preferem tratar não só de sociedade como um isolado, mas de situação social, de contato, situação colonial, ou seja, ver uma sociedade dentro de um âmbito maior em que esteja inserida... É muito importante ressaltar que a dificuldade maior que as outras teorias traria ao estudo das sociedades tradicionais da atualidade, era que estas tratava à sociedade como isolados. Se este tipo de divisão era inadequada quando do inicio do ridículo, imagine agora que o capitalismo transforma e passa largar o mundo em uma única grande sociedade mundial!
Dito isto, podemos compreender as forças "externas". Primeiro de tudo, com o processo de colonização, neo - colonialismo, imperialismo, expansão do modo capitalista de produção e consumo, não podem falar de contatos simétricos, mas principalmente de dominação, de exploração e de transformação profunda e drásticas das sociedades tradicionais.
A proposta da Antropologia Contemporâneo é estudar a vida social dentro deste processo complexo de interação e dominação. Inclusive este processo acelerado de mudança e conflitos nos faz ver fenômenos que seriam mais difíceis de se ver nesta situação "capitalista". Com determinações sociais, não são abstrações retiradas de observação, são fenômenos concretos. É como se fosse em laboratório espontâneo onde os fenômenos podem ser observados por indução feita não pelo pesquisador, mas pela própria situação social.
São processos cheios de idas e vindas, ações, reações, contra-reações e contradições que dependem de vários fatores, os quais determinam as diferenças de local para local, de cultura para cultura. Aspectos como a compatibilidade entre as culturas envolvidas, o tempo e a intensidade do contato, as possibilidades de influências dos indivíduos atingidos, a importância geográfica do Local , seja por riquezas naturais, pelas suas fronteiras ou outro fator que vão dar as especificidade locais.
A resposta que se pode dar é que neste caso, as generalizações partem da própria prática, dos acontecimentos concretos. Não se observa mais a sociedade indo em busca de generalidade comum a todos, mas a própria expansão do mundo que gera a transformação de cada localidade em sua cultura, economia e organização social, tornando-se possível pensar no absurdo das generalizações. Como exemplo deste tipo de análise pode-se falar do Leach , de Gluckman na Nova Zelândia moderna onde ele analisa o ritual de indignação de uma parte. Para ele esta situação social seria muito significativa em termos de estrutura daquela sociedade local, que incluía os Zulos , o chefe, a engenheira da ponte , autoridades brancas da África do Sul. Através da análise desta situação ele pode nos revelar mais sobre como todos aqueles se relacionam, como estava dada a relação de poder, quais os significados das ações e discursos enfim, como era aquela situação social onde conviviam pessoas de identidades variadas numa mesma estrutura. Se ele tivesse limitado sua análise apenas aos “ nativos “ muitas coisas teriam lhe escapado..
Para finalizar, a teoria antropológica tem em vista a sociedade como um processo, que inclui mudança e situação instável, sempre permeada por conflitos e desarmonia, visto que as pessoas têm valores e praticas diferentes. No caso do Acre se tem o peso que a noção de sociedade durkheimiana nos impõe, abrindo lugar a inflexibilidade e a não-participação dos atores sociais principalmente nas relações inter – sociais. Assim os mecanismos que geram o desequilíbrio dessa região afetando as sociedade indígenas tem suas marcas no processo de colonização, em nome do desenvolvimento, os homens que fazem a História conduziu as sociedades indígenas dessa regiao a esse processo de trasformação, que o poder civilizatorio apropriou-se por uma fazer politico inerente aos seus interesses. Entender esses desequilíbrio social e cultural causado por um processo mal-planejado politicamente, significa buscar um passado acreano recente, marcado pelas suas lutas e conquistas. Para que a Organização Kaxinawa no Acre conquiste seu objetivo imediato e histórico é necessário elevar sempre mais nossos conhecimentos sobre Nossa História (consciência) e a História do Estranho(branco).
No Acre essa História começa no principio do Sex. XIX quando os Estranhos(brancos) penetram em Terras acreanas dando inicio à colonização, e na atual exploração, através da coleta do chamado “ouro branco”, além da pesca e caca também a extração de madeira. Descendentes de europeus: os nordestinos que primeiro participaram da exploração do Acre se apropriaram da mão-de-obra Apurinã (além dos fieis seringueiros) e aplicaram na prática o modo-de-trabalho das sociedades européia. Os Kaxinawa sendo os primeiros no contato de colonização acreana e sábios conhecedores da geografia regional, pois os seus conhecimentos passados aos novos colonizadores facilitavam a exploração de nossas riquezas naturais, além de terem maior domínio sobre os outros povos que aqui viviam.
Os Kaxinawa, no aspecto geral das sociedades indígenas, já possuía sua própria forma de organização-do-trabalho garantindo a necessidade imediata e o sustento da comunidade: não trabalhavam para acumular riquezas(produtos); O trabalho Kaxinawa era organizado entre homens e mulheres e crianças, consistindo na prática da caça, pesca, coleta de frutos, agricultura, serviços-de-casa e fabricação (ou produção) de utensílios de barro e cesta. O processo de aldeamento seguia os mesmo critérios da colonização brasileira, onde os escravos agora eram indígenas que impunha o modo de vida, de trabalho e os costumes europeu, pois no Brasil o trabalho escravo ainda era norma e consequentemente os novo dono de terra no Acre utilizaram tais normas. Os primeiros grande extratores de borracha e indicadores ou desbravadores da floresta foram os índios. Na conquista pelos direitos, não basta conhecer bem as leis constitucionais, a situação de exploração em cada Terra, as perdas de costumes, as imposições do estranho, poder do Estado para aumentar o lucro, os preconceitos, as discriminação: é preciso conhecer tudo isso e muito mais.
Mas o necessário é apreender os mecanismo de funcionamento da sociedade em que vivemos e da que dependemos, a história das sociedades em todas as épocas, as ricas experiências de trabalho escravo, conquista e perdas acumuladas ao logo desses anos. Quanto mais conhecimento tivermos sobre tudo isso, melhor saberemos orientar nossa caminhada na busca de valores perdidos e pelo fim de nosso domínio. Meu trabalho de pesquisa nas aldeias procura apresentar a historia da humanidade, desde os tempos imemoriais até as atuais conquistas de Direitos: a compreensão desse trabalho iluminará nossas idéias sobre as questões indígenas sendo mais uma fase da História de exploração iniciada no passado da Historia Humana da exploração no período do Escravismo, se aprimorando no Feudalismo, se firmando no surgimento do Capitalismo com as expansões marítimas e se aprimorando mais ainda na linguagem da Globalização.
As transformações que todas as sociedade vem passando, implica na construção de um novo sistema de organização, além das mudanças provocadas pelas luta dos explorados na conquista de melhores condições de vida. Os primeiros grupos humanos de que a Ciência Sociais se dispões a estudar viviam em forma de bando, grupos de homens e mulheres que viviam da caça e da coleta de alimentos. Estavam sempre mudando de lugar em busca de alimento, pois viviam do que encontravam ao seu redor, doado pela Natureza. Toda conquista era divido entre todos... não havia desigualdade. No entanto o ser humano era dominado pelas forças da natureza, pelas chuvas, enchentes, feras selvagens. O homem nessa época vivia numa total dependência da natureza, como ainda vivem as sociedades indígenas no Acre.
Tudo isso para dizer que nos falta uma Antropologia Acreana, aqui nesse deserto verde envolta da floresta acreana também nos falta a dinâmica social, sem considerar no momento, as dificuldades de compreensão, principalmente das ciências sociais produzidas no Brasil, que não tem a função de interferência na realidade, mas uma interferência que amenize os problemas destruidores da sociedade, portanto enquanto no Brasil os cientistas sociais não encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção esta ciência só servirá como Literatura de descobertas pessoais, ainda corremos o risco de sofrer conseqüências graves, pois essa Literatura quando proferida por profissionais despreparados causam danos não só morais assim como sociais, e a liberdade individual quando atingida fragmenta-se em estilhaços de incertezas e dúvidas que bloqueiam a formação sócio-polítco da nossa sociedade.
Ainda como sugestão para um Mundo melhor finalizemos com A Cabeça Bem-Feita de Edigar Morin, refletindo sobre a reforma do pensamento como possibilidade de reforma social, partindo da reforma na educação, onde para ele são: “Esses princípios que levam o pensamento para alem de um conhecimento fragmentado que, por tornar invisíveis as interações entre um todo e suas partes, anula o complexo e oculta os problemas e ssenciais, levam, igualmente, para alem de um conhecimento que, por ver apenas globalidade, perde o contato com o particular, o singular e o concreto. Eles permitem remediar a funesta desunião entre o pensamento cientifico – que desassocia os conhecimentos e não reflete sobre o destino Humano e o pensamento humanista – que ignora as conquistas das ciências, enquanto alimenta suas interrogações sobre o mundo e sobre a vida.
Daí a necessidade de uma reforma de pensamento referente a nossa aptidão para organizar o conhecimento, que permita a ligação entre as duas culturas divorciadas. A partir daí, ressurgiriam as grande finalidades do ensino, que deveriam ser inseparáveis: Promover uma cabeça bem-feita, em lugar de bem cheia; ensinar a condição humana, começar a viver, ensinar a enfrentar a incerteza a se tornar cidadão”.

 - PROCEDIMENTOS METODOLOGICO

O procedimento metodológico tem por base uma analise etnológica partindo dos dados etnográficos KAXIAWA DO RIO JORDAO: historia, economia de Terri Vale de Aquin e Marcelo Piedrafita, além da proposta de Nietta Linderberg, EDUCACAO INDIGENA: uma experiência de autoria(dissertação de mestrado) e Ejse Lagrou UMA ETNOGRAFIA DA CULTURA KAXIANAW: Por entre as Cobras e os Incas( dissertação de mestrado); CAMINHOS, DUPLOS E CORPOS: Uma abordagem da identidade e alteridade Kaxinawa (tese de doutorado). Assim, como legitimação da fala Kaxinawa enquanto atores no processo de reorganização social desse povo.
Imprimindo uma dinâmica no trabalho que consiste em buscar os papeis e as máscaras sociais que focalizam a subordinação da subjetividade política que norteia a vida cotidiana Kaxinawa. Portanto, diante das mudanças causadas pela inserção indígena na extração do látex no processo de colonização do Acre,, este trabalho tem como metodologia a analise do processo de organização Kaxinawa do Jordão/AC, a partir da demarcação de terras indígenas nesse estado. Contemplado também o momento de reorganização da sociedade Kaxinawa com a criação da associação ASKARJ e a atual troca de coordenação, bem como uma avaliação dos Projetos comunitários ali desenvolvido. Além de possibilitar uma reflexão a cerca das dificuldades que vem gerando mudanças na estrutura sócio- política e econômica do grupo.
Assim, tenta-se desviar de estudos anteriores das relações entre os Kaxinawa e os diversos segmentos da sociedade nacional, pensamos nesse estudo – como possibilidade de análise da situação de relação interetnico, tendo como ponto de partida a as diferentes situações geradas pela frente de expansão da borracha, além de contemplarmos as observações através das práticas e exercício das atividades exercidas ao longo desses vinte anos de conquista territorial.
Portanto, diante da pouca existência de estudo voltado para uma visão da organização política e econômica Kaxinawa -, ou melhor, uma revisão das teorias e práticas indigenistas, que norteie as organizações indígenas – elaboramos esta proposta que tenta registrar explicitamente caminhos que apontem um lugar seguro às questões políticas Kaxinawa e amenizem as conseqüência causada pela dependência econômica e outras como: a) A administração dos Territórios; b) a discriminação e preconceito atual pela inserção de membros na política partidária; c) a imposição da política econômica da cultura ocidental (brasileira); e d) a dominação política que vem desestruturando a organização Kaxinawa, aqui estamos levando em consideração os diversos conflitos existente no Município do Jordão, causada por disputa partidária e invasão territorial.
Para tanto, algumas hipóteses precisaram ser levantadas para indicar que caminhos os estudos percorrerão: a) se há pouco interesse da política acreana em solucionar assuntos indígenas por não valorizar os aspectos culturais e políticos propriamente indígena; b) se os povos indígenas, na maioria das vezes, são motivos de discussões quando estão em evidência pela sociedade ou relacionados a problemas de terra, sejam eles os invasores e não os invadidos; c) em projetos e leis sobre esses e outros temas os indígenas são ouvidos adequadamente, se as questões são vista sempre pela ótica do Outro, nada a ver, bem como a forma do tratamento dado as questões pelas fontes oficiais (Funai, Ministério Público, Polícia Federal e ONGs) e d) a falta de conhecimento do assunto da política antropológica por falta dos que Governam o Estado e se isso reforça a apropriação e os estereótipos sobre essas sociedades e de outras minorias.

CAP. 1 - OS KAXINAWA: TERRITORIO E POPULACAO NO ACRE

Este capitulo é apenas uma amostra parcial para o projeto da qualificacao. Disponho aqui apenas dos dados anteriormente citados para uma posterior reflexão, além dos documentos da FUNAI e dos arquivos da CPI. Constitui o período da expansão Kaxinawa que lhe atribui a população indígena mais numerosa do estado do Acre, contando com aproximadamente 4.000 integrantes distribuídos em nove Áreas Indígenas localizadas em diferentes afluentes das bacias dos rios Purus e Juruá (Purus, Envira, Ta¬rauacá, Murú, Humaitá, Jordão) Juruá (Breu). Aldeias Kaxinawa são também encontradas em territ6rio peruano, no alto curso do rio Purus e de seu afluente da margem esquerda, o Curanja. Os Kaxinawa se autodenominam Huni-Kuin, gente verdadeira e falam o Hãtxa Kuin, língua verdadeira, idioma pertencendo a família lingüistica Pano.
Os primeiros contatos dos Kaxinawa com as frentes de expansão extrativistas (da borracha e do caucho), ocorridos nas últimas duas décadas do século passado, foram marcadas por violentas correrias patrocinadas por caucheiros peruanos e por brasileiros proprietários de seringais. Nessa época, a população Kaxinawa espalhava-se por uma vasta faixa territorial, habitando os trechos de terra-fime localizados nos igarapés dos principais afluentes da margem direita do rio Juruá (Envira, Tarauacá, Iboiaçu, Murú, Gregório e Riozinho da Liberdade).
As correrias tiveram como principal objetivo assegurar a mão-de-obra Kaxinawa, além de proporcionar a dizimação e/ou espantar as populações nativas, de forma a permitir o aproveitamento de curtos recursos naturais existentes na floresta (seringa, caucho, peles de fantasia). Os Kaxinawa que permaneceram em território brasileiro foram gradualmente incorporados à empresa seringalista a partir da segunda década do presente século. Além das tradicionais atividades agrícolas, de pesca e de caça, passaram a desempenhar uma série de tarefas necessárias ao funcionamento dos barracões dos seringais (dentre as quais, cortar seringa, abrir e zelar as estradas de seringa, colocar roçados para os patrões, bater campos, transportar borracha e mercadorias). Apesar das várias transformações pelas quais passou a organização interna dos seringais ao longo do século XX, os Kaxinawa permaneceram sempre atrelados ao regime do barracão engendrado pelos patrões seringalistas.
Esta situação permaneceu inalterada até meados da década de 70, quando a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a agência indigenista governamental, identificou e delimitou as primeiras terras indígenas no estado do Acre. Apoiados por entidades indigenistas não -governamentais, as populações Kaxinawa que habitavam vários rios do Acre (assim como outros grupos indígenas do estado) protagonizaram mobilizações que resultaram na efetiva garantia do suas terras, através da retirada dos brancos do interior do suas respectivas áreas de ocupação. Atualmente, a popu1ação Kaxinawa residente em território brasileiro encontra-se distribuída nas Terras Indígenas descritas no quadro abaixo:
a) Distribuição populacional

TERRA INDIGENA HECTARES MUNICIPIO POPULAÇÃO

Colônia 27 105 Tarauacá 150

Igarapé e do caucho 9.540 Tarauacá 330

Praia do carapanã Tarauacá 200

Rio Jordão 87.293 Jordão 1260

Rio Breu 23.840 Taumathurgo 350

Katukina/Kaxinawa 17.750 Feijó, rio Envira/AM 400

Rio Humaitá 127.840 Feijó 400

Nova Olinda 32.150 Feijó 300

Alto Purus 265.000 Santa Rosa e

Manuel Urbano 600

b) Percurso histórico dos Kaxinawa do rio Jordão (reconstrução da historia e das migrações ocorridas no passado/ contato com outras culturas). Características que os distingue dos demais Kaxinawa. Limite territoriais.
Desde o começo do século XIX, exploradores e comerciantes intinerantes vindos de Belém, Manaus e dos centros urbanos localizados ao longo do rio Solimões (Am) subiam o curso do rio Juruá. Durante suas viagens, comercializavam com membros de populações nativas que habitavam nas margens e nas proximidades daquele rio. Trocavam bens industrializados por produtos florestais (salsaparrilha, copaíba, pirarucú, carne de caça, peles, ovos e gordura de tartaruga, castanha e baunilha) que encontravam demanda no mercado regional; procuravam, em alguns casos, escravizar índios, que eram aproveitados durante os trabalhos na floresta e/ou, no caso do muitas mulheres e crianças, vendidas às famílias abastadas dos centros urbanos.
Os exploradores, em sua maioria vindos da região Nordeste do Brasil, passaram a encabeçar expedições que adentravam os altos rios para abrirem seringais nas áreas mais densamente povoadas por árvores do seringais (Hevea brasiliensis). Muitas destas propriedades recém-abertas eram rapidamente vendidas, aproveitando o acelerado crescimento dos preços da terra, cujo valor era medido não em hectares, mas, sim, pela quantidade de colocações e estradas de seringa nelas existentes. Ao longo da década de 1890, foram estabelecidos os primeiros pequenos agrupamentos urbanos (Cruzeiro do Sul e Seabra) no que posteriormente viria a ser território acreano. Nos primeiros anos do presente século, estavam sendo ocupados os seringais abertos nas cabeceiras dos rios Tarauacá, Jordão, Murú, Breu e Envira, localizados em terras fronteiriças com o Peru.

CAP 2 - PERCURSO HISTÓRICO E ECONÔMICA DO RIO JURUA E TARAUACA

Aponto aqui um brve relato da economia da Amazonia e do Acre. A borracha da Amazônia, como já foi igualmente apontado, não resistiria à competição das seringueiras plantadas na Ásia. Com o mercado expandindo devido ao advento do automóvel, o preço da borracha atingiu o pico em 1910, mas veio a cair no mesmo ano. Iniciava-se, assim, a decadência. A produção continuou crescendo, apesar da vertiginosa queda de preço; a exportação só veio a diminuir a partir de 1913. Em 1928, o preço da bocha cairia tanto, que a castanha já a superava como produto de exportação. Sabe-se que a borracha, exportada desde o inicio de século XIX, ganhou, progressivamente, importância ao longo daquela século, na medida em que também aumentava sua importância para a industria mundial(Tocantins, 1982).
Desde as últimas décadas do século XIX, o problema da escassez de mão-de-obra para a ocupação dos seringais foi resolvido através da maciça importação de nordestinos, oriundos do interior cercado pelas fazendas de gado o arrasado pelas secas prolongadas. Segundo cálculos de Paul Le Cointe, diretor do Museu Comercial do Pará, esta migração pode ter envolvido aproximadamente 100.000 pessoas (40.000 no Vale do Juruá 60.000 no Vale do Purus) durante o período do apogeu econômico da borracha no Brasil (1870-1912).
Os Governos Imperial e da Província do Amazonas, bem como as casas-aviadoras de Belém e Manaus possibilitaram o direcionamento do fluxo migratório (composto principalmente por homens solteiros) para os afluentes dos altos dos Acre, Purus e Juruá. A inauguração de linhas regulares de navegação a vapor, ligando Belém e Manaus aos principais rios da região, veio a facilitar o transporte desses indivíduos para o povoamento dos seringais Aquelas mesmas casas-aviadoras se encarregaram, por outro lado, de garantir o abastecimento dos barracões dos patrões com produtos industrializados, bem como o escoamento e a comercialização da produção de borracha.
Também nos últimos anos do século XIX, turmas de caucheiros peruanos adentraram as cabeceiras dos rios Juruá e Purus se deslocando através de varadouros abertos a partir de diferentes afluentes das margens direitas dos rios Ucayalli e Madre de Dios. Entrepostos comerciais (tambos) localizados nesses rios compravam o caucho (Castilloas ellastica), as peles de fantasia, as madeiras-de-lei e outros produtos florestais coletados pelos caucheiros e vendiam-lhes os bens industrializados que aqueles necessitavam para realizar suas expedições. Os produtos comprados dos caucheiros eram repassados pelos administradores dos tambos aos representantes comerciais peruanos, baseados principalmente em Iquitos, junto aos quais comercializavam para abastecerem seus entrepostos.
As atividades de extração desempenhadas pelos caucheiros eram caracterizadas pelos deslocamentos ao longo de grandes faixas territoriais na floresta. Após a identificação dos cauchais, procediam com a derrubada das árvores para a extração de sua seiva. Nestas mesmas empreitadas, os caucheiros aproveitavam para derrubar madeiras-de-lei e para caçar animais cujas peles, após tratadas e curtidas, alcançavam bons preços em terras peruanas.
Esse conjunto de atividades foi desenvolvida até as primeiras décadas do presente século. A partir de então, o progressivo esgotamento dos cauchais, o estabelecimento dos seringais possibilitado pelo maciço fluxo de seringueiros brasileiros, os conflitos entre guarnições militares peruanas e brasileiras no rio Amônia no ano de 1904, as negociações diplomáticas empreendidas pelos Governos destes países para o estabelecimento dos limites fronteiriços, assim como os trabalhos da Comissão Mista Peruano/Brasileira para a colocação dos marcos de fronteira em 1905, contribuíram para o gradual desaparecimento dos caucheiros.
A exploração e a ocupação por brasileiros e por peruanos das extensas áreas de florestas banhadas pelas bacias formadoras dos altos rios Purus e Juruá, desenrolou-se, portanto, a partir das duas últimas décadas do século XIX. A partir deste período, ocorreu a penetração de duas frentes de expansão extrativistas: urna, itinerante e de curta duração, ganhou forma através das atividades dos caucheiros peruanos, que visavam a exploração do caucho (Castilloa allastica) e de outros produtos florestais (peles de animais e madeira-de-lei); outra, maciça e duradoura, constituída por brasileiros que passaram a trabalhar nos seringais abertos nos altos rios incidentes na faixa territorial que viria a constituir posteriormente o Território Federal do Acre.
Os integrantes dessas duas frentes extrativas praticamente cercaram as populações nativas, pertencentes aos troncos lingüísticos Pano e Aruak, que tradicionalmente habitavam as terras firmes e as margens dos igarapés, afluentes dos altos rios. Este período crucial da conquista dos seringais foi marcada por sangrentos enfrentamentos entre os membros dessas populações nativas tanto com os nordestinos quanto com os caucheiros peruanos.
A passagem dos caucheiros pela região do Alto Juruá foi marcada pela violência extrema contra as populações nativas. Nas suas perambulações pela floresta, comumente promovidas nos meses da estação seca (maio a setembro), os caucheiros promoviam correrias contra as populações indígenas, procurando dizimá-las e amedrontar os seus integrantes para forçá-los a abandonar seus locais de moradia. Por outro lado, índios eram capturados e escravizados para desempenharem diferentes tarefas durante as expedições (às vezes até caírem mortos por esgotamento físico e maus-tratos) e/ou para serem vendidos nos tambos e nos centros urbanos mais próximos. Os caucheiros freqüentemente se aproveitavam do tradicionais conflitos inter-etnicos, aliando-se a uma das partes, fornecendo-lhe armamento, munição e outros produtos industrializados para que realizasse correrias e os escravizasse membros das populações derrotadas.

5 - CONSIDERAÇÃO FINAL

Bem, eis o resumo de toda uma história inacabada e que ora, por considerar que a política institucional e a ideologia do indigenismo do Coordenador (Jacó Cesar Piccoli) do Mestrado estão tendenciando os meus estudos, eu rogo aos deuses da Terra que algum dia me façam merecer a defessa desse mestrado.