segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Nacionalismo no Mundo: A teoria do dissenso...

... "No seu livro “Hispano-América contra o Ocidente”, o senhor afirma que um dos fatores que explica porque a civilização e o homem ibero-americanos são diferentes dos ocidentais e da sua atual civilização, é que os europeus que chegaram a América eram ainda medievais e, por tanto, anteriores à “Revolução Mundial”. Em que consistiu esta “Revolução Mundial” e quais as suas consequências até os dias atuais?

Falo de Revolução Mundial no mesmo sentido em que o fizeram Christopher Dawson, Hilaire Belloc, Eric Voegelin, Julio Meinvielle, Walter Schubart – no Brasil quem o fez foi Tristão de Athayde (1893-1983) – e tantos outros pensadores não conformistas. A Revolução Mundial começa com a Reforma e a instauração do primado da consciência, continua com a Revolução Francesa e a substituição da filosofia pela ideologia, segue com a Revolução Bolchevique e seus cem milhões de mortos em setenta anos e termina hoje com o Totalitarismo Democrático e a sua ideia de globalização, onde todas as culturas são intercambiáveis para a construção de um monstruoso one world.

Em sua obra o senhor afirma que o homem Ibero-americano é uma síntese entre o europeu católico e medieval e o indígena telúrico. Entretanto, este processo não é uma simples mistura, de maneira que o resultante desta síntese (o homem ibero-americano) é mais do que a simples soma de seus componentes (europeu e indígena). Poderia nos contar um pouco mais a respeito desta síntese? Quais são as principais características desse homem surgido no continente americano?

Bolívar dizia que não era “nem tão espanhol e nem tão índio” e o mesmo podemos dizer de nós mesmos “nem tão espanhóis ou portugueses e nem tão índios”. É por isso que nós constituímos o verdadeiro e genuíno povo originário da América. Essa originalidade e característica tão própria se expressa nos nossos arquétipos nacionais: o “cholo” na Bolívia e Peru, o “montubio” no Equador, o “huaso” no Chile, o “gaucho” na Argentina, o “llanero” na Colômbia e Venezuela, o “charro” para o México, o “ladino” na Guatemala, o “borinqueño” para Porto Rico e São Domingos, etc. No caso do Brasil, que é um continente, possui vários arquétipos, no sul o gaúcho, no nordeste o sertanejo, no sudeste o caboclo, e vários outros.

Nós somos uma cultura de síntese porque convergem em nós várias culturas. Os antropólogos norte-americanos falam em multiculturalismo para referir-se aos povos ibero-americanos, o que é um erro, porque nós somos, verdadeiramente, um interculturalismo.

O senhor escreveu a respeito da importância dos grandes espaços existentes na América na formação do caráter do homem ibero-americano, distinto do europeu que tem relativamente pouco espaço disponível para a sua civilização. Como a grandiosidade da paisagem americana nos ajudou a ser o que somos hoje?

O imenso, o ilimitado, aquilo que o filósofo pré-socrático Anaximandro denominou “to ápeiron”, marcou para sempre o caráter do homem sul- americano, sobretudo no Brasil e na Argentina. “O pampa, disse Drieu la Rochelle viajando com Jorge Luís Borges, é uma vertigem horizontal” e o sertão “sempre uma impressionante lonjura”.

O fato de não ver os limites fez dele um homem naturaliter livre. A solidão da imensidão fez dele um individualista, não da maneira liberal, mas um individualista fraternal, que sempre se conduziu no trato com o outro tendo como referência a ideia de hospitalidade.

Enquanto os espanhóis e portugueses fizeram a opção por uma colonização integrando os povos nativos da América, os ingleses optaram por exterminar os indígenas do novo continente e substituí-la por uma população branca, anglo-saxã e protestante. Como estas diferentes maneiras de colonizar influenciaram o caráter dos povos das duas Américas? É isso que provoca a eterna vontade dos americanos do norte de submeter todo o mundo ao “american way of life”?

Se fosse verdade que o mundo conhecido, desde o surgimento da escrita, passou por quatro éons, que são os grandes períodos de tempo em que podemos dividir as principais linhas da história, podemos dizer que o homem americano do norte encarna o éon prometeico e o ibero-americano o éon gótico-barroco. O primeiro dirige o seu olhar para a dominação da terra e o segundo o seu olhar para as alturas, que tampouco possuem limites. O homem prometeico é o arrogante titã que se rebelou contra os deuses, o astuto usufrutuário da natureza, por meio do uso do fogo. O homem gótico-barroco nas vastas planícies, sem obstáculos, percebe sua pequenez e impotência. Olha o sublime em silêncio e o atrai. Não vai contra o divino, mas se coloca a seu serviço"...

Para uma leitura completa, aqui...

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