terça-feira, 29 de junho de 2010

Mundo em Transe...

... "Autor de 14 livros sobre sustentabilidade, José Eli da Veiga acredita que uma das travas ao debate claro sobre o ambiente – e portanto, às ações mais eficazes para sua preservação em escala mundial – vem de uma miopia inerente à economia clássica em sua forma de mensurar o crescimento e o bem-estar das nações

É provável que José Eli da Veiga sinta algum desconforto em meio a muitos de seus colegas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde é professor titular e coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental (NESSA). Autor de 14 livros sobre sustentabilidade e também pesquisador associado do Capability and Sustainability Centre da Universidade de Cambridge, Veiga acredita que uma das travas ao debate claro sobre o ambiente – e portanto, às ações mais eficazes para sua preservação em escala mundial – venha de uma miopia inerente à economia clássica em sua forma de mensurar o crescimento e o bem-estar das nações.

O pensamento econômico convencional continua preso à física do século XIX, ele postula, e à mecânica, da qual é oriundo por um sistema de analogias. “A proximidade com a mecânica impediu que o estudo do processo econômico fosse permeado pela atenção às relações biofísicas com seu entorno. Afinal, a metáfora mecânica na economia implica não reconhecer os fluxos de matéria e energia que entram e saem do processo, assim como a diferença qualitativa entre o que entra e o que sai”, escreve.

Embora o livro de Veiga seja dividido em quatro seções – que podem ser lidas isoladamente -, esta parece ser a idéia central de seu trabalho: a de que “instrumentos toscos” de aferição de desenvolvimento sustentável, como PIB e IDH, têm de passar a levar em conta o que é produtivo e o que é destrutivo. Ao não fazer distinções entre despesas que elevem ou rebaixem a condição humana, avalia ele, bem humorado, que o PIB só “passa por indicador de progresso para quem nunca tenha visitado sua cozinha”. O IDH, embora um índice mais avançado, e menos contaminado pelos conceitos do PIB criados a partir da riqueza pós-Segunda Guerra, tem o próprio PIB como um de seus componentes.

O panorama começou a mudar depois que o presidente francês Nicolas Sarkozy convidou dois prêmios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, para que oferecessem uma nova mensuração do desempenho econômico e do progresso social. Os dois montaram uma gigantesca força-tarefa, que se reuniu pela primeira vez em abril de 2008. O trabalho da comissão vem sendo extremamente fecundo em suas colaborações ao debate. Mas, “mesmo que tenham surgido muitas iniciativas de avaliação voltadas para a dimensão ambiental (ou que a incluem)”, escreve Veiga, “elas parecem ter aumentado a confusão, a ponto de existir uma espécie de nevoeiro intelectual sobre a mensuração da sustentabilidade (ambiental, ou do desenvolvimento)”.

A tarefa é certamente hercúlea, mas ela torna provável que em um futuro próximo haja convergência “para uma radical reformulação dos métodos de contabilidade nacional que faça emergir um indicador de progresso material que supere as inúmeras limitações do PIB. O que seria, de resto, uma das principais inovações institucionais do século XXI”.

Nos outros capítulos de seu rigoroso trabalho (de leitura difícil para os não familiarizados com economia), Veiga afirma que já existe uma excessiva pressão humana que não poderá ser aliviada por qualquer redução da intensidade-carbono da economia global. Ainda que não seja óbvia a possibilidade de compatibilizar a exigência de sustentabilidade com o anseio por crescimento. E que a necessidade de superar o crescimento econômico se coloque de forma muito diferente segundo o grau de desenvolvimento atingido.

Sóbrio em meio a catastrofismos ou a visões polianescas da situação do ambiente, Veiga adverte: “Os sinais que estão sendo emitidos pela comunidade internacional desautorizam a escolha de qualquer cenário otimista”.

É provável que José Eli da Veiga sinta algum desconforto em meio a muitos de seus colegas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde é professor titular e coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental (NESSA). Autor de 14 livros sobre sustentabilidade e também pesquisador associado do Capability and Sustainability Centre da Universidade de Cambridge, Veiga acredita que uma das travas ao debate claro sobre o ambiente – e portanto, às ações mais eficazes para sua preservação em escala mundial – venha de uma miopia inerente à economia clássica em sua forma de mensurar o crescimento e o bem-estar das nações.

O pensamento econômico convencional continua preso à física do século XIX, ele postula, e à mecânica, da qual é oriundo por um sistema de analogias. “A proximidade com a mecânica impediu que o estudo do processo econômico fosse permeado pela atenção às relações biofísicas com seu entorno. Afinal, a metáfora mecânica na economia implica não reconhecer os fluxos de matéria e energia que entram e saem do processo, assim como a diferença qualitativa entre o que entra e o que sai”, escreve.

Embora o livro de Veiga seja dividido em quatro seções – que podem ser lidas isoladamente -, esta parece ser a idéia central de seu trabalho: a de que “instrumentos toscos” de aferição de desenvolvimento sustentável, como PIB e IDH, têm de passar a levar em conta o que é produtivo e o que é destrutivo. Ao não fazer distinções entre despesas que elevem ou rebaixem a condição humana, avalia ele, bem humorado, que o PIB só “passa por indicador de progresso para quem nunca tenha visitado sua cozinha”. O IDH, embora um índice mais avançado, e menos contaminado pelos conceitos do PIB criados a partir da riqueza pós-Segunda Guerra, tem o próprio PIB como um de seus componentes.

O panorama começou a mudar depois que o presidente francês Nicolas Sarkozy convidou dois prêmios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, para que oferecessem uma nova mensuração do desempenho econômico e do progresso social. Os dois montaram uma gigantesca força-tarefa, que se reuniu pela primeira vez em abril de 2008. O trabalho da comissão vem sendo extremamente fecundo em suas colaborações ao debate. Mas, “mesmo que tenham surgido muitas iniciativas de avaliação voltadas para a dimensão ambiental (ou que a incluem)”, escreve Veiga, “elas parecem ter aumentado a confusão, a ponto de existir uma espécie de nevoeiro intelectual sobre a mensuração da sustentabilidade (ambiental, ou do desenvolvimento)”.

A tarefa é certamente hercúlea, mas ela torna provável que em um futuro próximo haja convergência “para uma radical reformulação dos métodos de contabilidade nacional que faça emergir um indicador de progresso material que supere as inúmeras limitações do PIB. O que seria, de resto, uma das principais inovações institucionais do século XXI”.

Nos outros capítulos de seu rigoroso trabalho (de leitura difícil para os não familiarizados com economia), Veiga afirma que já existe uma excessiva pressão humana que não poderá ser aliviada por qualquer redução da intensidade-carbono da economia global. Ainda que não seja óbvia a possibilidade de compatibilizar a exigência de sustentabilidade com o anseio por crescimento. E que a necessidade de superar o crescimento econômico se coloque de forma muito diferente segundo o grau de desenvolvimento atingido.

Sóbrio em meio a catastrofismos ou a visões polianescas da situação do ambiente, Veiga adverte: “Os sinais que estão sendo emitidos pela comunidade internacional desautorizam a escolha de qualquer cenário otimista”.
Por José Eduardo Mendonça

Planeta Sustentável – 12/01/2009
Fonte: Planeta Sustentável

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